Iranianos em Portugal exigem inclusão da Guarda Revolucionária na lista de organizações terroristas

Agência Lusa
16 jan 2023, 20:25
Protestos no Irão (AP Photo)

Parlamento Europeu vai também analisar uma proposta para incluir a Guarda Revolucionária na lista de organizações terroristas

Cerca de meia centena de iranianos residentes em Portugal manifestaram-se hoje diante do Parlamento para sensibilizar os deputados portugueses a apoiar a inclusão da Guarda Revolucionária do Irão na lista de organizações terroristas criada pelo Parlamento Europeu (PE).

Num manifesto, lido por Roham Torabi, membro da Comunidade Iraniana em Portugal, é lembrado que a Guarda Revolucionária da República Islâmica do Irão foi criada há 44 anos e que, ao longo de todo esse tempo, “roubou ao povo o direito a uma vida normal e digna”.

“O regime terrorista islâmico que tem governado o Irão desde 1979 tem espezinhado todos estes valores e os grupos minoritários, em particular, são institucionalmente ameaçados e perseguidos em grande escala”, lê-se no manifesto, com Torabi a dar conta de que os protestos que decorrem desde setembro de 2022 já levou à detenção de milhares de iranianos, tendo alguns deles sido condenados à pena de morte.

A sessão do Parlamento Europeu que hoje começou em Estrasburgo (França), sede da organização, vai analisar quarta e quinta-feira próximas a proposta de incluir a Guarda Revolucionária na lista de organizações terroristas, razão pela qual milhares de iranianos, sublinhou Torabi, estão a realizar hoje idênticas manifestações em muitas cidades do mundo.

“Estamos todos a pôr toda a pressão que podemos para que o PE aprove esta resolução e incluir a Guarda Revolucionária neste grupo (de organizações terroristas). Acredito que isso vai acontecer, não hoje, não na próxima semana, mas vai acontecer num futuro breve”, disse à agência Lusa o membro da Comunidade Iraniana em Portugal.

“Tem de ser, porque este grupo [Guarda Revolucionária], criado há 44 anos, desde a fundação da República Islâmica, trafica e vende petróleo e drogas no mercado negro, tudo o que se quiser. Atualmente pode dizer-se que é o maior grupo terrorista que o mundo já viu”, acrescentou.

Para Torabi, se a comunidade internacional “cortar as mãos” à Guarda Revolucionária, aprovando a resolução que prevê a inclusão na lista de organizações terroristas, tal constituirá um “primeiro passo” para a libertação do Irão.

“Hoje defendo ‘uma solução, a resolução’, não a revolução. Porque acreditamos que podemos cortar as mãos à Guarda Revolucionária e esse será um primeiro passo para que a revolução possa acontecer”, argumentou.

Os protestos no Irão ganharam uma forte dinâmica após a morte da jovem curda Mahsa Amini, hoje “presente” na manifestação com a sua cara numa bandeira iraniana, que morreu a 16 de setembro sob custódia da polícia dos costumes, força integrada na Guarda Revolucionária, três dias depois de ter sido detida por uso indevido do ‘hijab’, o véu islâmico, violando, segundo as forças de segurança, o rígido código de vestimenta do Irão.

Também à agência Lusa, Aswa Karoobi, igualmente membro da Comunidade Iraniana em Portugal, lembrou as milhares de detenções nos protestos que se seguiram, destacando a morte de várias centenas de pessoas e a condenação a pena capital, “em julgamentos que são uma farsa”, de pelo menos 112 manifestantes, estando atualmente 109 deles no “corredor da morte”.

Diante do Parlamento português, os manifestantes penduraram dezenas de fotografias de manifestantes que já foram mortos em alegados confrontos com as forças de segurança, de outros que aguardam a execução da pena capital e de outros que se encontram detidos.

“Mahsa, mulher, vida, liberdade”, “justiça para o Irão”, “parem com as execuções” ou “o Irão precisa de um 25 de abril” foram algumas palavras de ordem gritadas pelos manifestantes ao longo das cerca de duas horas de um protesto pacífico sem incidentes.

Em solidariedade com os manifestantes iranianos, uma delegação do partido Iniciativa Liberal (IL) anunciou que a terceira força da oposição portuguesa irá colocar “sob a sua proteção”, tal como já se faz na Europa, dois iranianos condenados à morte pelo regime de Teerão.

Joana Cordeiro, deputada, lembrou tratar-se de uma iniciativa de cerca de duas centena de parlamentares franceses, alemães, suecos e outros por toda a Europa, a que a IL se associa, com a parlamentar a “apadrinhar” Mohammad Ghobadlou e o líder da bancada da IL, Rodrigo Saraiva a “proteger” Mohammad Boroughani, ambos condenados à morte.

“Temos de chamar a atenção, dar visibilidade internacional a situações deste género, pois não podemos ficar impávidos perante esta brutal onda de violência de um regime que não tem apoio popular e está a ficar cada vez mais isolado internacionalmente”, concluiu.

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