Após o devastador ataque israelita à central nuclear de Natanz e contra a liderança iraniana, Teerão enfrenta um dilema crítico. A resposta ameaça incendiar ainda mais o Médio Oriente.
Foi o maior e mais sério ataque de Israel contra o programa nuclear iraniano e a sua liderança. Mais de 200 aviões de combate israelitas levantaram voo e lançaram centenas de mísseis contra vários alvos iranianos, atingindo uma central nuclear e tirando a vida a mais de 20 líderes militares e vários cientistas nucleares. Em resposta, o Irão disparou 100 drones contra Israel, que os destruiu antes mesmo de chegarem ao seu território. Só que o regime iraniano não quer ficar por aqui e prometeu retaliar, garantindo que o "final da história será escrito pela mão do Irão". Para os especialistas, existem duas respostas iranianas possíveis - e ambas envolvem centrais nucleares.
"O Irão vai retaliar, é indiscutível. Parece ter duas hipóteses em cima da mesa. A primeira passar por um ataque muito semelhante ao de outubro, com drones e mísseis balísticos a atacar Israel. Vai ser o mesmo mas com mais intensidade e com os centros de desenvolvimento nuclear israelita na lista de alvos. O nível de ataque vai ser substancialmente mais elevado", considera o major-general Agostinho Costa, que elogia a operação israelita e sublinha que "se a resposta iraniana ficar aquém" isso será uma "grande humilhação" para o regime iraniano.
As forças armadas iranianas têm ao seu dispor um dos maiores arsenais de mísseis balísticos do Médio Oriente, capazes de atingir o território israelita. Modelos como o Sejjil têm a capacidade de transportar ogivas de 700 quilos e atingir alvos a dois mil quilómetros, o que significa que conseguem atingir qualquer ponto do território israelita. Os Khorramshahr também o podem fazer e têm capacidade de transportar ogivas ainda mais pesadas (até 1.800 quilos), que podem ser carregadas com submunições que permitem atingir vários alvos com apenas um míssil. Existem também os mísseis hipersónicos Fattah, com menor alcance, mas bem mais velozes e difíceis de interceptar pelo avançado sistema de defesa antiaérea israelita.
Uma combinação destes mísseis foi a escolhida pela liderança militar iraniana para atacar Israel, em outubro de 2024, após o assassínio do líder do Hamas Ismail Haniya, morto em Teerão numa operação que envolveu as secretas israelitas da Mossad. A retaliação iraniana aconteceu com uma das maiores salvas de mísseis contra Israel, com mais de 480 projéteis disparados. A maioria destes mísseis foram interceptados, mas várias áreas foram sobrecarregadas pelo elevado número de projéteis e não conseguiram travar o ataque.
Só que, desta vez, o ataque israelita de 13 de junho de 2025 é bem mais grave. A destruição de uma central nuclear em Natanz, a morte de figuras-chave como o comandante da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), Hossein Salami, e dois cientistas nucleares de alto perfil, além do impacto psicológico e estratégico, colocam o regime iraniano sob pressão para uma resposta que vá além de uma mera demonstração de força. Para os especialistas, isso deverá traduzir-se não só numa maior quantidade de mísseis, mas também numa lista de alvos de maior valor para o Irão.
"Isto não vai parar por aqui. Os 100 drones que foram enviados foram um lavar da face por parte de Teerão. Eles sabiam que os drones seriam interceptados, mas eles têm armamento de outra natureza, eles têm mísseis com enorme poder destrutivo", afirma João Henriques, presidente do Observatório do Mundo Islâmico.
Apesar de os Estados Unidos da América se terem afastado da ofensiva israelita, continua a existir a dúvida sobre se Teerão vai incluir as bases militares norte-americanas na lista de alvos a atingir durante a retaliação. Apesar de não terem estado diretamente envolvidos, existe a suspeita no Irão de que, dentro de portas, os norte-americanos apoiaram a ação israelita, de forma a pressionar o regime iraniano a aceitar um acordo para travar o seu programa nuclear e, dessa forma, evitar que o país obtenha armas nucleares.
"Os serviços secretos iranianos sabem que Israel, para conduzir este tipo de operação, tem de ter o apoio dos Estados Unidos em termos de informações secretas, com capacidade de satélites, até para monitorizar os efeitos do ataque", explica o tenente-general Marco Serronha.
Uma retaliação iraniana contra as bases militares americanas na região, como as de Ain al-Asad, no Iraque, Al Udeid, no Catar, e a base no Bahrain poderia resultar numa escalada significativa das tensões na região. Essa decisão poderia colocar um ponto final, mesmo que temporário, nas negociações nucleares, levando os norte-americanos a retaliar com mais sanções económicas e, potencialmente, com uma operação militar. Este cenário abre a porta a que o regime iraniano opte por opções mais extremas, de escalada em escalada.
"Outra resposta possível pode passar pelo regime iraniano decidir avançar com a produção de armas nucleares. Seria uma resposta expectável. O canal diplomático está fechado. Vamos ter uma guerra prolongada, os americanos não conhecem os iranianos", alerta Agostinho Costa.