Mercado: o reino de Inglaterra, com Benfica e Sporting líderes de vendas

2 set 2022, 10:11

Clubes da Premier League bateram recordes de investimento, com uma capacidade financeira muito acima das restantes grandes Ligas. As transferências mais caras, os maiores gastadores e os que mais ganharam

A transferência de Aubameyang do Barcelona para o Chelsea, ao soar do gongo, cruzou dois dos grandes protagonistas deste verão e fechou uma janela de mercado em que a Premier League bateu recordes de investimento, com mais de dois mil milhões de gastos estimados. E confirmou que o poder financeiro do futebol inglês está muito acima do resto da Europa. Do lado dos vendedores, Benfica e Sporting estão entre os clubes que mais ganharam neste verão.

A nível individual, não se bateram recordes nesta janela. A transferência mais avultada foi a de Antony para o Manchester United, no valor inicial de 95 milhões de euros, num top 20 onde entra o internacional português Matheus Nunes, que trocou o Sporting pelo Wolverhampton. Consulte aqui a lista.

Mas houve muitos negócios de grande dimensão, liderados pelos clubes ingleses, que investiram como nunca, passados os anos de quebra por causa da pandemia. À espera de dados oficiais da FIFA sobre os valores envolvidos nas transferências internacionais, é possível ter já a noção de que os gastos do futebol inglês superam em muito o recorde anterior, que datava de 2017 e era de 1,6 mil milhões. Entre os 10 clubes que mais investiram, de acordo com os dados estimados pelo site Transfermarkt, só há três fora da Premier League: Barcelona, Bayern Munique e PSG.

O verão em que avançados de topo como Robert Lewandowski e Erling Haaland mudaram de clube fica também marcado pelo acentuar da tendência para grandes investimentos dos clubes de topo em defesas-centrais de alto nível. Entre as 20 transferências mais avultadas do verão há cinco centrais.

O mercado fica ainda marcado pelas mudanças que não chegaram a acontecer. Desde logo no que diz respeito a Cristiano Ronaldo. Depois de o internacional português se ter apresentado mais tarde no Manchester United, a expectativa sobre o seu futuro fez correr rios de tinta, mas no final de contas Ronaldo continua em Old Trafford. Bernardo Silva foi outro nome recorrente nas manchetes de mercado, mas também não saiu do Manchester City.

Mas houve muitas, muitas mudanças. Um olhar para as principais tendências nas grandes Ligas.

Em Inglaterra, o Chelsea contratou no último dia de mercado Aubameyang e ainda recebeu o médio Zakaria por empréstimo da Juventus, confirmando o estatuto de maior investidor deste mercado. Com novos proprietários, os Blues demoraram a chegar ao mercado, mas quando o fizeram foi em força, apostando em reforços como Sterling, Fofana e Koulibaly. Ou Cucurella, o lateral contratado ao Brighton por 65 milhões e que dá a medida da enorme dimensão dos negócios domésticos na Premier League, bem como da forma como a fasquia de custos sobe para os grandes clubes.

Que o diga o Manchester United, o outro clube que passou a barreira dos 200 milhões de euros gastos e que sentiu muitas dificuldades para assegurar os reforços pretendidos por Ten Hag, o novo treinador. Depois de muitas saídas e de um péssimo arranque na Premier League, os «red devils» acabaram por fazer fortes investimentos em dois nomes de peso, Casemiro e Antony.

A capacidade de investimento é transversal à Premier League. O recém-promovido Nottingham Forest, por exemplo, investiu mais de 150 milhões de euros em duas dezenas de reforços.

Em Espanha, a tendência global foi de contenção, com exceção do Barcelona, que na tentativa de recuperar a hegemonia avançou para uma estratégia de tudo ou nada, antecipando receitas futuras para poder contratar, muito, e de caminho criar condições para deixar de estar em incumprimento das regras salariais da Liga espanhola. Chegaram Lewandowski, Raphinha e Koundé, ainda Bellerin no último dia e também estará para chegar Marcos Alonso, que rescindiu com o Chelsea. Os catalães também promoveram várias saídas, para tentar equilibrar as contas.

O Real Madrid investiu forte no médio Tchouameni, contratado ao Mónaco, no verão em que veria sair Casemiro, mas de resto esteve bem mais comedido. Os restantes clubes da Liga espanhola não superaram gastos médios acima dos trinta milhões de euros, valores inferiores, como comparação, ao que gastaram os chamados três «grandes» em Portugal.

Na Alemanha, a Bundesliga perdeu as suas duas grandes referências ofensivas, Erling Haaland e Robert Lewandowski. Mas tanto Bayern Munique como Borussia Dortmund responderam com investimentos fortes. Os bávaros contrataram Sadio Mané, De Ligt ou Gravenberch, além de terem investido numa aposta de futuro para o ataque, Mathys Tel. O investimento da maioria dos outros clubes não é comparável, numa Liga que viu sair muitos jogadores e que tem aliás saldo positivo entre gastos e ganhos.

Em Itália, este foi um verão de muitas mudanças. Também houve grandes nomes a deixar a Serie A, como De Ligt, Koulibaly ou Fabian Ruiz, mas chegaram, ou voltaram, muitas referências, entre elas Di María, Pogba ou Lukaku. A Roma de José Mourinho ganhou novo ânimo com a chegada de reforços como Dybala, Matic ou Wijnaldum, ainda que este último enfrente uma paragem por lesão. Contas feitas, a Serie A é a segunda das grandes Ligas europeias com maior investimento, ainda que o gasto estimado de 750 milhões de euros fique muito aquém da Premier League.

Em França, o PSG voltou a liderar os gastos, com investimento forte em reforços portugueses, nas contratações de Vitinha, Renato Sanches e de Nuno Mendes em definitivo. Com um luxuoso e extenso plantel, os parisienses também promoveram várias saídas, entre elas a cedência de Julian Draxler ao Benfica. Ainda que com valores bem inferiores, o Marselha também investiu forte, com mais de uma dezenas de reforços, entre eles Nuno Tavares. A fechar o mercado, houve outro internacional português a aumentar o contingente luso em França: André Gomes, que assinou pelo Lille de Paulo Fonseca.

Os clubes que mais gastaram*

1. Chelsea, 278,99 milhões de euros

2. Manchester United, 238 milhões

3. West Ham, 182 milhões

4. Tottenham, 169.90 milhões

5. Nottingham Forest, 161.95 milhões

6. Barcelona, 153 milhões

7. PSG, 147.5 milhões

8. Manchester City, 139.5 milhões

9. Bayern Munique, 137.5 milhões

10. Wolverhampton, 136.6 milhões

*Dados estimados pelo site Transfermarkt

Ajax campeão de vendas, Benfica e Sporting logo a seguir

Do lado dos que clubes que mais ganharam, o Ajax retirou uma vez mais muitos dividendos do seu tradicional perfil de clube potenciador de jogadores e lidera o pelotão, graças antes de mais a dois grandes negócios com o Manchester United, Antony e Lisandro Martínez. A essas juntam-se, entre outras, as transferências de Haller para o Dortmund ou de Gravenberch para o Bayern Munique. Foram muitos os jogadores a deixar o clube de Amesterdão, que também apostou forte em contratações, superando os 100 milhões de gastos, para compor um plantel que passa a contar com o português Francisco Conceição.

O segundo clube da lista, ainda de acordo com os dados estimados pelo Transfermarkt, é o Manchester City, que apesar de ter gasto mais de 130 milhões de euros em reforços tem saldo positivo, por força sobretudo das saídas de Sterling para o Chelsea e Gabriel Jesus e Zinchenko para o Arsenal, mas também, por exemplo, da transferência definitiva de Porro para o Sporting. E ainda manteve Bernardo Silva.

O Benfica, que tem como grande negócio a transferência de Darwin para o Liverpool mas conta ainda com as vendas dos passes de Yaremchuk (Club Brugge), Everton Cebolinha (Flamengo), Jota (Celtic), Gedson (Besiktas) ou Vinicius (Fulham), surge em terceiro na lista, com cerca de 122 milhões de euros.

Em quarto lugar está o Sporting. Com quase 120 milhões de euros em vendas nas transferências de Matheus Nunes (Wolberhampton), Palhinha (Fulham) e Nuno Mendes (PSG), a que se juntam Tabata (Palmeiras) ou Sporar (Panathinaikos), esta foi a janela de mercado mais lucrativa dos leões.

O FC Porto surge na 14ª posição, com ganhos estimados de 86 milhões, a maior fatia nas transferências de Vitinha (PSG) e Fábio Vieira (Arsenal), a que se juntam Francisco Conceição, Sérgio Oliveira (Galatasaray) ou Marchesín (Celta Vigo).

Os clubes que mais ganharam*

1. Ajax, 216.22 milhões de euros

2. Manchester City, 159.90 milhões

3. Benfica, 127.30 milhões

4. Sporting, 119.80 milhões

5. Mónaco, 117 milhões

6. Brighton, 113.9 milhões

7. Leeds, 108.2 milhões

8. Bayern Munique, 104.4 milhões

9. Juventus, 103.15 milhões

10. Lille, 99 milhões

*Dados estimados pelo site Transfermarkt

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