Líder do Irão avisa que negociar com EUA não acabará com agitação

Agência Lusa , WL
26 nov 2022, 12:41
Ali Khamenei, líder do Irão (AP)

Ali Khamenei considera que a negociação com Washington "não vai resolver nada"

O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, afirmou este sábado que negociar com os Estados Unidos da América não porá fim aos protestos que assolam o país há dois meses, uma vez que Washington “exigirá sempre cada vez mais”.

As autoridades de Teerão têm denunciado que as manifestações desencadeadas em 16 de setembro pela morte de Mahsa Amini, detida pela polícia da moralidade por ter violado o rígido código de vestimenta do país, considerando tratarem-se de “motins” incentivados pelo Ocidente, em especial pelos Estados Unidos.

“O problema não passa por serem quatro manifestantes na rua, mesmo que cada manifestante, cada terrorista, deva ser punido. […] O campo de batalha é muito maior. O principal inimigo é a arrogância global”, disse Khamenei referindo-se aos Estados Unidos e respetivos aliados.

A mais alta figura do Estado iraniano falava ao receber em Teerão, uma delegação de jovens paramilitares, por ocasião da semana dos Basidji, milícia de voluntários ligada à Guarda Revolucionária iraniana, o exército ideológico da República, e que tem atuado como tropa de choque contra os protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini em meados de setembro.

“Algumas pessoas dizem nos jornais ou na internet que tudo o que se pode fazer para acabar com a agitação, que começou há algumas semanas, é resolver os problemas do Irão com os Estados Unidos e ouvir a voz da nação [iraniana]. Como vamos resolver o problema com a América? O problema será resolvido sentando-se, negociando e obtendo um compromisso da América?”, questionou Khamenei.

“Não. A negociação não vai resolver nada. O nosso problema com a América só pode ser resolvido aceitando ser salvo por esse país [Estados Unidos]”, afirmou.

Exigências americanas

Segundo Khamenei, os Estados Unidos exigem, para acabar com as hostilidades, que o Irão abandone o programa nuclear, mude a Constituição, confine a influência dentro das suas fronteiras e que encerre a indústria de defesa. 

“Nenhum iraniano pode aceitar tais condições”, enfatizou, acusando também os que dizem que se deve ouvir a voz, não em relação aos protestos em curso mas os ligados às “grandes manifestações pró-governamentais” de 04 deste mês e à multidão que participou no funeral do general Qasem Soleimani, assassinado em janeiro de 2020. 

Qasem Soleimani foi um major-general iraniano da Guarda Revolucionária Islâmica e, de 1998 a 2020, comandante da Força Quds — uma divisão responsável, sobretudo por ações militares extraterritoriais e operações clandestinas, que foi morto num ataque aéreo dos Estados Unidos a 03 de janeiro de 2020 no aeroporto internacional de Bagdade, no Iraque.

“”Essa imensa multidão é que é a voz da Nação iraniana”, insistiu.

Dois meses de protestos

Os protestos deste ano no Irão foram, inicialmente, desencadeados pela morte, em 16 de setembro, da jovem turca de 22 anos, Mahsa Amini, detida três dias antes pela polícia dos costumes iraniana por uso indevido do “hijab”, o véu islâmico.

Aos poucos, os protestos contra o uso da força no Irão foram dando lugar a manifestações de apoio às mulheres, cada vez maiores e em mais cidades, e foram-se estendendo, às denúncias de atuação da Guarda da Revolução.

Desde o início dos protestos, pelo menos 426 pessoas foram mortas e mais de 17.400 foram detidas, de acordo com os Human Rights Activists in Iran (Ativistas dos Direitos Humanos no Irão), grupo que monitoriza o movimento de contestação em curso, segundo o qual pelo menos 55 membros das forças de segurança iranianas foram também mortos.

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