"Claro que é divertido ter conseguido chegar lá fora". Jani Zhao integra o elenco da produção norte-americana “Aquaman e o Reino Perdido”

Agência Lusa , AM
27 nov 2023, 11:19
Jani Zhao (JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA)

Atriz portuguesa interpreta o papel de Stingray, uma personagem que existe na banda desenhada e sobre a qual pouco pode adiantar antes da estreia, por questões de confidencialidade

O filme “Aquaman e o Reino Perdido”, que se estreia em dezembro, é a entrada de Jani Zhao em Hollywood e para a atriz portuguesa a representação é um ato político: “Sou portuguesa, mas também sou outras coisas”.

“Claro que é divertido ter conseguido chegar lá fora, estar em Hollywood, começar aqui uma carreira internacional, mas para mim, sobretudo, são os passos concretos nesta luta, nesta missão de que podemos ser diversas coisas e de começar a convocar as pessoas para criar outras narrativas. Eu acho que isso é importante, ir lá, ao lugar do outro”, afirmou a atriz em entrevista à agência Lusa.

Jani Zhao, de 31 anos, integra o elenco da produção norte-americana “Aquaman e o Reino Perdido”, de James Wan, que chega aos cinemas a 21 de dezembro, sendo a sua estreia internacional numa carreira na representação iniciada há mais de 15 anos.

Segundo Jani Zhao, a participação no filme surge depois de ter estado em 2017 no programa português “Passaporte”, que põe em contacto talentos da representação com diretores de ‘casting’.

A rodagem desta produção da DC Comics aconteceu em 2021 no Reino Unido e nos Estados Unidos, e Jani Zhao interpreta o papel de Stingray, uma personagem que existe na banda desenhada – tal como Aquaman – e sobre a qual pouco pode adiantar antes da estreia, por questões de confidencialidade.

“Não posso dizer com quem contracenei, porque não vão perceber tudo já imediatamente. […] Eu diria que [Stingray] é uma figura assim muito intimidante”, disse Jani Zhao.

Sobre a experiência, para lá do contacto com uma produção estrangeira e da remuneração – “pagaram muito bem” -, a atriz diz que deu mais um passo numa missão pessoal sobre aquilo que representa e o tipo de narrativas que defende.

“Até hoje, apesar de já ter uma carreira bastante sólida em Portugal, eu sou sempre vista como uma estrangeira. Isto porque a mentalidade [portuguesa] ainda está em reconstrução, os anos da ditadura ainda se sentem muito na sociedade, os ‘brandos costumes’. E, de facto, os anos todos de colonialismo ainda estão muito intrínsecos na cultura portuguesa. E isso sente-se. Eu, que sou portuguesa tanto como tu, não sou considerada portuguesa aos olhos de muitos portugueses”, lamentou.

Jani Zhao nasceu em Leiria, de pais chineses emigrados em Portugal. Estudou dança com a companhia de Olga Roriz e teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais, de Carlos Avilez. Além de trabalhos em moda, o currículo conta com várias participações em teatro, cinema e televisão.

Alguns dos papéis que interpretou no início da carreira eram de personagens asiáticas. Foi a Sandra Chung numa temporada da série “Morangos com açúcar”, Susana Wang na telenovela “Jogo Duplo”, ou Chung Li no filme “Cabaret Maxime”, de Bruno de Almeida.

“Até há muito pouco tempo, eu tinha de ter uma justificação para existir. A minha personagem tinha de ter toda uma história inventada que justificasse a minha existência. E, neste momento, aquilo que eu procuro é que, de facto, isso não tenha de acontecer”, esclareceu Jani Zhao.

E o nome é o princípio de qualquer coisa: Em 2019 interpretou Alice, na série policial “Sul”, de Edgar Medina e Ivo M. Ferreira, em 2021 foi Júlia Andorinho na série “Capitães do Açúcar”, de Ricardo Leite, e acabou de rodar a série “O Americano”, também de Ivo M. Ferreira, no papel de Felicidade.

“O que é que são estes projetos que fiz e que vou fazer e que têm uma grande importância no trajeto? A minha fisionomia não ser relevante para as personagens que estou a encarnar. Não é de todo relevante”, resumiu.

A atriz quer estar em projetos que promovam outras narrativas, que representem a luta das minorias, que representem a diversidade da sociedade, porque tudo é “um ato político”.

“É importante trazer também para o cinema português, para a ficção portuguesa, para o audiovisual português, porque essas pessoas fazem parte da sociedade portuguesa. E é isso que procuro. Procuro trabalhos com condições justas. E com pessoas… com boa gente”, disse.

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