Israel diz que o Irão estava a acelerar a construção de uma arma nuclear. Secretas dos EUA dizem que isso estava a anos de distância

CNN , Katie Bo Lillis e Zachary Cohen
17 jun, 12:54
Imagem satélite mostra danos significativos à central de mísseis Kermanshah do Irão após uma série de ataques aéreos de Israel (Maxar Technologies)

Quando Israel lançou a sua série de ataques contra o Irão na semana passada, também emitiu uma série de avisos terríveis sobre o programa nuclear do país, sugerindo que o Irão estava a aproximar-se rapidamente de um ponto sem retorno na sua tentativa de obter armas nucleares e que os ataques eram necessários para evitar esse resultado.

Mas as avaliações dos serviços secretos americanos chegaram a uma conclusão diferente – não só o Irão não estava a procurar ativamente uma arma nuclear, como também estava a três anos de distância de conseguir produzir e entregar uma arma a um alvo à sua escolha, de acordo com quatro pessoas familiarizadas com a avaliação.

Outro alto funcionário dos EUA disse à CNN que o Irão está "tão perto quanto possível de construir [uma arma nuclear]” e que “se o Irão quiser construir uma arma nuclear, tem tudo o que precisa".

Agora, após dias de ataques aéreos israelitas, os serviços secretos dos EUA acreditam que, até agora, Israel pode ter atrasado o programa nuclear iraniano em apenas alguns meses, de acordo com uma dessas pessoas, um funcionário dos EUA. Apesar de Israel ter causado danos significativos às instalações iranianas de Natanz, que albergam as centrifugadoras necessárias ao enriquecimento de urânio, um segundo local de enriquecimento, fortemente fortificado, em Fordow, permaneceu praticamente intocado.

Israel não tem capacidade para danificar Fordow sem armas específicas dos EUA e apoio aéreo, dizem os especialistas em Defesa.

“Israel pode pairar sobre essas instalações nucleares, torná-las inoperacionais, mas se realmente se quiser desmontá-las, é por via de um ataque militar dos EUA ou um acordo ”, diz Brett McGurk, ex-diplomata de alto escalão para o Médio Oriente sob as administrações Trump e Biden e analista da CNN.

Isto levanta um dilema fundamental para a administração Trump, que se esforça para evitar envolver-se numa guerra cara e complexa no Médio Oriente.

Embora o Presidente dos EUA, Donald Trump, tenha deixado claro que não quer envolver os Estados Unidos nos esforços de Israel para destruir a infraestrutura nuclear iraniana, a administração reconhece que a única forma de Israel poder derrubar o programa nuclear iraniano é com a ajuda militar americana, disseram fontes à CNN durante o fim de semana – em particular, bombas americanas capazes de danificar instalações subterrâneas e os bombardeiros B-2 que as transportam.

É uma corda bamba que levou a um debate entre os mais isolacionistas dos conselheiros do presidente e alguns dos aliados republicanos mais agressivos de Trump – bem como algumas hesitações do Presidente.

"Não estamos envolvidos nisso”, disse Trump à ABC News no domingo de manhã. “É possível que nos envolvamos. Mas, neste momento, não estamos envolvidos."

Falando na Cimeira do G7 no Canadá, na segunda-feira, Trump instou Israel e o Irão a iniciarem conversações “antes que seja tarde demais”.

O Comando Central dos Estados Unidos, responsável pelas operações militares americanas no Médio Oriente, transmitiu um maior sentido de urgência do que a comunidade civil de informações no que diz respeito à busca de uma arma nuclear por parte do Irão.

No período que antecedeu o último ataque israelita, o Comando Central aprovou um calendário mais grave, acreditando que o Irão poderia obter uma arma nuclear utilizável mais rapidamente se acelerasse em direção a esse objetivo, de acordo com uma fonte familiarizada com as discussões.

Nas últimas semanas, alguns líderes militares norte-americanos, incluindo o chefe do Comando Central dos EUA, o general Michael Kurilla, solicitaram mais recursos para defender e apoiar Israel enquanto este continua a trocar ataques com o Irão – embora não para o ajudar a lançar ataques ofensivos.

Fumo sai de uma instalação de armazenamento de petróleo em Teerão, capital do Irão, na segunda-feira, no que aparenta ser uma consequência de um ataque israelita foto: Vahid Salemi/AP

“Kurilla gostaria de estar preparado para a contingência mais difícil”, segundo uma fonte familiarizada com o assunto, referindo-se ao seu esforço para posicionar os meios americanos no Médio Oriente em apoio a Israel.

Os EUA estão a realinhar as suas forças na região à medida que o conflito se agrava, para garantir a proteção das forças americanas e, se necessário, ajudar a defender Israel.

Na segunda-feira, um funcionário dos EUA disse à CNN que o USS Nimitz Carrier Strike Group está a deslocar-se para o Médio Oriente “sem demora”.

Espera-se que alguns meios navais dos EUA capazes de se defenderem contra mísseis balísticos e que já se encontram no Médio Oriente se desloquem para o Mediterrâneo Oriental “nos próximos dias”, acrescentou o funcionário. Dois navios da Marinha dos EUA intercetaram mísseis em defesa de Israel pelo menos duas vezes durante o fim de semana, adiantou o mesmo funcionário.

A mesma informação, conclusões diferentes

Os militares e os serviços secretos norte-americanos há muito que afirmam que os EUA e Israel divergem frequentemente quanto à forma de interpretar as informações sobre o programa nuclear iraniano, embora as partilhem estreitamente.

Tulsi Gabbard, diretora nacional dos serviços de informação da administração Trump, testemunhou em março que a comunidade de inteligência dos EUA “continua a avaliar que o Irão não está a construir uma arma nuclear e que o líder supremo Khamenei não autorizou um programa de armas nucleares que suspendeu em 2003”.

Questionado sobre a posição pessoal de Trump sobre o quão perto o Irão estava de obter uma arma nuclear, tendo em conta o que Gabbard testemunhou há apenas dois meses, Trump disse aos repórteres no Air Force One: “Muito perto.”

Quando pressionado sobre o seu testemunho específico de que não estavam, Trump disse: "Não me interessa o que ela disse. Acho que estiveram muito perto de a ter."

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foi questionado no domingo, durante uma entrevista à Fox News, sobre o motivo pelo qual os serviços secretos de Israel diferiam do testemunho de Gabbard no Congresso.

Questionado sobre se algo mudou entre o final de março e esta semana e se as informações dos EUA estavam erradas, Netanyahu disse: "A informação que recebemos e partilhámos com os Estados Unidos era absolutamente clara, era absolutamente clara que eles estavam a trabalhar num plano secreto para transformar o urânio em arma. Estavam a avançar muito rapidamente."

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), um dos principais organismos internacionais de vigilância, afirmou na semana passada que o Irão tinha acumulado urânio enriquecido em quantidade suficiente, a níveis ligeiramente inferiores ao grau de armamento, para fabricar potencialmente nove bombas nucleares, o que classificou como “uma questão de grande preocupação”.

O desafio para o Irão é produzir não apenas uma arma nuclear em bruto – o que, segundo os especialistas, o Irão poderia fazer no espaço de meses, se assim o decidisse – mas também produzir um sistema de lançamento funcional, o que poderia demorar muito mais tempo.

Enquanto os serviços secretos norte-americanos – e a AIEA – trabalham para avaliar os danos que Israel causou à arquitetura nuclear do Irão, existe alguma preocupação de que o ataque possa levar o Irão a fazer o que os funcionários norte-americanos acreditam que não fez até agora: procurar criar uma arma.

Contudo, como indica uma fonte familiarizada com as informações mais recentes, "o Irão está a cambalear – já não tem a certeza de ter a capacidade ou os conhecimentos necessários para o fazer".

Instalação de enriquecimento fortificada do Irão

Uma imagem de satélite captada em 14 de junho de 2025 não mostra danos visíveis na central de enriquecimento de combustível de Fordow, no Irão. Israel visou esta instalação durante os seus ataques de sexta-feira, mas a Agência Internacional da Energia Atómica afirmou que não foi afetada e os militares israelitas não reivindicaram quaisquer danos significativos foto: Maxar Technologies

Israel ainda não conseguiu danificar seriamente aquela que será talvez a fortaleza mais impenetrável do programa nuclear iraniano: Fordow, uma instalação de enriquecimento de urânio enterrada no fundo de uma montanha.

"Tudo se resume a uma questão: Fordow, Fordow, Fordow", disse Brett McGurk em entrevista a Wolf Blitzer, da CNN, na segunda-feira.

"É algo que os Estados Unidos podem eliminar, é algo que os israelitas terão muita dificuldade em fazer”, adiantou McGurk. “Se isto terminar com Fordow intacta, o problema poderá ser ainda pior. O Irão pode estar mais inclinado a ter uma arma nuclear e ter essa infraestrutura intacta”.

Trump e sua administração argumentaram que uma solução diplomática ainda pode ser concretizada. Mas o Irão disse ao Qatar e a Omã que não se envolverá enquanto estiver sob ataque de Israel, adiantou um diplomata regional à CNN, e Israel não sinalizou nenhum fim de curto prazo para a operação.

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