Pode haver em Brasília uma repetição do ataque ao Capitólio?

1 jan 2023, 08:05

Uma especialista destaca a proximidade das forças policiais a Jair Bolsonaro. “Não será fácil contornar uma crise de caráter civil”

O mundo assistiu em choque aos eventos do dia 6 de janeiro de 2021, quando milhares de apoiantes de Donald Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir a contagem dos votos do colégio eleitoral dos Estados Unidos, ato que validaria o resultado das presidenciais de 2020.

Quase três anos volvidos, o ambiente em Washington D.C arrefeceu, mas, no Hemisfério Sul, outra capital vive momentos quentes com a tomada de posse de Lula da Silva, marcada para este domingo. Poderá acontecer em Brasília o mesmo que aconteceu no Capitólio? Para Amanda Lima, comentadora da CNN Portugal, este cenário é pouco provável.

“Pode haver vontade de fazer um ‘Capitólio Tupiniquim’ [uma invasão ‘à brasileira], mas, por sorte, os bolsonaristas não são tão habilidosos para realizar algo do tipo”, considera. No entanto, não descarta a possibilidade de que ocorram “atos violentos” na capital, o que, de resto, já aconteceu.

Na noite do dia 12 de dezembro, centenas de apoiantes de Bolsonaro tentaram invadir a sede da Polícia Federal, e acabaram por entrar em confrontos com a Polícia Militar. Durante os protestos, os manifestantes acabaram por incendiar cinco autocarros e três outras viaturas. O momento de maior sobressalto deu-se na véspera de Natal, quando um homem de 54 anos foi detido na capital, acusado de tentar detonar um explosivo nos arredores do aeroporto da cidade. Num apartamento onde o suspeito, George Washington de Oliveira Sousa, supostamente residia, foram encontrados outros cinco explosivos, confirmou o delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Robson Candido.

Tumultos de dia 12 de dezembro em Brasília (AP)

Estes atos levaram as autoridades a tomar medidas excecionais. O Ministério da Justiça autorizou o destacamento de membros da Força Nacional para a tomada de posse. Esta terça-feira, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, anunciou que todo o efetivo de polícias civis e militares da região da capital vai ser mobilizado para o evento. Já na quarta-feira, dia 29, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o porte de armas em Brasília até esta segunda-feira. O magistrado Alexandre de Moraes justificou a decisão de acatar o pedido judicial feito pela equipa do futuro presidente brasileiro, citando vários eventos ocorridos nas últimas duas semanas na capital realizados por apoiantes de Bolsonaro, que ainda não reconheceu a derrota nas urnas em outubro passado.

No entanto, Sabrina Medeiros, professora de Relações Internacionais, afirma que até este dispositivo pode não ser suficiente. “Uma parte de polícia está com Bolsonaro. Não será fácil contornar uma crise de caráter civil”, perspetiva. No dia da segunda volta das presidenciais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acusada de impedir a circulação de autocarros dirigidos às mesas de voto no Nordeste, região fortemente apoiante de Lula da Silva. A decisão de bloquear as estradas contrariou diretamente as ordens do Tribunal Superior Eleitoral, que proibiu qualquer operação da PRF contra veículos de transporte público de eleitores.

“Não há nenhuma garantia de que não possa haver tumultos e uso de violência. É preciso que a Justiça aja muito rapidamente, convocando as polícias a responder de forma efetiva e imediata. Quando vimos isso acontecer no Distrito Federal, foi preciso o Supremo Tribunal Federal requerer explicações à polícia local sobre o porquê de não atuado a tempo”, explica Sabrina Medeiros.

A operação de segurança da tomada de posse está já em marcha. No Twitter, Flávio Dino, ministro da Justiça a partir deste domingo, já assegurou que o evento vai decorrer sem sobressaltos.

Amanda Lima vai nos mesmo sentido. “Espero que seja um dia pacífico e de vitória da democracia e não da violência”

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