Em março do ano passado, Gallant criticou a revisão do sistema judicial e, desde então, a relação com o primeiro-ministro tem vindo a deteriorar-se. Benjamin Netanyahu diz que havia uma "crise de confiança"
Alegando falta de confiança mútua, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou o despedimento do ministro da Defesa Yoav Gallant, um rival de longa data no seio do partido Likud.
“Infelizmente, apesar de nos primeiros meses da guerra ter havido confiança e um trabalho muito frutuoso, nos últimos meses essa confiança entre mim e o ministro da Defesa quebrou-se”, justificou Netanyahu, explicando que discordavam na gestão da guerra e que Gallant tomou decisões e fez declarações que contrariaram as decisões do seu gabinete.
“Em plena guerra, a confiança é mais que nunca necessária entre o primeiro-ministro e o seu ministro da Defesa”, mas, “nos últimos meses, essa confiança foi corroída”, afirmou Netanyahu numa declaração gravada.
“Fiz muitas tentativas para colmatar estas lacunas, mas elas continuaram a aumentar”, continuou. “Também chegaram ao conhecimento do público de uma forma inaceitável e, pior do que isso, chegaram ao conhecimento do inimigo - os nossos inimigos gostaram e beneficiaram muito com isso”, lamentou Netanyahu, sublinhando que a maioria dos membros do governo concorda consigo.
Gallant será substituído pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz. O ministro sem pasta Gideon Sa'ar substituirá Katz como ministro dos Negócios Estrangeiros.
O ministro demitido já reagiu na rede social X (antigo Twitter), garantindo que “a segurança de Israel tem sido e continuará a ser a missão” da sua vida.
ביטחון מדינת ישראל היה ותמיד יישאר משימת חיי 🇮🇱🇮🇱
— יואב גלנט - Yoav Gallant (@yoavgallant) November 5, 2024
Entre a classe política israelita há muito que se especulava sobre esta demissão. A relação de Netanyahu com Gallant deteriorou-se quando o primeiro-Ministro ameaçou despedi-lo em março de 2023, depois de este ter criticado a tentativa governamental de revisão do sistema judicial. O projeto de lei, que provocou amplos protestos populares em Israel, teria concedido à coligação no poder uma maior influência na seleção dos juízes. Gallant foi o primeiro a opor-se, dizendo: “A divisão está a infiltrar-se nas forças armadas e nas agências de segurança - trata-se de um perigo claro, imediato e real para a segurança de Israel. Não vou facilitar isto.” Netanyahu disse então que iria demitir o ministro da Defesa, mas reverteu a sua posição na sequência de pressões.
Depois dos ataques de outubro, a relação entre Netanyahu e Gallant piorou. Discordavam, por exemplo, sobre o estado das negociações com o Hamas e a estratégia militar de Israel.
Segundo os meios de comunicação israelitas, em agosto, Gallant disse a uma comissão do Knesset, à porta fechada, que o objetivo de Netanyahu de “vitória absoluta” em Gaza era “um disparate”. Netanyahu deu então o passo extraordinário de publicar um comunicado de imprensa acusando Gallant de adotar uma “narrativa anti-Israel”.
Gallant também criticou fortemente a ênfase dada por Netanyahu ao controlo israelita de uma faixa de território ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito, conhecida como o Corredor de Filadélfia, chamando-lhe uma “desgraça moral”. No conselho de ministros votou contra a continuação da ocupação nessa zona, considerando-a um obstáculo ao cessar-fogo e ao acordo sobre os reféns. “Se queremos os reféns vivos, não temos tempo”, disse.
Uma outra fonte de tensão tem sido o alistamento de homens ultra-ortodoxos nas Forças de Defesa de Israel, que Gallant tem apoiado. Os membros do gabinete de extrema-direita - de quem Netanyahu depende para a sobrevivência do seu governo - resistiram à medida e pressionaram-no para demitir o ministro.