O prodígio «melhor» que Haaland faz história e aponta ao Mundial aos 17 anos

7 nov 2022, 08:06
Youssoufa Moukoko (Lusa)

Youssoufa Moukoko bateu mais um recorde na Bundesliga. O avançado que já espantava o mundo aos 12 anos está a crescer a olhos vistos esta época

Youssoufa Moukoko fez história. Outra vez e com dois golos do outro mundo. Agora, o miúdo de 17 anos tornou-se o mais novo de sempre a chegar aos 10 golos na Bundesliga. Só mais um marco para o prodígio que quebra barreiras desde os 12 anos. Quando jogava ao lado dele, Erling Haaland chamou-lhe «o maior talento do mundo». Esta época ele está a crescer a olhos vistos na Bundesliga. E a Alemanha espera para ver se estará na lista para o Mundial 2022, que Hansi Flick anuncia nesta quinta-feira.

O timing da exibição deste fim de semana frente ao Bochum foi perfeito para aumentar a expectativa em torno da eventual presença na convocatória da Alemanha do miúdo que vai fazer 18 anos daqui por 15 dias e é presença constante nas listas de desejos dos grandes clubes europeus, numa altura em que ainda não renovou com o Dortmund. A pré-convocatória da Alemanha não foi divulgada, mas o jornal Bild publicou uma lista de 44 jogadores, que incluía Moukoko. O selecionador disse que nem todos os nomes da lista estavam certos. Mas, numa altura em que além do mais perdeu o avançado Timo Werner por lesão, Flick já conversou pessoalmente com o jovem prodígio do Dortmund. «Falámos na quinta-feira. Ele disse que eu devia continuar a jogar como estou a jogar, que eles estão a ver tudo e que no fim quem estiver melhor vai ao Mundial», contou Moukoko no final do jogo com o Bochum.

O jovem avançado é internacional sub-21 pela Alemanha e elegível também para jogar pelos Camarões, onde nasceu. Foi lá que viveu até aos 10 anos, quando foi ter com o pai, que vivia há muito na Alemanha. Começou a jogar no St. Pauli, todo um mundo novo para o miúdo que tinha crescido a jogar na rua. «Nas primeiras três semanas nem tinha botas para jogar», contou. O Dortmund percebeu rapidamente o potencial do fenómeno que despontava em Hamburgo e levou-o para a sua academia.

Antes de mais, uma pausa para vermos do que se fala quando se fala de Moukoko

A expectativa em torno de Youssoufa Moukoko é muita, há muito tempo. Ainda nem era adolescente e já tinha o mundo de olhos postos nele. Aos 12 anos jogava nos sub-17 do Borussia Dortmund e chegava à seleção sub-16 da Alemanha. Aos 14 anos assinalou a estreia na equipa sub-19 marcando seis golos num jogo. Também não lhe falta ambição. Quando tinha 13 anos, contou a BBC, disse qualquer coisa como isto: «O meu objetivo é tornar-me profissional no Dortmund, vencer a Liga dos Campeões com o Borussia e ganhar a Bola de Ouro.»

Marcou 141 golos em 88 jogos nos escalões de formação do Dortmund. «É muito melhor do que eu quando tinha 15 anos. Nunca vi um jovem de 15 anos tão bom na minha vida», dizia um tal de Erling Haaland no verão de 2020, quando Moukoko começou a treinar com a equipa principal.

Suspeitas e abusos racistas

O avançado norueguês acrescentava que não queria «colocar demasiada pressão» sobre o miúdo, mas ela é proporcional à expectativa, e foi muita para Moukoko desde cedo. De tal modo que a própria Federação alemã, em acordo com o Dortmund, decidiu deixar de chamá-lo às seleções durante um período, depois das primeiras presenças nos sub-16, para retirar um pouco do foco sobre o jogador. Só voltou em 2020, para jogar nos sub-20. Por essa altura, Moukoko também teve de lidar com as suspeitas que se levantaram em relação à sua idade, como aconteceu com vários jogadores de origem africana. A especulação foi muita e forçou o pai de Youssoufa a mostrar a certidão de nascimento registada no consulado alemão da capital dos Camarões, enquanto a própria Federação veio a público admitir que tinha debatido o assunto com o Dortmund e garantir que não existiam dúvidas sobre a veracidade da idade do jogador.

Moukoko admitiu que «foi difícil lidar» com essas suspeitas. Mas isso pode também tê-lo ajudado a crescer. «Ele foi mentalmente desafiado desde muito cedo. Houve muita raiva em torno dele e a especulação pública sobre a sua idade muitas vezes sobrepôs-se à valorização do que ele fazia em campo», disse Michael Feichtenbeiner, que treinou Moukoko na seleção sub-16, à BBC.  

Ele lidou muitas vezes com hostilidade dos adversários, incluindo abusos racistas. Em agosto de 2020, foi alvo de insultos constantes no dérbi de sub-19 com o Schalke em que assinou um hat-trick. O Schalke emitiu um pedido de desculpas formal, enquanto Moukoko publicava uma mensagem no Instagram que dizia: «Podem odiar-me e insultar-me, mas nunca podem deitar-me abaixo.» Tinha 15 anos.

Recordes atrás de recordes

Três meses depois desse dérbi de juniores, Moukoko fazia história na Bundesliga. Até então, os regulamentos impunham os 17 anos como idade mínima para jogar na competição, mas mudaram exatamente por essa altura, abrindo caminho a que Moukoko se estreasse um dia depois de completar 16 anos. Foi a 21 de novembro de 2020, quando Lucien Favre o lançou aos 85 minutos do jogo com o Hertha Berlim, com todo o simbolismo possível: substituiu Haaland, que tinha feito um póquer nessa vitória do Dortmund por 5-2. No fim do jogo, o norueguês voltou a tirar o chapéu ao companheiro de equipa, com uma lógica desconcertante: «Moukoko é o maior talento do mundo, nesta altura. Tem uma grande carreira à sua frente. Eu já tenho mais de 20 anos, portanto estou a ficar velho. É assim que as coisas são.»

Nessa temporada sucederam-se os recordes. A 8 de dezembro entrou em campo frente ao Zenit e tornou-se o mais novo de sempre a jogar na Liga dos Campeões, e dez dias depois o mais jovem a marcar um golo na Bundesliga, frente ao Union Berlin. Nessa temporada, fez 15 jogos pelo Dortmund, a maior parte deles lançado por Edin Terzic, o treinador que em dezembro sucedeu a Favre. Mas lesionou-se no final de março e perdeu o resto da temporada.

Tempo para crescer

A ascensão não foi linear. Em 2021/22, com Marco Rose como treinador e várias ausências por lesão pelo meio, fez no total 22 jogos pelo Dortmund, apenas dois deles a titular, com dois golos marcados. Mas teve tempo para crescer. E para acrescentar à potência, explosão e talento maior sentido de jogo coletivo.

Esta época, depois da saída de Haaland e face ao infortúnio de Sebastien Haller, diagnosticado com um cancro nos testículos, Mokouko foi-se afirmando na equipa, de novo orientada por Terzic. Nas últimas semanas tem sido a primeira opção, à frente de Anthony Modeste, outra cara nova que chegou para o ataque do Dortmund. Em 20 jogos, metade deles a titular, tem seis golos marcados e cinco assistências. Na Bundesliga, apontou o golo da vitória no dérbi com o Schalke e marcou também no empate a dois golos com o Bayern Munique.

«O facto de ser motivo de conversa em todas as entrevistas e conferências de imprensa foi algo que o Youssoufa mereceu pela suas exibições. O ano passado não foi fácil para ele, teve de lidar com muitas lesões», disse Terzic depois do bis de Moukoko ao Bochum, falando sobre a forma como o avançado evoluiu: «Deu um enorme passo em frente no seu jogo. Oferece sempre uma opção de passe entre linhas. Olha muito melhor para a bola. Usa cada vez melhor o seu corpo e ao fazê-lo permite-nos ganhar segundos importantes para progredir.»

Moukoko diz que Terzic tem sido muito importante na sua evolução. «Este ano estou mais estável e ganhei confiança. O Edin dá-me muita confiança e fala muito comigo. Também trabalhamos muito com vídeos em que ele me mostra o que posso fazer melhor», disse, contando aliás que o chapéu para o enorme segundo golo ao Bochum nasceu de uma dica do treinador: «Por volta dos 25 minutos o Edin disse-me que o guarda-redes sai sempre da linha. Foi por isso que levantei a cabeça e tentei o remate.»

O contrato por renovar

Depois, a experiência do Dortmund na gestão de jovens talentos ajuda. O clube procurou dar a Moukoko tempo para evoluir, diz por seu lado o diretor-desportivo Sebastian Kehl. «Quando as coisas não estavam a correr bem, mantivemo-nos calmos. É isso que estamos a fazer agora», afirma.

Moukoko nunca deixou de estar na ribalta. E nem sempre por bons motivos. No final de 2021 foi alvo de uma investigação policial, encerrada sem acusação, depois de ter vindo a público que teria trancado a ex-namorada em casa.

Agora é também a questão da renovação de contrato a dar que falar. O vínculo de Moukoko termina em junho de 2023 e o Dortmund já anunciou que fez uma proposta de renovação. Na imprensa alemã admite-se que o jogador esteja à espera de completar 18 anos e atingir a maioridade legal para formalizar o novo acordo. Perante a especulação quase diária sobre o seu futuro, Mokouko apenas vai dizendo que está bem onde está. «Estou aqui há sete anos», disse à Sport1: «Sinto-me em casa.»

Patrocinados