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Radiologista Hospital da Luz Aveiro, Grupo Dr. Pinto Leite, Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave

“O sector privado paga incomparavelmente melhor do que o público. Em radiologia falamos de um valor que facilmente chega seis vezes ao oferecido pelo SNS”

20 out 2023, 15:10

Médico, 39 anos, relata o que o levou a mudar do setor público para o privado

Pouco mais de seis meses após o término da especialidade optei pela saída do SNS, estávamos em novembro de 2015.

Esta decisão, bem ponderada, assentou em três pontos essenciais.

Tempo: os médicos não se limitam a trabalhar o dito horário regular. Não negando que tem alguns dias por ano para congressos e ações formativas, todo o tempo que passam a atualizar-se simplesmente não é contabilizado. A isto acrescem obrigatoriamente 150 horas extraordinárias. À data, querem aumentar substancialmente este número de horas. É tempo retirado à família, ás horas de sono e lazer. Quando saí para o privado, consegui ser dono do meu tempo. Trabalho as horas que quero, quando quero e posso ser um pai presente.

Dinheiro: o sector privado paga incomparavelmente melhor do que o sector público na Medicina. Na minha especialidade (Radiologia) falamos de um valor que facilmente chega seis vezes ao oferecido pelo SNS. Sem trabalho aos sábados, domingos ou necessidade de noitadas. Aos valores pagos atualmente à classe médica, receberia cerca de 1700 euros líquidos no SNS, o mesmo que muitas pessoas indiferenciadas recebem e sem pagar os devidos impostos. Teria de ser suficiente para pagar casa, escola de três filhos e todas as outras despesas que todos tem. Ainda tentei a escola pública um ano, mas com tantas greves e outros problemas, tornou-se inviável.

Alguém pensou em equiparar-nos aos juízes em termos salariais com a dedicação plena? Os médicos não salvam ninguém da prisão, mas podem salvar vidas, se é que isso tem valor.

Respeito: A população não respeita mais os médicos. A campanha de descredibilização da classe médica é diária. Falam agora de um aumento de 30% para os médicos, mas na verdade é um chorrilho de mentiras e propaganda. Deviam explicar aos doentes que não é um aumento quando está associado ao incremento do trabalho e incluiu, entre outros incentivos, a não prescrição de exames. Simplesmente imoral e antiético. Nota de culpa neste item para a Ordem dos Médicos e sindicatos que nunca foram capazes de explicar isto e outros pontos de forma a que toda a população entenda.

Em suma, optei por ser dono do meu tempo e com folga financeira.

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