Porque é que apagar algo da Internet é “quase impossível”

CNN , Catherine Thorbecke
19 set 2022, 19:45
Redes sociais (Pexels)

Se pensa que quando apaga um conteúdo seu ele desaparece, é provável que esteja iludido.

A maioria das pessoas pode viver a sua vida digital com o pressuposto de que pode apagar as suas publicações, mensagens e dados pessoais dos serviços sempre que quiser. Mas uma audiência técnica da última semana pôs em causa essa suposição.

Peiter “Mudge” Zatko, o antigo diretor de segurança do Twitter, disse perante uma comissão do Senado dos Estados Unidos na terça-feira que aquela rede social não apaga de forma fiável os dados dos utilizadores que cancelam as suas contas, assim desenvolvendo as alegações bombásticas que tinha feito antes, em revelações enquanto whistleblower [nome usado para fontes internas de uma organização que divulgam factos secretos ou desconhecidos publicamente] que foram noticiadas em primeira mão pela CNN e pelo Washington Post no mês passado.

No seu testemunho e revelação de irregularidades, Zatko alegou que o Twitter não apaga de forma fiável os dados dos utilizadores, em alguns casos por ter perdido o rasto da informação. O Twitter tem-se defendido amplamente contra as alegações de Zatko, dizendo que a sua divulgação pinta uma “falsa narrativa” da empresa. Em resposta a perguntas da CNN, o Twitter disse anteriormente que tem em vigor fluxos de trabalho para “iniciar um processo de eliminação”, mas não disse se tipicamente esses fluxos completam o processo.

Embora as alegações de Zatko sejam espantosas, elas serviram também como mais um lembrete a Sandra Matz sobre “como somos muitas vezes insensatos” ao partilhar os nossos dados online.

“Parece muito simples, mas o que quer que ponha lá fora, nunca mais espere que se torne privado”, disse Matz, uma investigadora e professora de redes sociais na Columbia Business School. “Retirar algo da Internet, premir o botão de reset - é quase impossível”.

O risco de sentirmos que temos os nossos dados sob controlo, e confiantes na nossa capacidade de os apagar, sem dúvida que nunca foi maior. Na sequência da decisão do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA de derrubar em junho o acórdão Roe vs. Wade [assim revertendo uma decisão que viabilizou o aborto nos EUA], existe agora potencial para utilizar históricos de pesquisa, dados de localização, mensagens de texto e muito mais para punir as pessoas que procuram online informações ou acesso a serviços de aborto.

Em julho, o Facebook, que pertence à empresa Meta, foi alvo de duros escrutínios depois de ter sido noticiado que as mensagens enviadas através do Messenger e obtidas pelas autoridades policiais tinham sido usadas para acusar um adolescente do Nebraska e a sua mãe de terem feito um aborto ilegal. (Não havia qualquer indicação de que alguma das mensagens nesse caso tivesse sido anteriormente apagada).

Ravi Sen, um investigador e professor de cibersegurança na Universidade A&M do Texas, disse que as forças policiais e outros grupos “com recursos e acesso ao tipo certo de ferramentas e conhecimentos” poderiam provavelmente recuperar dados apagados em determinadas circunstâncias.

Sen afirmou que muitas pessoas não conhecem todos os locais onde os seus dados vão parar. Qualquer mensagem, quer seja um e-mail, um comentário nas redes sociais ou uma mensagem direta, é normalmente guardada no dispositivo do utilizador, no dispositivo do destinatário e nos servidores pertencentes a uma empresa cuja plataforma foi utilizada por si. “Idealmente”, disse ele, “se o utilizador que gerou o conteúdo” o apagar, “o conteúdo deve desaparecer dos três locais”. Mas geralmente, ainda segundo ele, “isso não acontece assim tão facilmente”.

Sen disse que se pode chegar às empresas e pedir-lhes que apaguem os seus dados dos seus servidores, embora muitos presumivelmente nunca deem este passo. As hipóteses de recuperar uma mensagem eliminada de um dispositivo do utilizador diminuem com o tempo, acrescentou.

A melhor maneira de controlar os seus dados online é utilizar principalmente aplicações que oferecem encriptação de ponta a ponta, explicam especialistas em privacidade. É também importante gerir as suas configurações de backup na nuvem, para garantir que os dados privados dos serviços encriptados não sejam ainda acessíveis noutro local.

Mas mesmo com todas as precauções que um indivíduo pode tomar, assim que coloca alguma coisa online, diz Matz, “perdeu essencialmente o controlo”.

“Porque mesmo que o Twitter apague agora a publicação, ou que você a apague do Facebook, outra pessoa pode já ter copiado a imagem que você colocou lá”, acrescentou ela.

Matz recomenda que as pessoas estejam mais atentas ao que partilham nas plataformas das grandes tecnológicas. Por mais pessimista que pareça, ela pensa que é melhor ser excessivamente cauteloso online.

“Basta assumir que tudo o que se coloca lá fora [na Internet] pode ser usado por qualquer pessoa, e que viverá perpetuamente", concluiu.

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