Investigadora destaca que “continua a haver uma necessidade enorme de se investir na saúde mental”
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que envolveu 929 pessoas, concluiu que a maioria dos participantes com sintomas de depressão e ansiedade relacionou o seu agravamento com a pandemia da covid-19.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora Ana Sofia Aguiar explicou que o estudo, publicado na revista ‘Journal of Affective Disorders Reports’, surgiu da “necessidade de avaliar o impacto da pandemia da covid-19 na saúde mental dos portugueses”.
Na investigação, que teve por base um questionário ‘online’ com uma amostragem em bola de neve, participaram 929 pessoas, na sua maioria mulheres (70,9%) e com um nível de ensino superior (75,4%).
Mais de metade dos participantes tinha idades compreendidas entre os 18 e os 39 anos e viviam na região Norte do país (63,5%).
A informação, recolhida entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, permitiu aos investigadores concluir que dos 929 participantes, 26,9% apresentaram sintomas de ansiedade, 7% de depressão e 20,4% ambos os transtornos, “sobretudo após o início da pandemia”.
A par disso, 23,1% dos participantes desenvolveu sintomas de ansiedade num nível moderado e 17% de depressão, também num nível moderado.
“Não esperava encontrar uma prevalência tão alta, dado que temos uma população altamente escolarizada que esteve mais resguardada dos impactos económicos e sociais que a pandemia fez prevalecer no nosso país”, afirmou Ana Sofia Aguiar.
Segundo a investigadora, “a grande maioria dos participantes (521) relacionou o agravamento dos sintomas de ansiedade e depressão com a pandemia”.
Dos mais de 900 participantes, 7.9% ficaram desempregados desde o início da pandemia da covid-19 e 6,8% encontravam-se numa situação de insegurança alimentar, isto é, por motivos económicos não conseguia aceder a alimentos nutricionalmente adequados.
"Concluiu-se que as pessoas com idades mais jovens, as mulheres, os cidadãos mais escolarizados e que se encontravam numa situação de insegurança alimentar apresentaram um risco acrescido de ter sintomas de ansiedade", acrescentou.
Investigadora salienta desinvestimento na saúde mental
Face aos resultados obtidos, Ana Sofia Aguiar destacou que “continua a haver uma necessidade enorme de se investir na saúde mental”.
“Neste momento, ainda existe estigma e mística em torno do que é a saúde mental. Isto é muito mal-encarado pela população em geral e esse ainda é o problema”, disse.
A par do estigma associado à saúde mental, a investigadora defendeu que outro dos problemas é “a falta de uma comunicação adequada”.
“Em termos de agenda de saúde pública e do país, deve ser dada particular atenção ao peso da incapacidade associada aos transtornos de ansiedade em Portugal”, acrescentou.
A investigação faz parte do projeto de doutoramento de Ana Sofia Aguiar, que recebeu financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e do Programa Fundo Social Europeu.