Conheça os cinco investigadores em Portugal que receberam um "euromilhões" em bolsas

10 jan 2022, 14:09

Cinco investigadores em Portugal receberam mais de oito milhões em bolsas do programa do Conselho Europeu de Investigação

Cinco investigadores de Universidades portuguesas vão receber mais de oito milhões de euros de um programa de bolsas do Conselho Europeu de Investigação. Vera Aldeias, Sérgio Domingues, Manuel Souto, Yonatan Gez e Susana Soares são cientistas escolhidos pelo ERC Starting Grant para receber uma bolsa para iniciar a sua investigação.

A bolsa em causa, que é atribuída por cinco anos a investigadores promissores que iniciam a sua própria equipa ou programa de investigação independente e que este ano atribuiu mais de 619 milhões de euros a cientistas.

Entre os países com o maior número de laureados estão a Alemanha (72), França (53), Reino Unido (46) e Países Baixos (44). O Conselho Europeu de Investigação destaca também o facto de 43% das bolsas terem sido ganhas por mulheres, um aumento significativo dos 37% registados em 2020, o melhor ano para as mulheres até então.

Em busca do elo entre o neandertal e o homo sapiens

Vera Aldeias, investigadora do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano, da Universidade do Algarve, vai receber 1,9 milhões para aplicar no seu projeto “MATRIX – Into the Sedimentary Matrix: Mapping the Replacement of Neanderthals by early Modern Humans using micro-contextualized biomolecules”, e quer descobrir quais foram as dinâmicas que levaram à transição dos neandertais para a nossa espécie, o homo sapiens.

A questão não é nova e é muito debatida no meio científico, mas a investigadora espera obter novos resultados com o projeto que lidera através de uma nova abordagem que utiliza biomoléculas preservadas em sedimentos de locais arqueológicos, para perceber “quais foram as dinâmicas por trás desta transição e se foram sempre as mesmas em diferentes zonas da Europa”.

Para a Vera Aldeias, esta bolsa representa “um enorme orgulho por ter sido selecionada para um dos programas mais competitivos do mundo da ciência. Esta oportunidade irá possibilitar desenvolvermos ciência de ponta e ao mais alto nível a partir da Universidade do Algarve”.

Como funcionam os alimentos?

Susana Soares, investigadora da Rede de Química e Tecnologia (Requimte) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, também vai receber uma bolsa de 1,5 milhões para entender o funcionamento do sabor dos alimentos e de que forma essa informação pode ser utilizada para a criação de biossensores que avaliem o sabor.

Formas tridimensionais na nanotecnologia molecular

Sérgio Domingos é o cientista do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC)que acaba de ganhar uma bolsa “Starting Grant”, no valor de 1,9 milhões de euros, atribuída pelo European Research Council (ERC).

Esta verba vai permitir desenvolver, durante os próximos cinco anos, uma estratégia experimental e inovadora, “para desvendar as formas tridimensionais de algumas moléculas chave no campo da nanotecnologia molecular e entender a sua mecânica de funcionamento”, revelou o investigador.

Intitulado “MiCRoARTiS – Microwave Fingerprinting Artificial Molecular Motors in Virtual Isolation”, este projeto distinguido pelo Conselho Europeu de Investigação pretende descobrir “os segredos da mecânica estrutural de motores moleculares construídos pelo homem, de forma a torná-los cada vez mais funcionais”.

Pretende também “desenvolver a técnica de espetroscopia de micro-ondas para além do estado da arte, tornando-a cada vez mais útil nesta e noutras áreas do conhecimento, como na identificação de moléculas em partes distantes do universo (Astrofísica Molecular), ou no estudo de interações entre medicamentos e recetores moleculares do corpo humano (Química Medicinal)”, sublinhou.

Para Sérgio Domingos, “é um sentimento incrível ser selecionado num programa tão competitivo de ciência e ter a oportunidade de desenvolver este projeto em casa: a Universidade de Coimbra”.

“O que se propõe é elevar uma técnica já existente, com características e tecnologia nova, para poder resolver algumas questões que estão em aberto neste campo da nanotecnologia molecular”, concluiu.

Elétrodos que podem vir a ajudar baterias de lítio

Manuel Souto Salom, professor do Departamento de Química da Universidade de Aveiro e investigador no CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, vai receber 1,5 milhões para sintetizar um novo tipo de elétrodos orgânicos e nanoporosos para terem várias utilizações, entre as quais baterias de lítio.

As propriedades destes compostos são consideradas promissores e o investigador considera que estes materiais “apresentam várias vantagens em relação aos cátados actualmente em uso, uma vez que se baseiam em elementos abundantes, têm grande versatilidade e as suas propriedades físicas podem ser moduladas “à la carte” por desenho molecular”.

 “Uma meta importante é tentar entender no nível fundamental o transporte da carga elétrica nestes materiais, para que o projeto também tenha um grande impacto em outras áreas, como a optoeletrônica, e no desenvolvimento de dispositivos de armazenamento de energia além das baterias de lítio”, explica o cientista.

Antropologia do desenvolvimento 

Entre os investigadores premiados estão também Yonantan Gez, do Instituto Arnold Bergstraesser, na Alemanha, que vai mudar a sua afiliação para o Centro de Estudos Internacionais do Iscte. O antropólogo vai receber 1,5 milhões por projeto de desenvolvimento com foco na África Oriental, que será desenvolvido no Quénia, Tanzânia e Moçambique.

A presidente do Conselho Europeu de Investigação, Maria Leptin, afirmou que “deixar os jovens talentos prosperem na Europa e busquem as suas ideias mais inovadoras é o melhor investimento no nosso futuro, especialmente com a competição cada vez maior em todo o mundo.”

“Devemos confiar nos jovens e nas suas perceções sobre as áreas que serão importantes amanhã. Então, estou muito feliz por ver estes vencedores das Bolsas de Iniciação ERC prontos para abrir novos caminhos e formar as suas próprias equipas. Alguns deles voltarão do exterior, graças às bolsas do ERC, para fazer ciência na Europa. Devemos continuar a assegurar que a Europa continue a ser uma potência científica”, destacou.

As bolsas ‘ERC Starting Grant’ são dirigidas a investigadores em início de carreira, possibilitando-lhes formar grupos de trabalho e desenvolver projetos em diferentes áreas científicas.

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