Shevchenko: «Os meus amigos morreram todos, o futebol salvou-me»

3 mai 2021, 16:48
Shevchenko (Lusa)

Histórico do futebol ucraniano recordou várias passagens do livro que recentemente lançou e que se chama «A minha vida, o meu futebol».

Andriy Shevchenko, vencedor da Bola de Ouro em 2004 e figura do futebol ucraniano, recordou a alguns momentos marcantes da sua vida, nomeadamente a infância difícil e o acidente nuclear de Chernobyl. 

O atual selecionador da Ucrânia cresceu a 200 quilómetros da central nuclear onde aconteceu o desastre nuclear em abril de 1986.

«Espero não surpreender ninguém quando digo que tudo parecia normal. Tinha dez anos. Divertia-me como um louco a jogar futebol em toda a parte. Entrei na academia do Dínamo de Kiev e logo a seguir explodiu o reactor número 4 e levaram-nos a todos», começou por dizer, em entrevista ao Corriere Della Sera sobre o seu livro «A minha vida, o meu futebol». 

«Ainda sinto angústia. Chegaram autocarros da URSS e levaram todas as crianças entre os seis e os 15 anos. Fiquei a 1 500 quilómetros de casa e recordo tudo como se estivesse num filme. Viver na URSS? Não era mau. Passava muito tempo na escola e havia desporto por todo o lado. Era um país fechado que te tornava numa pessoa fechada», acrescentou. 

Face aos problemas sociais e políticos, Shevchenko perdeu vários amigos de infância. «Comecei a ter cada vez menos amigos no bairro. Morreram todas, não por causa da radiação, mas por álcool, drogas e problemas com armas. O mundo que conhecíamos estava a ruir e os meus amigos, como todo o meu povo, não acreditavam em nada e perderam-se. O amor dos meus pais e o futebol salvou-me», confessou. 

O ex-avançado de Dínamo de Kiev, AC Milan e Chelsea lembrou a influência de Valeri Lobanovski, histórico treinador ucraniano, na sua carreira.

«Continua a fazer parte da minha vida. Esteve ao meu lado num período complicado. Era mais do que um maestro severo. Lembro-me que nos mandava fazer dezenas de repetições do que chamávamos 'Escala da Morte' com 16 por cento de inclinação. O que não vomitasse, não jogava a titular. Era duro, mas íntegro e aprendemos muito com ele», contou ainda. 

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