Governo japonês divulga planos para libertar águas contaminadas de Fukushima

29 dez 2021, 05:40
Fukushima

Dez anos depois do acidente com a central nuclear, a vida vai voltando ao normal. Alguns antigos habitantes da região voltaram a passar a noite em casa; o governo japonês apresentou planos para toneladas de água radioativa

 

Aos poucos, mais de uma década depois, Fukushima vai dando passos no sentido de voltar a fazer parte do mundo dos vivos. Na região afetada pelo acidente com a central nuclear, após o grande terramoto e tsunami de março de 2011, começa a haver sinais de regresso à normalidade. Não em toda a região, mas nalguns locais mais distantes da central, que estavam interditos há dez anos mas começam a reabrir portas.

É o caso de Katsurao, uma vila da prefeitura de Fukushima, que durante a última década esteve incluída na zona de exclusão devidos aos elevados níveis de radiação registados após o incidente com o reator nº1. Alguns antigos habitantes da vila puderam, pela primeira vez, voltar a pernoitar nas suas casas. Aconteceu no final de novembro, mas só agora a informação foi divulgada.

Desde há dois anos, os antigos habitantes de Katsurao foram autorizados a regressar às suas habitações por breves períodos - nunca mais do que duas horas de cada vez. Foi  a oportunidade para muitos começarem a preparar as suas casas para um eventual regresso, com trabalhos de limpeza e pequenas obras de restauro, no caso das habitações que não sofreram dados sérios.

No final do mês passado, pela primeira vez, alguns foram autorizados a passar a noite nas suas antigas casas. É mais um passo para o regresso definitivo de algumas famílias à vila que, durante dez anos, se tornou território fantasma.

O governo japonês já anunciou que nalgumas áreas da zona de exclusão radioativa a vida irá aos poucos voltar à normalidade a partir da próxima primavera. É o caso de  Katsurao e outras seis localidades da prefeitura de Fukushima, agora classificadas como “região de reconstrução”. São as localidades onde os habitantes puderam voltar às suas casas, duas horas de cada vez, nos últimos anos, e agora voltaram a poder passar uma noite em casa. 

Em Katsurao, estão registadas trinta casas, com 83 residentes, e todos mostraram o desejo de voltar à sua “terra” - porém, nem todos poderão regressar de imediato. Algumas habitações foram desmanteladas, devido ao estrago sofrido com o terramoto, o maremoto que se seguiu, e a falta de manutenção nos anos subsequentes.  

Toda a região escolhida para a reabertura foi alvo de grandes trabalhos de recuperação.

 

1 milhão de toneladas de água contaminada… para o mar

 

Para além do regresso dos habitantes a algumas partes do território evacuado há dez anos, o Governo do Japão divulgou esta semana os planos para uma operação complexa e polémica: a libertação das águas contaminadas que estão encerradas na usina desde o incidente com o reator nº1.

Está em causa mais de 1 milhão de toneladas de água radioativa, que o executivo japonês tenciona tratar e diluir, antes de libertar no oceano, a partir da primavera de 2023. A água contaminada que se acumulou ao longo dos anos no local está armazenada em enormes tanques, com um custo anual estimado em cerca de 100 mil milhões de ienes (cerca de 800 milhões de euros).

O governo de Tóquio já havia informado o mundo da intenção de descartar essas águas, numa comunicação feita em abril, por altura do décimo aniversário do acidente com a central nuclear. O anúncio provocou enorme preocupação junto dos pescadores que trabalham naquelas águas territoriais, e foi recebido com grandes objeções dos governos da Coreia do Sul e da China.

Agora, há mais detalhes sobre o plano que o governo traçou. A ideia é libertar as águas contaminadas de forma muito lenta, ao longo de bastante tempo, em alto mar, construindo para isso um túnel subaquático. Antes de ser descartada, a água será tratada e diluída.

Para além desta operação, conduzida pela Tokyo Electric Power Company Holdings Inc., que explorava a central de Fukushima, o Governo apresentou um pacote de medidas compensatórias para a economia local, e um plano de transparência e monitorização da qualidade das águas, em colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica. Em abril, o Japão pediu à AIEA uma revisão dos dados sobre qualidade das águas no local, e aconselhamento sobre a melhor forma de descartar a enorme quantidade que está armazenada. A AIEA também deverá trabalhar na divulgação internacional desses dados.

A qualidade das águas da região de Fukushima começará a ser analisada e reportada a nível nacional e internacional, e haverá um fundo de compensação para ressarcir as indústrias locais (como pesca, turismo e agricultura) de danos reputacionais relacionados com a qualidade das águas. O fundo também servirá para a compra e congelamento de pescado e derivados, caso os operadores locais tenham dificuldade em escoar esses produtos no mercado.

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