«As crianças viram um campeão do mundo convertido num drogado»

11 out 2022, 09:06
Luvo Manyonga em 2017

Luvo Manyonga, campeão do mundo em 2017 e vice-campeão olímpico no Rio, conta como viveu os últimos anos na África do Sul, com a recaída em drogas e a morte da mãe

O sul-africano Luvo Manyonga, campeão do mundo de salto em comprimento em 2017 em Londres e vice-campeão olímpico no Rio de Janeiro, em 2016, está longe dos grandes palcos desportivos – está suspenso quatro anos e só pode competir de novo em dezembro de 2024 – mas garante, aos 31 anos, estar a tentar recuperar depois de ter recaído nas drogas, no meio de um mau momento familiar.

Manyonga não tem representante, redes sociais, e-mail ou telefone, mas foi encontrado pela BBC e contou como viveu os últimos anos, depois da glória desportiva. Perdeu a mãe, Joyce, em 2020, num momento tão duro que quase fez Manyonga cometer as piores loucuras, ao voltar a cair nas drogas, numa fase semelhante à que lhe tinha acontecido cerca de uma década antes.

«Eu podia ter facilmente perdido a minha vida. Eu estava a fazer todo o tipo de loucuras. Não gosto de mencionar todas, algumas delas são as que os drogados fazem: roubar carros, assaltar casas…», contou, em entrevista publicada pela BBC, no domingo.

«Eu era um bandido, de certa forma, pelo modo como me perdi nas drogas. Estou feliz porque Deus esteve comigo e estou feliz por ainda estar vivo», disse Manyonga, que se viciou em “tik”, uma espécie de metanfetamina comum na África do Sul.

«Achei que podia consumi drogas de novo e competir, mas estava a mentir a mim mesmo. É a verdade, eram as drogas a falar no meu cérebro. As crianças vinham ter comigo – e eu drogado – e perguntavam-me: “Luvo, quando vamos ver-te na televisão?”. Esse tipo de comentários fez-me ver que eu estava a perder o ponto. Aquelas crianças a verem-me, um campeão do mundo convertido num drogado, um zé-ninguém», partilhou, admitindo que a sua suspensão é justa.

«Mas eu sou forte. Esta é a minha realidade e não posso fugir dela. As coisas têm sido difíceis, não vou mentir. A única coisa que tenho de fazer é encontrar o Luvo. Não o campeão mundial, nem o viciado. O Luvo», afirmou, com esperança em voltar à ação nas pistas, quando tiver 33 anos e cumprir a suspensão determinada.

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