Miguel Sousa Tavares acredita que nem Israel nem o Hamas estão realmente interessados na paz e admite ter dúvidas quanto à concretização do plano de paz proposto por Donald Trump e aceite por ambas as partes
Miguel Sousa Tavares assume que o presidente norte-americano, Donald Trump, “foi decisivo” para se chegar a um acordo entre Israel e o Hamas, embora não acredite que nenhuma das partes deseje realmente o fim da contenda.
Na 5.ª Coluna, o seu habitual espaço de comentário no Jornal Nacional, Miguel Sousa Tavares considera que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, cometeu "um erro estratégico terrível” que fez Trump “perder a paciência” e pressioná-lo para aceitar o plano de paz por si proposto, ao bombardear Doha, no Catar, com o objetivo de eliminar a liderança do Hamas.
Certo é que, na noite de quarta-feira, as duas partes chegaram a um acordo para a primeira fase do plano de paz proposto por Donald Trump, sobre a libertação de reféns e de prisioneiros palestinianos, bem como a retirada das tropas das Forças da Defesa de Israel (IDF).
“Há coisas neste acordo que são muito complicadas”, desde logo o conceito de terrorista, que “vai variar entre Israel, EUA e o próprio Hamas”, assume o comentador. Além disso, acrescenta, o futuro da Cisjordânia é “um dos pontos omissos neste plano”. “Não há uma palavra sobre se vai continuar a haver colonatos ilegais na Cisjordânia, se alguns vão ser desmantelados, se vai haver um Estado palestiniano, como é que os palestinianos se vão governar”, enumera.
Resta saber também qual será o futuro de Gaza, aponta o comentador, que acredita que os países do Golfo, como Catar, Egito e Arábia Saudita, “podem ser uma alternativa ao plano Tony Blair e Jared Kushner de urbanizarem a Faixa de Gaza à maneira deles”.
“Eu acho que os países do Golfo vão financiar a reconstrução de Gaza”, admite Miguel Sousa Tavares, que logo a seguir faz uma ressalva: “Se tudo correr bem e chegarmos a esse ponto.”
Por tudo isto, Miguel Sousa Tavares acredita que nem Israel nem o Hamas estão mesmo interessados na paz. “O Hamas quer destruir o Estado de Israel e Israel quer destruir os palestinianos. Eu não tenho dúvida nenhuma. O sonho do ‘grande Israel’ mantém-se atual.”