Ismail Haniyeh, um dos líderes do Hamas, foi assassinado no Irão - que acusa Israel e promete vingança ("os invasores terroristas vão arrepender-se deste ato cobarde"). Israel não reivindicou o ataque, os EUA dizem que não têm qualquer envolvimento. A Rússia alerta que o Médio Oriente está "a balancear-se para o início de um conflito global” e que a culpa é do "desejo maníaco" dos EUA de monopolizarem o processo político da região. A Turquia pede "uma posição mais forte do mundo islâmico". A tensão é total
1. O que se sabe?
A notícia surgiu às primeiras horas do dia e o anúncio foi feito pelo próprio Hamas: “O irmão líder, mártir combatente Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em resultado de um ataque traiçoeiro sionista na residência em Teerão”. O Hamas acrescenta que a informação foi avançada pela Guarda Revolucionária do Irão na televisão estatal do país. Ismail Haniyeh foi assassinado por volta das 2:00 no Irão (23:30 em Portugal Continental), de acordo com a imprensa iraniana, que acrescenta que Haniyeh estava hospedado numa "residência especial para veteranos de guerra no norte de Teerão". "Mais investigações estão a decorrer e, em breve, serão anunciados novos detalhes", cita a Reuters. O assassínio não foi reivindicado por Israel nem por nenhuma entidade até ao momento da publicação deste artigo. Refira-se que a 7 de outubro, no seguimento dos ataques do Hamas que mataram 1.200 pessoas e fizeram cerca de 250 reféns, Israel prometeu matar Ismail Haniyeh e outros líderes do Hamas. A notícia da morte de Haniyeh chega depois de Telavive ter confirmado que matado o chefe militar do grupo xiita libanês Hezbollah, Fuad Shukr, e o assessor dele, Hassan Nasrallah.
2. O que muda?
O risco de o conflito no Médio Oriente escalar para fora das imediações da Faixa de Gaza é agora ainda mais elevado, como espelha a reação do Hezbollah: Israel “quer guerra e nós estamos prontos para ela”. Certo é que as tensões entre Telavive e os libaneses dos Hezbollah já estavam altamente inflamadas, mas agora as ameaças estão a vir de várias direções. O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, classificou o incidente como “ato criminoso e terrorista preparado pelo regime sionista” e que “é dever iraniano vingar o assassínio em território da República Islâmica do Irão". "A República Islâmica do Irão vai defender a integridade territorial, a sua honra, o seu orgulho e a sua dignidade, e vai fazer com que os invasores terroristas [Israel] se arrependam do ato cobarde", disse também o Presidente iraniano, Massoud Pezeshkian. A Guarda Revolucionária iraniana também se pronunciou e garantiu que “o Irão e a frente de resistência vão responder a este crime". Por fim, a posição do Catar, pela voz do primeiro-ministro, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani: "A abordagem de assassínios políticos levanta a questão de como podem as negociações ter sucesso quando um dos lados assassina o negociador do outro?”, disse, acrescentando que “a paz precisa de parceiros sérios e uma posição global contra o desrespeito pela vida humana”.
3. Que riscos há?
O assassinato de Ismail Haniyeh gerou e continua a gerar reações em várias partes do globo. Hamas, Hezbollah, Houthis, Irão, Iraque, China, Catar e Turquia condenaram o ataque e prestam condolências pelo morte do líder do político do Hamas.
RÚSSIA
Alerta que o Médio Oriente está à beira de uma guerra maior. “A região está atualmente a balancear para o início de um conflito global”, diz Andrei Nastasin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, acrescentando que “os envolvidos continuam a aumentar a parada”. O Kremlin culpa o “desejo maníaco” dos Estados Unidos e acusa os norte-americanos de estarem a monopolizar o processo político de entendimento no Médio Oriente e inflamar a situação.
CHINA
A China condena o assassínio de Ismail Haniyeh. A Reuters cita o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, que olha para este incidente com elevada preocupação - e afirma que a China sempre defendeu uma resolução do conflito do Médio Oriente através do diálogo e das negociações. "Devem alcançar um cessar-fogo o mais cedo possível para que se evite uma escalada do conflito e uma confrontação ainda maior."
EUA
Antony Blinken assegura que EUA não estiveram envolvidos no assassínio de Haniyeh. O secretário de Estado norte-americano refere também que os norte-americanos não receberam qualquer aviso prévio sobre o ataque ao líder político do Hamas. Antony Blinken, citado pela Reuters, diz ainda que considera “vital” um cessar-fogo em Gaza e a consumação total da libertação dos reféns israelitas: “É a melhor maneira de fazer a temperatura voltar a descer”.
TURQUIA
O presidente turco, Tayyip Erdogan, sublinha que este assassínio não vai quebrar a vontade palestiniana e apelou a uma "posição mais forte do mundo islâmico".
"Condeno e repudio veementemente o assassínio traiçoeiro do presidente político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão.
Trata-se de um ato desprezível que visa perturbar a causa palestiniana, a gloriosa resistência de Gaza e a justa luta dos nossos irmãos palestinianos, bem como desmoralizar e intimidar os palestinianos.
O objetivo do assassínio do irmão Ismail Haniyeh é o mesmo que o dos repugnantes ataques contra o sheik Ahmed Yasin, Abdulaziz Al Rantisi e muitas outras figuras políticas de Gaza; no entanto, a barbárie sionista não conseguirá atingir os seus objetivos como tem feito até agora.
Esperemos que, com a posição mais forte do mundo islâmico e a aliança da humanidade, o terror infligido por Israel à nossa geografia, especialmente a opressão e o genocídio em Gaza, chegue definitivamente ao fim e a nossa região e o nosso mundo encontrem a paz.
Por esta razão, enquanto Turquia, continuaremos a tentar todos os meios, a empurrar todas as portas e a apoiar os nossos irmãos palestinianos com todos os nossos meios e todas as nossas forças. Continuaremos a trabalhar para a criação de um Estado da Palestina livre, soberano e independente, baseado nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital.
Que Deus tenha piedade do meu irmão İsmail Haniye, que foi martirizado em resultado do hediondo ataque; ofereço as minhas condolências aos nossos irmãos de Gaza e palestinianos e ao mundo islâmico.
Que Deus vos abençoe com o seu paraíso e a sua beleza."
Hamas Siyasi Büro Başkanı İsmail Heniye’ye yönelik Tahran’da gerçekleştirilen kalleş suikastı şiddetle kınıyor ve lanetliyorum.
Bu suikast; Filistin Davasını, Gazze’nin şanlı direnişini ve Filistinli kardeşlerimizin haklı mücadelesini akamete uğratmaya, Filistinlilerin moralini…
— Recep Tayyip Erdoğan (@RTErdogan) July 31, 2024