Este casal mudou-se para Itália e começou um negócio do zero. Hoje são eles quem muda a vida de outras pessoas e das próprias aldeias onde trabalham
Comprar e renovar uma casa num país diferente é uma decisão que poria à prova qualquer relação.
Mas este casal, que vivia anteriormente em San Jose, na Califórnia, comprou uma casa em ruínas numa pitoresca cidade italiana com a esperança de salvar o seu casamento.
Christina e Pete Sobolev, ambos na casa dos 60 anos, compraram uma ruína na aldeia de Santa Domenica Talao, no topo de uma colina, perto de Scalea, na Calábria, uma região do sul de Itália repleta de cidades despovoadas, em 2011, depois de verem um anúncio na internet.
Agora, o casal, casado há 35 anos, está a trabalhar em conjunto para ajudar a reavivar as aldeias italianas em vias de extinção, atraindo novos residentes que querem viver la dolce vita.
A tábua de salvação do casamento?
"Há pouco mais de 15 anos, o Pete e eu tomámos a decisão de comprar uma propriedade em Itália", conta Christina Sobolev à CNN.
"A nossa vida na Califórnia era ótima, mas à medida que falava com amigos que estavam na mesma fase da vida, com os filhos crescidos e a começar a viver por conta própria, reparei num padrão perturbador.”
"Muitos desses casais estavam a divorciar-se."
Christina Sobolev sentiu que ela e o marido precisavam de um objetivo comum para se "manter unidos e entusiasmados com a vida".
"Foi então que surgiu o plano de comprar uma casa noutro país, com outra língua, outra cultura e uma visão completamente diferente da vida", acrescenta.
Mudaram-se então para Santa Domenica Talao, uma aldeia que tinham visitado pela primeira vez em 2009 e passaram três a quatro anos a renovar a casa de dois quartos.
Em 2015, o casal criou a sua própria empresa, a Super Savvy Travelers, que começou por ser uma agência de viagens e acabou por se transformar num serviço que oferece pacotes para quem quer comprar propriedades na região.
Os Sobolevs, que já passavam grande parte do ano em Itália, optaram por fazer da Calábria a sua base permanente em 2021.
Dizem que a pandemia da Covid-19 foi um fator importante na sua decisão.
Christina Sobolev, que anteriormente trabalhava como professora de música, estava a vender cruzeiros pouco antes do surto global de coronavírus no início de 2020.
"Embora vender cruzeiros fosse divertido, não era um grande objetivo de vida para mim. Quando a pandemia se instalou, toda essa indústria fechou durante anos", lembra, explicando que ela e o marido tinham ambos licenças imobiliárias quando estavam na Califórnia e tinham experiência na compra e renovação de casas.
"Nessa altura, tive de mudar de rumo e, depois de analisar os nossos interesses e as nossas competências, o envolvimento em propriedades italianas foi uma escolha natural."
Christina Sobolev e o marido trabalham agora em conjunto, comprando casas abandonadas em aldeias vizinhas, remodelando-as e alugando-as ou vendendo-as a estrangeiros, na sua maioria americanos, que escolheram instalar-se na Calábria.
Projeto de paixão
Ao longo dos anos, os norte-americanos desenvolveram uma forte rede de agentes imobiliários, especialistas em relocalização, tradutores, arquitetos, engenheiros e construtores na zona.
Os Sobolevs já venderam apartamentos e casas em toda a Scalea e em toda a zona imaculada da Riviera dei Cedri, mas Santa Domenica Talao, que tem uma população estimada em cerca de 1.200 pessoas, é a sua maior história de sucesso até à data.
Trabalhando com especialistas para ajudar a fornecer "realmente tudo o que alguém precisa para se lançar de paraquedas e assumir a renovação de uma casa abandonada", facilitaram a venda e a renovação de aproximadamente 35 casas na aldeia, criando uma grande comunidade de imigrantes.
"Santa Domenica era inicialmente uma vila com muitas casas abandonadas e em mau estado de conservação. Agora, tem uma comunidade de estrangeiros vibrante que foi calorosamente acolhida nos braços e nos corações dos habitantes locais, criando uma bela experiência e salvando uma deslumbrante cidade nas colinas."
Embora os preços das casas antigas na zona tenham aumentado nos últimos anos, existem atualmente ruínas à venda por apenas de 10.000 euros a 15.000 euros, enquanto as casas de dois quartos e uma casa de banho, prontas a habitar, começam nos 50.000 euros.
"Assim que Santa Domenica Talao começou a funcionar, os agentes imobiliários da zona contactaram-nos e quiseram trabalhar connosco. Foi assim que nos alargámos a toda a Riviera dei Cedri à Apúlia e agora à Toscana", diz Christina.
Em março, os Sobolevs abriram o seu primeiro hotel boutique, a Casa Cristina, uma antiga escola de aldeia, que renovaram em profundidade.
Pagaram 75.000 euros pelo B&B de 200 metros quadrados, enquanto as obras de renovação, que incluíram acabamentos de alta qualidade, casas de banho privadas e aquecimento e arrefecimento de última geração, ficaram em cerca de 140.000 euros.
De acordo com o casal, a infame burocracia italiana foi um dos principais obstáculos que enfrentaram durante os seus projetos.
Mas descobriram que "se tivermos os profissionais certos, que sabem como ultrapassar os desafios e que são honestos, éticos e fazem tudo bem à primeira, as coisas correm bastante bem", assegura Christina Sobolev.
Também se depararam com a questão de registos pouco claros no que diz respeito à posse de algumas propriedades.
"Há aqui situações que nunca veríamos nos EUA, incluindo escrituras que consistem em direitos de posse.”
"Escrituras que são simplesmente uma carta de uma tia a dar o direito a um sobrinho. Escrituras de ‘boca em boca’ que não significam nada e depois toda uma série de outras questões, como obras não autorizadas e agentes imobiliários pouco éticos e ilegais. Tem sido uma verdadeira panóplia de problemas", conta Christina.
Comunidade próspera
Para além de terem construído um negócio de sucesso, os Sobolevs dizem estar entusiasmados por terem ajudado a criar uma comunidade próspera ítalo-americana no sul da Calábria.
O casal está também envolvido na organização e financiamento de festivais da aldeia, aulas de culinária, visitas guiadas e provas gastronómicas.
De acordo com Christina, a maioria dos que optaram por comprar casa na zona estão a aproximar-se da reforma e querem viver no local “a tempo inteiro” ou estar no mesmo “pelo menos seis meses por ano”.
Christina explica que, como o marido, que é metade letão e metade checo, tem cidadania letã, o processo de obtenção de visto foi mais simples para ele, uma vez que tanto Itália como a Letónia fazem parte da União Europeia.
"Para mim, é muito mais complicado. Tenho de obter aquilo a que se chama um cartão de imigrante e há todo o tipo de documentação e apólices e tudo o mais que tenho de obter e apresentar", acrescenta a norte-americana.
No final do ano passado, o casal expandiu o modelo de negócio que teve tanto sucesso em Santa Domenica Talao, aplicando-o a algumas das aldeias vizinhas com populações cada vez mais reduzidas.
"Apesar da sua beleza requintada, estes locais estão a começar a ficar abandonados porque os jovens têm de encontrar trabalho noutros locais. O nosso objetivo é criar oportunidades suficientes em cada uma destas aldeias para permitir que as crianças fiquem perto das suas famílias e encontrem trabalho", explica Christina.
O casal espera também revitalizar as localidades vizinhas de Aieta, Papasidero e Tortora - desconhecidas até pela maioria dos italianos - ajudando a atrair novos residentes e a preencher algumas das casas abandonadas na zona.
Agora, o casal está instalado na Calábria e Christina tem o prazer de dizer que a sua mudança para salvar o casamento "resultou mesmo".
"Com o nosso negócio e os objetivos que temos ao trabalhar com as comunidades daqui, temos alguns projetos realmente grandes em que estamos a trabalhar juntos como casal e como co-empresários.
"Estamos definitivamente felizes aqui", garante.