Itália tentou proteger a sua imagem no início da pandemia - e pensou "explorar" a hipótese de o primeiro caso ter surgido na Alemanha

CNN Portugal , MJC
9 mar 2023, 18:10
Covid-19 em Itália

Mensagens de whatsApp entre governantes e responsáveis de saúde mostram como os líderes brincavam com o papel da Itália na propagação do vírus. Procuradores públicos estão a investigar como a atuação das autoridades quando surgiram os primeiros casos de covid-19 pode ter contribuído para o agravamento da situação

As mensagens de WhatsApp trocadas entre políticos italianos e altos funcionários da saúde no início da pandemia de covid-19 revelam como os líderes tentaram proteger a imagem do país quando este se tornou o primeiro na Europa a registar casos da doença, ao mesmo tempo que brincavam sobre o papel da Itália na propagação do vírus.

Segundo o jornal The Guardian, estas mensagens que agora foram conhecidas, fazem parte de um inquérito que levou os procuradores a colocar o ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, o ex-ministro da saúde Roberto Speranza e 17 outros funcionários sob investigação por suspeita de “epidemia culposa agravada” e homicídio culposo devido à resposta do governo no início do pandemia.

Itália foi o primeiro país europeu a ser afetado por um grande surto do vírus, com o primeiro caso transmitido localmente confirmado em Codogno, no sul da Lombardia, em 21 de fevereiro de 2020. Vários outros países europeus relataram posteriormente os seus primeiros casos de coronavírus, todos com ligações aparentes ao surto que aumentava em Itália.

No entanto, numa mensagem de WhatsApp escrita em 5 de março de 2020, Speranza dizia a um colega que deviam “explorar” um relatório que afirmava que o primeiro caso de coronavírus da Europa tinha sido detetado na Alemanha para proteger a imagem de Itália.

No dia seguinte, Giuseppe Ruocco, que na altura era secretário-geral do Ministério da Saúde e está entre os suspeitos, apareceu a gozar dos casos detetados na Europa entre viajantes que voltavam da Itália. “Hoje demos dois casos de covid à Áustria, um à França e um a Espanha… e talvez à Alemanha”, escreveu.

A investigação, iniciada por procuradores de Bergamo, a província da Lombardia mais atingida durante a primeira onda da pandemia, e requerida por familiares das vítimas de covid-19, centra-se na alegada falha das autoridades em tomar medidas adequadas para impedir a propagação do vírus, colocando em quarentena as cidades de Alzano Lombardo e Nembro quando os surtos ali ocorreram dois dias depois de confirmado o caso de Codogno.

Enquanto a covid-19 se espalhava rapidamente e as autoridades regionais e nacionais discutiam a possibilidade de colocar em quarentena a região da Lombardia, uma troca de mensagens no WhatsApp entre os responsáveis regionais de saúde Aida Andreassi e Marco Salmoiraghi mostra uma tentativa de ocultar a verdade sobre a gravidade da situação. "'Sabes o que o presidente [da Lombardia] disse?'", perguntou Andreassi. “'Que eu não podia dizer a verdade. Eu respondi: 'Bem, então é como se estivéssemos na China'. E ele respondeu que somos piores do que a China, pelo menos lá existe uma ditadura."

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