"Morte ao ditador": iranianos assinalam 40 dias da morte de Mahsa Amini com protestos junto ao cemitério

CNN Portugal , BCE
27 out 2022, 10:03

No Irão, o 40.º dia após a morte de alguém tradicionalmente marca o fim do luto, pelo que foram feitos apelos para que as pessoas saíssem às ruas em homenagem a Amini - um pedido que foi cumprido em Teerão, Isfahan e Mashhad, além da terra natal da jovem iraniana

As forças de segurança iranianas dispararam sobre milhares de manifestantes que saíram às ruas para assinalar o 40.º dia da morte de Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que foi detida pela polícia por não cumprir as regras de vestuário impostas pela lei nacional.

De acordo com a imprensa internacional, mais de 10 mil pessoas juntaram-se no cemitério de Aichi, onde a jovem foi sepultada, nos arredores da sua terra natal, em Saqqed. Isto apesar dos avisos dos serviços de segurança para que não fossem realizados ajuntamentos na cidade, com a família de Amini a receber ameaças para que se preocupe "com a vida do seu filho", segundo relatos de testemunhas.

"Morte ao ditador", exclamavam os manifestantes reunidos naquele cemitério, antes de se dirigirem ao gabinete do governador da cidade. A agência de notícias iraniana Fars avança que cerca de duas mil pessoas se juntaram na cidade de Saqqez e ecoaram palavras de ordem como "mulher, vida, liberdade".

No Irão, o 40.º dia após a morte de alguém tradicionalmente marca o fim do luto, pelo que foram feitos apelos para que as pessoas saíssem às ruas em homenagem a Amini - um pedido que foi cumprido em Teerão, Isfahan e Mashhad, além da terra natal da jovem iraniana.

Imagens partilhadas pela Hengaw, uma organização não-governamental que luta pelos diretos humanos, mostram uma forte presença de forças de segurança durante a noite, em Saqqez. Os agentes terão encerrado as estradas que dão acesso à cidade e que levam ao cemitério de Aichi, onde Amini está sepultada, mas muitos manifestantes deixaram os carros e os motociclos para trás e foram a pé até à sepultura de Amini.

De acordo com a mesma fonte, "as forças de segurança lançaram gás lacrimogéneo e abriram fogo contra os manifestantes em Zindan Square, em Saqqez”. A organização, sediada na Noruega, não especifica se há registo de vítimas mortais ou feridos.

Várias testemunhas confirmaram ao The Guardian que as forças de segurança dispararam sobre os manifestantes, mas o governo iraniano argumenta que a polícia viu-se obrigada a responder aos distúrbios. Mais tarde, o regime tentou bloquear o acesso à Internet no país.

Citado pela agência de notícias estatal IRNA, o governador da região de Curdistão, Esmail Zarei-Kousha, acusou os inimigos do Irão de estarem por trás dos confrontos: "O inimigo e os media estão a aproveitar o marco de 40 dias da morte de Mahsa Amini como pretexto para provocar novas tensões, mas felizmente a situação na província é completamente estável."

O regime espera que os protestos que marcaram o 40.º dia da morte de Amini representem o culminar deste período de grande tensão no país. As autoridades judiciais iranianas anunciaram esta semana que mais de 600 pessoas vão a julgamento pelo seu papel nos protestos.

Segundo o grupo Iran Human Rights, sediado em Oslo, a repressão das forças de segurança aos protestos de Amini está associada à morte de pelo menos 141 manifestantes.

Ainda esta semana, os EUA colocaram mais de 12 autoridades iranianas na sua lista negra de sanções por repressão. Mais tarde, a Casa Branca admitiu estar "preocupada com o facto de Moscovo estar a aconselhar o Irão sobre as melhores práticas para gerir protestos, aproveitando a sua vasta experiência na repressão" de opositores.

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