Pandora Papers: de que forma as celebridades usaram as offshores?

8 out 2021, 23:30
Elton John

Além dos políticos e milionários, também vários nomes do mundo artístico e, até, do desporto viram os seus nomes revelados pelos Pandora Papers

Não foram só políticos, líderes mundiais ou milionários que viram os seus nomes expostos devido a ligações a empresas offshore. O mesmo aconteceu a muitas celebridades do mundo da música, do cinema e do desporto. O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) identificou, através da análise aos documentos dos Pandora Papers, vários famosos e várias formas de como estes utilizavam estas empresas.

Shakira, Ringo Starr, Julio Iglesias, Luis Miguel, Claudia Schiffer, Jackie Shroff e Sachin Tendulkar foram alguns dos nomes de ricos e famosos revelados. Mas há mais.

Segundo o ICIJ, todos criaram companhias offshore em países como, por exemplo, as Ilhas Virgens Britânicas, onde os impostos são muito baixos ou simplesmente não existem. Além do mais, dessa forma, o seu nome como proprietários era “escondido” do conhecimento público. Fosse para comprarem iates, aviões privados, investir em imóveis ou apenas proteger o dinheiro da família.

É certo que ser proprietário de uma offshore não é crime. O uso que se faz dela ou ocultar a sua existência das autoridades fiscais é que pode fazer a diferença.

A maioria dos países permite que se criem empresas nestes paraísos fiscais, apenas exigindo que sejam declaradas e os impostos devidos pagos na morada fiscal, a sua residência oficial. Mas nem sempre isso acontece e, em muitos casos, os impostos, no valor de milhares ou milhões, ficam por pagar.

Os documentos agora conhecidos, mostram o que as celebridades fazem com o seu dinheiro em offshores.

Ringo Starr

O baterista dos Beatles, Ringo Starr, tem cerca de 346 milhões de euros em duas companhias que criou nas Bahamas e que utiliza para comprar propriedades, incluindo a sua casa em Los Angeles. Mas Ringo Starr tem ainda cinco fundos no Panamá. Três desses fundos são apólices de vida e os seus filhos são os beneficiários. Noutro fundo, são guardadas as receitas dos royalties e dos espetáculos ao vivo.

Contactados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), os representantes do artista recusaram fazer qualquer comentário.

Claudia Schiffer

A supermodelo alemã, Claudia Schiffer, tem pelos menos, seis companhias registadas nas Ilhas Virgens Britânicas. Há também um fundo, onde investe os rendimentos em benefício da família.

Os advogados de Claudia Schiffer garantiram ao ICIJ que ela cumpria as leis do pais onde vive - Reino Unido – ao lado do marido, o realizador de cinema britânico Matthew Vaughn.

Shakira

Em 2018, o uso de companhias offshore, por parte da cantora, para gerir os seus negócios no mundo da música levou à abertura de uma investigação em Espanha. Já em julho de 2021, um juiz determinou que Shakira deveria ir a tribunal, por entre 2012 e 2014, não ter pago perto de 14 milhões de euros em impostos no país e que eram devidos. A agência que trata das relações publicas da cantora fez saber, na altura, que ela pagou o valor, assim que foi informada que tinha essa divida.

O que agora nos dizem os documentos dos Pandora Papers é que, em 2019, enquanto decorria a investigação em Espanha, o nome de Shakira aparece em formulários para a criação de três offshores. Os seus advogados garantiram ao jornal La Sexta, que aquelas companhias tinham muitos anos e foram criadas antes dela viver em Espanha. E que os formulários fazem parte de um processo de transferência das mesmas para um escritório de advogados, para depois serem dissolvidas. Acescentaram ainda que nenhuma tem atividade ou qualquer bem.

Já ao El País, os advogados, disseram que a cantora usa as offshore porque a maior parte dos seus rendimentos chegam do estrangeiro e que as autoridades espanholas conhecem todas as suas companhias.

Mario Vargas Llosa

O vencedor do Prémio Nobel da Literatura, Mario Vargas Llosa, também vê o seu nome, mais uma vez ligado a offshores. Em 2016, na altura dos Panamá Papers, o escritor já tinha negado ser proprietário de uma companhia nas Ilhas Virgens Britânicas. Mas, agora, os Pandora Papers, mostram que utilizou uma outra companhia, também nas Ilhas Virgens Britânicas, para investir os royalties dos seus livros.

Um representante do escritor confirmou que este detinha a offshore agora revelada pelos Pandora Papers, a Melek Investing Ltd., mas que as autoridades sabiam da sua existência e que foi liquidada em 2017.

Sachin Tendulkar

Sachin Tendulkar, uma lenda do cricket e membro do parlamento indiano detinha uma companhia nas Ilhas Virgens Britânicas, segundo os dados dos Pandora Papers. No entanto, após a revelação dos Panamá Papers, em 2016, a companhia foi encerrada.

Um representante de uma companhia de caridade criada pelo ex-atleta confirmou ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), através de um e-mail, que essa companhia detinha investimentos legítimos e que todos os impostos tinham sido pagos.

Julio Iglesias

A estrela da música latina, cuja fortuna é estimada em cerca de 800 milhões de euros, tem mais de 20 companhias registadas nas Ilhas Virgens Britânicas.

Oito dessas empresas, desde 2008 que estão a adquirir propriedades em Miami e nos arredores. Entre elas, por exemplo, cinco lotes na ilha Indian Creek, uma área quase privada, na Florida, conhecida como o 'bunker dos milionários' e que até tem a sua própria força policial e marinha. Dois desses lotes terão sido vendidos em 2020. Júlio Iglesias não respondeu às questões colocadas pelo ICIJ.

Elton John

A estrela da pop, Elton John, tem bens avaliados em mais de 450 milhões de euros e é proprietário de mais de uma dúzia de companhias nas Ilhas Virgens Britânicas, onde recebe as verbas que ganha com os seus negócios.

O artista vai além de escrever as suas próprias musicas e também já desenvolveu alguns musicais como o “The Lion King” ou o “Billy Elliot: o musical”. Alguns nomes das suas companhias refletem isso mesmo como, por exemplo, WAB Lion King Ltd. ou HST Billy Elliot Ltd.

Segundo o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, o artista tem por hábito criar duas companhias de cada vez: uma para os ganhos obtidos no Reino Unido e outra para as verbas ganhas no estrangeiro. David Furnish, marido de Elton John surge como o único director das empresas. Os representantes do cantor garantiram que as companhias pagam os devidos impostos no Reino Unido.

Ángel Di María

A estrela do futebol argentino, Ángel Di María, recebe anualmente mais de 12 milhões de euros de salário no Paris Saint-Germain, mas tem mais negócios fora de campo e usa uma offshore no Panamá para gerir essas verbas.

Recorde-se que em junho de 2017, o atleta se declarou culpado de duas acusações de fraude fiscal, em Espanha. Acabou por pagar quase dois milhões de euros em impostos, por não ter declarado todos os valores ganhos entre 2012 e 2013. Valores que passaram pela sua offshore, quando ainda jogava no Real Madrid.

Muitas verbas de acordos feitos com marcas, terão passado por esta companhia como, por exemplo, com a Adidas. Quando criou a companhia, a Sunpex, em 2009, o jogador vendeu os seus direitos de imagem à mesma. Na verdade, um representante do jogador confirmou ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, que o jogador foi aconselhado por um especialista em impostos a criar uma empresa para receber os direitos de imagem e acrescentou que muitos outros jogadores estrangeiros, em Espanha, recebiam a mesma indicação.

Bernie Ecclestone e Flavio Briatore

Nem todas as celebridades usam as offshore para receber dinheiro de parcerias ou acordos. E há quem vá mais longe do que comprar imóveis ou propriedades. Por exemplo, Bernie Ecclestone, empresário e ex-patrão da Fórmula 1 e Flavio Briatore, antigo dono da equipa de F1 da Renault, usaram uma companhia offshore para adquirirem um clube de futebol londrino.

A compra do Queens Park Rangers  aconteceu em 2007, pelo simbólico valor de quase 244 milhões de euros. Os problemas de Bernie Ecclestone com as autoridades britânicas e suspeitas de fuga aos impostos são antigos. Em 2008, após uma investigação de nove anos, pagou 17 mlhões de euros ao fisco no Reino Unido. Já em 2014 aceitou um acordo de mais de 86 milhões de euros para evitar um processo de tentativa de suborno na Alemanha. Nos dois casos ele negou as acusações e também nos dois casos eram referidos os fundos offshore da família.

Em entrevista telefónica, Ecclestone disse não poder revelar pormenores da empresa e do negócio, mas fez questão de dizer que “foi um favor” e que o seu nome foi usado para “atrair outros investidores” para o clube de futebol. Já Briatore não respondeu às perguntas colocadas, nem fez nenhum comentário.

Jackie Shroff

Jackie Shroff, estrela de Bollywood e produtor de cinema, juntamente com a filha e o filho, também ator, são beneficiários de um fundo offshore, segundo as informações agora reveladas pelos Pandora Papers. Todavia, Jackie Shroff, será o beneficiário principal.

O fundo terá sido criado pela sogra de Jackie Shroff em 2005, na Nova Zelândia.

Em declarações ao The Indian Express, a mulher de Jackie Shroff, garantiu que nem ela, nem o marido, têm conhecimento da existência desse fundo. Os documentos revelam ainda que este foi encerrado em 2013.

Luis Miguel

O cantor e produtor musical mexicano Luis Miguel Gallego Basteri é considerado um dos cantores latinos mais populares da história. E o seu nome consta dos Pandora Papers.

Foi através de uma empresa registada nas Ilhas Virgens Britânicas, que este comprou e registou o seu iate "Sky". Tem um design italiano, quatro camarotes com capacidade para oito passageiros. São 25 metros de comprimento, cheios de luxo e todas as comodidades. O Iate foi adquirido em 2013. Duante os ultimos meses da pandemia foi o refugio eleito do cantor.

Segundo escreve o El País, o cantor mexicano utilizou uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, para adquirir o barco. Outras peças importante do negócio foram o seu irmão, Alejandro Gallego Basteri, e o seu assistente, Joe Madera. Apesar de várias tentativas, tanto junto de Luis Miguel, como do irmão ou do seu assistente, nunca foi possível obter um comentário sobre esta compra.

Desde há vários anos que o cantor tem surgido em notícias como tendo problemas financeiros. Chegou a ter o seu Rolls-Royce penhorado e, alegadamente, a vender diversas propriedades para pagamento de dívidas. Na verdade, o iate de luxo, acabou por ser vendido no ano passado, pelos mesmos motivos.

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