Da diplomacia à destruição de Fordow. Os quatro desfechos potenciais do conflito entre Irão e Israel

CNN , Análise de Brett McGurk
21 jun, 19:07
Fumo em refinaria após ataque israelita a Teerão, 15 de junho de 2025 (ABEDIN TAHERKENAREH/EPA via Lusa)

Brett McGurk é analista de assuntos globais da CNN e ocupou altos cargos de segurança nacional sob os presidentes George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden.

À medida que nos aproximamos do décimo dia da crise entre Israel e o Irão, a atenção centra-se em saber se a diplomacia conseguirá prevalecer e, caso não consiga, se o Presidente Donald Trump tomará a decisão de recorrer à força militar dos EUA para destruir o que resta da infraestrutura nuclear iraniana — em particular a instalação de enriquecimento profundamente enterrada conhecida como Fordow.

No sábado, dois dias depois de Trump ter dado duas semanas para testar a via diplomática, a situação parecia ter estabilizado. Israel mantém o controlo dos céus iranianos e continua a atacar alvos à vontade, enquanto o Irão ainda consegue lançar salvas de mísseis, embora em menor número, contra Israel. Do ponto de vista militar, esta equação favorece Israel, cuja posição deverá sair ainda mais reforçada ao longo da semana.

Contudo, esta é uma equação táctica e não conduz a um desfecho estratégico claro, especialmente no que respeita ao programa nuclear do Irão. Para onde se dirige, então, esta crise? Vejo quatro cenários possíveis:

Resolução diplomática

Continua a ser o desfecho preferido. No entanto, após as conversações desta semana em Genebra entre o Irão e os aliados europeus, o panorama não é animador. As negociações não avançaram. O Irão manteve as suas posições anteriores à crise. Os EUA não estiveram presentes. E todo o ambiente — no Hotel Intercontinental de Genebra, onde foi negociado o acordo nuclear iraniano há dez anos — fazia lembrar uma era passada.

Pode haver contactos mais diretos em curso entre os Estados Unidos e o Irão (provavelmente mediados pelo Qatar e por Omã), mas à parte disso, a via diplomática carece de verdadeiro impulso. É lamentável, pois continua a ser a melhor forma de pôr fim à crise — e tudo o que o Irão teria de fazer seria sinalizar ao enviado de Trump, Steve Witkoff, que está disposto a aceitar a proposta que este apresentou ao país há cerca de seis semanas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi (C), fala aos meios de comunicação social após a sua reunião com o grupo de ministros europeus do E3, em 20 de junho de 2025, em Genebra, na Suíça. Sedat Suna/Getty Images

Essa proposta será, ao que tudo indica, equilibrada, prevendo que o Irão abandone gradualmente o seu programa de enriquecimento, no âmbito de um consórcio internacional responsável pelo fornecimento de combustível nuclear para um programa nuclear civil, pacífico e monitorizado.

A recusa do Irão em envolver-se diretamente nesta proposta — tanto antes da crise como, sobretudo, agora — pode revelar-se um erro fatal e decisivo. Se existe uma via de saída, é esta.

Intervenção militar dos EUA para destruir Fordow

Os EUA continuam a posicionar meios militares no Médio Oriente e, em breve, terão três grupos de porta-aviões na região. Trata-se de uma demonstração de força imponente, sem paralelo desde 2012 — precisamente numa altura em que a diplomacia com o Irão também estava bloqueada e em que Teerão ameaçava fechar o Estreito de Ormuz em resposta às sanções americanas.

Trump deu claramente ordens para posicionar forças e preparar um eventual ataque. Esta preparação pode reforçar a via diplomática, pois o Irão terá de saber que, no final do prazo de duas semanas, os Estados Unidos estão preparados para usar a força para tornar Fordow inoperacional — e o Irão não tem capacidade para defender-se de uma operação dessa natureza. Quanto mais os EUA parecerem prontos para agir, maior poderá ser a probabilidade de o Irão, no fim, aceitar um acordo que os americanos estejam dispostos a validar.

Israel desmantela Fordow

Apesar de Trump ter dado ordens para preparar um ataque, não é certo que venha efetivamente a ordenar essa ação.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel poderá ter formas de neutralizar Fordow sem o envolvimento dos Estados Unidos. Isso poderá assemelhar-se à chamada "Operação Many Ways" (Muitas Vias), de que falei esta semana no programa “AC360”. A “Operação Many Ways” foi uma incursão de comandos israelitas, realizada em setembro passado, contra uma instalação iraniana de mísseis, profundamente enterrada, na Síria.

A profundidade dessa instalação era quase equivalente à de Fordow, e o nome da operação foi um sinal dirigido ao Irão: Israel tem várias formas de destruir instalações fortemente protegidas.

Tenho dúvidas quanto à viabilidade de uma operação semelhante no território iraniano. Trata-se de uma missão de elevado risco e a grande distância. Além disso, uma instalação de enriquecimento nuclear é algo bastante diferente de uma instalação de mísseis. Ainda assim, é certo que Israel está a avaliar todas as opções, e não quererá concluir a sua campanha militar com a instalação de Fordow intacta. Por isso, se os EUA se mantiverem à margem, é expectável que Israel tente agir por conta própria contra Fordow.

Crise continua indefinidamente

Na sequência das opções 2 ou 3 acima (intervenção dos EUA ou operação israelita), creio que Israel poderá declarar o fim das operações militares principais. O Irão responderia, mas, do ponto de vista israelita e americano, haveria um ponto final claro quando Fordow for desmantelada, juntamente com as restantes grandes instalações nucleares em Natanz e Isfahan, já danificadas.

Caso nenhuma das três opções anteriores se concretize, o cenário mais provável é a continuação da crise. Isso significaria que Israel manteria o controlo do espaço aéreo iraniano e continuaria a atingir alvos. O Irão, por sua vez, lançaria ataques ocasionais, embora com uma reserva cada vez mais limitada de mísseis e lançadores.

Este cenário representaria um desfecho inconclusivo, com o Irão ainda a deter uma capacidade massiva de enriquecimento, mas com Israel permanentemente vigilante, impedindo a sua utilização — enquanto negociações diplomáticas frágeis continuam nos bastidores.

A minha avaliação: neste momento, considero mais provável que se concretize a opção 2 (intervenção dos EUA) ou a opção 4 (prolongamento da crise), embora se deva continuar a fazer tudo o que for possível para alcançar a opção 1 — a solução diplomática.

Diplomacia revigorada

Tendo em conta que o desfecho preferido continua a ser o diplomático, mas que as negociações estão estagnadas, como poderá a diplomacia ser revitalizada na próxima semana?

Em primeiro lugar, os Estados Unidos devem deixar claro que o prazo de duas semanas é real — e que, se o Irão se recusar a participar de forma construtiva, um ataque será a consequência inevitável das más escolhas do próprio Irão. Esse prazo, aliado a uma proposta credível — que está em cima da mesa desde antes da crise —, continua a ser a melhor oportunidade para encontrar uma saída diplomática.

Em segundo lugar, existe uma possibilidade mais criativa. Por vezes, em contexto de crise, é útil alargar o conjunto de problemas — neste caso, isso significa incluir Gaza. O conflito em Gaza decorre em pano de fundo da crise com o Irão. Neste momento, está em cima da mesa um acordo, apoiado por Israel, para um cessar-fogo de 60 dias em Gaza, em troca da libertação, por parte do Hamas, de metade dos reféns vivos (10 em 20). O Hamas rejeitou esse acordo, mas fê-lo antes do ataque israelita ao Irão e da eliminação de muitos dos seus apoiantes iranianos, como os líderes da Guarda Revolucionária Islâmica.

Pela minha experiência com o Hamas, o grupo tende a mostrar-se mais flexível quando os seus aliados sofrem derrotas — como aconteceu com o acordo de cessar-fogo em Gaza no início deste ano, após a derrota do Hezbollah no Líbano e o subsequente acordo de trégua nesse país.

Assim, uma ideia seria combinar um cessar-fogo de 60 dias em Gaza com uma suspensão de 60 dias no enriquecimento nuclear por parte do Irão, com o objetivo de, no final desse período, encontrar soluções mais permanentes. Israel, estando numa posição de força tão consolidada, poderá estar recetivo a essa abordagem, e os Estados Unidos poderiam mediar esse entendimento como forma de atenuar as várias crises no Médio Oriente — e de o fazer de forma a não permitir que o Irão ou o Hamas se reagrupem.

Afinal, a forma mais rápida de acabar com o horror em Gaza seria o Hamas libertar apenas 10 reféns, e a maneira mais rápida de resolver a crise com o Irão seria este aceitar o acordo proposto por Witkoff no início do ano. Poderá fazer sentido tentar estas duas vias em paralelo, sobretudo tendo em conta que tanto o Irão como o Hamas se encontram no ponto mais fraco dos últimos anos.

No essencial, Trump ganhou algum tempo e margem com o seu prazo de “duas semanas”, aliado à sua preferência por uma solução diplomática. Mas, a três dias do fim desse prazo, parece haver pouco dinamismo na via diplomática — ao mesmo tempo que as forças americanas continuam a reforçar-se na região.

Médio Oriente

Mais Médio Oriente
IOL Footer MIN