Armas enviadas para a Ucrânia podem cair nas "mãos de criminosos" quando a guerra terminar, alerta Interpol

CNN Portugal , HCL
3 jun 2022, 09:31
Interpol

Jürgen Stock, secretário-geral da organização, apela à cooperação dos estados membros no acompanhamento e vigilância de armas, uma vez que as armas inundarão a economia oculta quando a guerra acabar

As armas enviadas para a Ucrânia após a invasão da Rússia podem acabar na "economia global oculta" e nas "mãos de criminosos", avisa o chefe da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), Jürgen Stock, sublinhando que, uma vez terminado o conflito, uma onda de armas vai inundar o mercado negro. Por isso, refere o secretário-geral, os estados membros da Interpol, especialmente os que fornecem armas, devem cooperar no acompanhamento e vigilância de armas.

"Assim que as armas se calarem [na Ucrânia], as armas ilegais virão. Isto é coincidente com outros teatros de conflito. Os criminosos estão mesmo agora, enquanto falamos, a concentrar-se nesse objetivo", disse o alemão de 62 anos, acrescentando que "os grupos criminosos tentam explorar estas situações caóticas e a disponibilidade de armas, incluindo as armas pesadas utilizadas pelos militares".

"Estas vão estar disponíveis no mercado negro e vão criar um desafio. Nenhum país ou região pode lidar com isso isoladamente porque estes grupos operam a nível global".

Jürgen Stock vaticina que a Europa pode esperar um "fluxo de armas" que podem ser "traficadas não só para países vizinhos da Ucrânia, mas também para outros continentes". O secretário-geral disse que a Interpol instou os membros a utilizarem a sua base de dados para ajudar a "localizar e vigiar" as armas. "Estamos em contacto com os países membros para os encorajar a utilizar estas ferramentas. Os criminosos estão interessados em todos os tipos de armas... basicamente quaisquer armas que possam ser transportadas podem ser utilizadas para fins criminosos", garantiu.

Os aliados ocidentais da Ucrânia têm enviado carregamentos de armas militares de alta gama para a Ucrânia desde a invasão russa, há precisamente 100 dias. Na terça-feira, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos vão fornecer a Kiev sistemas avançados de mísseis e munições. O alarme soado pela Interpol vem também na sequência da saída dos EUA do Afeganistão, em 2021, e que levou a que enormes quantidades de equipamento militar, muitas vezes altamente sofisticado, fosse deixado para trás e caísse nas mãos dos talibãs.

Stock, que falava à Press Association em Paris, disse que o conflito na Ucrânia também tinha levado a um aumento do roubo de fertilizantes em grande escala e a um aumento de agroquímicos falsificados. "Registou-se também um enorme aumento do roubo de combustíveis. Estes produtos tornaram-se mais valiosos", disse.

Ainda que a Interpol não esteja a investigar alegados crimes de guerra, pois a sua constituição proíbe-a de se envolver em atividades políticas, Jürgen Stock acrescentou que a organização recebeu um pedido da Ucrânia para ajudar na identificação das pessoas mortas no conflito: "Não estamos na Ucrânia, mas podíamos ajudar com isto. É um trabalho de identificação clássico".

Outros pedidos seriam considerados pela Interpol numa base "caso a caso", tendo em consideração a "estrita neutralidade" da Interpol, acrescentou. "Os nossos canais de comunicação permanecem abertos [aos países membros] para um intercâmbio de informações sobre crimes de guerra. Mas não estamos a analisar crimes de guerra; a Interpol não tem poderes de investigação", reiterou, em Paris.

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