Astrónomos detetam buraco negro fora da Via Láctea a partir de movimento de estrela

11 nov 2021, 12:09
Galáxias escondidas atrás da Via Láctea

Corpo denso e escuro de onde nada escapa, nem mesmo a luz, situa-se no enxame de estrelas 'NGC 1850'

Astrónomos descobriram um pequeno buraco negro fora da Via Láctea ao detetarem pela primeira vez como este corpo celeste influencia o movimento de uma estrela na sua vizinhança, divulgou hoje o Observatório Europeu do Sul (OES).

O buraco negro, que por definição é um corpo denso e escuro de onde nada escapa, nem mesmo a luz, situa-se no enxame de estrelas 'NGC 1850', situado a cerca de 160 mil anos-luz da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da Via Láctea.

Para a equipa internacional de astrónomos que fez a descoberta, a forma como foi detetado o buraco negro "pode ser crucial" para identificar outros buracos negros que estejam "escondidos" na Via Láctea e em galáxias próximas, bem como para dar pistas sobre como se formam e evoluem, refere em comunicado o OES, cujo espectroscópio MUSE do telescópio VLT, no Chile, permitiu fazer as observações.

"Cada deteção que fizermos será importante para compreendermos melhor os enxames estelares e os buracos negros que aí se encontram", afirma, citado no comunicado, um dos coautores do estudo, Mark Gieles, da Universidade de Barcelona, em Espanha.

O buraco negro em causa tem cerca de 11 vezes a massa do Sol, tendo os astrónomos chegado até ele através da influência gravitacional que exerce numa estrela com cinco massas solares que o orbita. O enxame estelar onde foi detetado é jovem, tem cerca de 100 milhões de anos.

Ao comparar este buraco negro com buracos negros maiores e mais velhos, situados em enxames estelares mais velhos, os astrónomos poderão entender como é que estes corpos crescem, 'alimentando-se' de estrelas ou fundindo-se com outros buracos negros, realça o OES, organização astronómica da qual Portugal faz parte, acrescentando que "mapear a demografia de buracos negros em enxames estelares melhorará a compreensão da origem de fontes de ondas gravitacionais".

Os astrónomos esperam descobrir mais buracos negros "escondidos" com o futuro telescópio ELT, em construção no Chile com o envolvimento de ciência e tecnologia portuguesas, e que será o maior telescópio ótico do mundo.

O ELT irá revolucionar definitivamente esta área de estudo, já que conseguiremos observar estrelas consideravelmente mais ténues no mesmo campo de visão, assim como procurar buracos negros em enxames globulares [aglomerados de milhares de estrelas] muito mais distantes", sustenta a líder do estudo, Sara Saracino, do Instituto de Investigação Astrofísica da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido.

O estudo, que recorreu ainda a dados do projeto Experiência de Lentes Gravitacionais Óticas da Universidade de Varsóvia, na Polónia, e do telescópio espacial Hubble para medir a massa do buraco negro no enxame estelar 'NGC 1850', foi publicado na revista da especialidade Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

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