Depois dos ataques com “pagers” e walkie-talkies que Israel ainda não reconheceu, um novo bombardeamento no Líbano, esta sexta-feira, causou a morte a 37 pessoas (e fez 68 feridos), entre os quais diversos comandantes e o chefe da unidade Radwan, Ibrahim Aqil. Israel não quer um aumento da escalada de violência na região, mas assegura que é só o começo de “nova fase” de ataques contra o Hezbollah. O Hezbollah, por sua vez, é taxativo: “Israel pagará um preço elevado”
O clima de tensão no Médio Oriente ganhou na noite de sexta-feira contornos que certamente agudizarão o conflito na região, isto após Israel ter bombardeado um bairro residencial no sul de Beirute, capital do Líbano, causando até ao momento 37 mortes e 68 feridos. Entre os mortos surge o chefe da unidade Radwan — forças especiais do grupo xiita Hezbollah —, Ibrahim Aqil, bem como de dois comandantes desse mesmo grupo, Abu Yasser Atar e Al Hajj Nineveh.
As mortes foram já confirmadas pelo próprio Hezbollah, que promete vingar as perdas dos “mártires”, garantindo que Israel “pagará um preço elevado” e que irá ser “engolida”. O assassinato de Ibrahim Aqil ocorre menos de dois meses depois de um outro atentado atribuído a Israel (também num edifício em Beirute) ter matado o principal comandante militar do Hezbollah, Fouad Chokr.
Mas nem só o Hezbollah prometeu retaliar, direta ou indiretamente, contra Israel. Horas após este ataque, o Irão organizou uma grande parada militar em Teerão, onde marcaram presença as maiores figuras políticas e militares do país, entre as quais o Presidente Masud Pezeshkian, o Comandante-Chefe do Exército e o Comandante-Chefe da Guarda Revolucionária, tendo, por ocasião da chamada “Semana Sagrada da Defesa” — que assinala o dia em que o regime de Saddam Hussein lançou uma guerra contra o Irão —, apresentado um novo míssil de longo alcance, denominado “Jihad” e de fabrico iraniano. Também foram exibidos os novos drones “Shahed”, concebidos para atacar alvos terrestres à distância
O líder supremo iraniano, o Ayatollah Khamenei, acusou entretanto Israel, "um tumor cancerígeno maligno do coração da comunidade islâmica", de ter na sexta-feira cometido “crimes vergonhosos” contra crianças — e não só contra combatentes. O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, confirmou, sem precisar, a morte de crianças no total das 31 mortes por agora contabilizadas.
“O primeiro passo na unidade do mundo islâmico contra este grupo criminoso e terrorista [Israel] que ataca a Palestina e que usurpou o território palestiniano é que os países islâmicos cortem completamente as suas relações”, apelou também Khamenei.
Israel, por sua vez, garante que somente visou uma reunião da força de elite do Hezbollah, assegurando o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, que os inimigos do país “não têm onde se esconder” — recusando qualquer violação flagrante da integridade territorial. Gallant afirmou também que o ataque de sexta-feira está inserido numa “nova fase” de operações especiais contra o Hezbollah para “garantir o regresso seguro das comunidades do norte de Israel às suas casas”, uma vez que, afirma o ministro, são alvo de ataques diários com rockets.
Os ataques do Hezbollah têm como fundamento um apoio ao grupo extremista palestiniano Hamas, que enfrenta uma ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza há quase um ano. Só na sexta-feira pelo menos 44 palestinianos, incluindo mulheres e crianças, foram mortos em bombardeamentos israelitas em toda a Faixa de Gaza.
Se a reação de Yoav Gallant foi belicista, a do embaixador israelita na ONU — à entrada do Conselho de Segurança —, Danny Danon, foi de vangloriamento, nomeadamente por Israel ter consegui matar “um dos homens mais procurados do mundo”, Ibrahim Aqil, que o embaixador recordou ser responsável por um atentado à bomba em 1983 contra a embaixada dos Estados Unidos em Beirute, “que matou 83 norte-americanos”, além de recaírem sobre Aqil culpas “no assassinato de centenas de israelitas”.
Faltava ouvir, claro, Benjamin Netanyahu, reagindo o primeiro-ministro de Israel com uma garantia: o país fez um “bombardeamento seletivo” e com um “objetivo claro”, matar os chefes da unidade Radwan. A declaração de Netanyahu foi brevíssima e divulgada pelo seu gabinete na rede social X (antigo Twitter), mas acabaria por vir a ser completada pelo porta-voz do Exército, Daniel Hagari. Hagari diz que Israel “não pretende uma ampla escalada militar na região”, tendo o ataque visado somente “eliminar cerca de dez comandantes do Hezbollah”.
Uma escalada que dura há muito e teve já esta semana um contorno inusitado: terça e quarta-feira ocorreram no Líbano explosões com “pagers” e walkie-talkies armadilhados, ataques pelos quais Israel nega ser responsável, embora o chefe da diplomacia libanesa, Abdallah Bou Habib, tenha anunciado a apresentação de uma queixa ao Conselho de Segurança da ONU na sequência da "agressão ciberterrorista israelita, que constitui um crime de guerra". Ao todo, 37 pessoas morreram e 2.931 ficaram feridas, a grande maioria civis.