Finalmente a verdade da mais mítica e polémica foto de Johan Cruyff

12 abr 2022, 12:18
Johan Cruyff no Barcelona

Quase meio século depois, Horácio Seguí assume que o autor da foto é o seu irmão. «Mentiu durante 49 anos», diz Rafa, em alusão à fotografia do golaço do holandês no Barcelona-Atlético Madrid

Uma das fotografias mais emblemáticas do golaço de Johan Cruyff ao serviço do Barcelona, ante o Atlético de Madrid, na época 1973/74, atribuída ao fotojornalista Horacio Seguí, foi, afinal, tirada pelo seu irmão, Rafael Seguí.

A revelação surgiu através do verdadeiro autor, em declarações à agência EFE, com corroboração de fontes próximas a Horacio Seguí que, depois das provas documentadas pelo seu irmão através do também fotógrafo Antonio Campañá, admitiu que a autoria da fotografia é mesmo de Rafa, que na altura trabalhava para uma agência que tinha o irmão Horácio como dono.

Entre os fotógrafos presentes a 22 de dezembro de 1973 em Camp Nou estavam os irmãos Seguí, mas também Campañá, que testemunharam um golo que foi apelidado por repórteres e adeptos como «o golo impossível». Cruyff ganhou também a alcunha de «holandês voador».

A verdade é que, entre essa obra de arte, outra obra de arte (a fotográfica) ficou envolta entre uma mentira.

Horacio Seguí tinha o irmão Rafa, 19 anos mais novo, como repórter fotográfico a trabalhar para a sua empresa, entre 1965 e 1974, antes de este encetar uma carreira de sucesso como fotógrafo desportivo, com coberturas de Jogos Olímpicos e outras competições mundiais de modalidades.

Até esta data, era a Horacio e a Campañá que eram atribuídas as duas fotografias mais icónicas do golo de Cruyff, no momento em que o holandês desviava, todo no ar, a bola para a baliza. Mas, quase meio século depois, as provas de Rafa Seguí e do próprio Campañá desfizeram dúvidas, que aparentemente até não existiam.

O golo de Johan Cruyff:

Segundo uma carta de Horacio, ele acreditou sempre que estava situado na zona da linha de fundo, onde, na verdade, foi o seu irmão que captou a fotografia do golo de Cruyff. «Pensei sempre que tinha sido eu a fazer a fotografia, já que, no campo, eu colocava-me sempre do lado oposto do fotógrafo Nicolas González e, como a fotografia dele era de outro ângulo, eu estava convencido de que a tinha feito», refere, numa versão contestada pelo irmão Rafa, que à EFE contou que, nessa zona da linha de fundo, à direita da baliza, ficavam os fotojornalistas mais jovens, como ele na altura, dado que a luz era pior.

«Todos os fotógrafos históricos, os maiores, ocupavam sempre a parte à esquerda da baliza porque era de onde vinha a luz da tribuna. Nós, jovens, tínhamos de ir para o outro lado. Naquele momento éramos quatro fotógrafos. Creio que era um dos irmãos Pérez de Rozas, Antonio Campañá, eu e um fotógrafo da Marca. Não sei se têm todos a fotografia, mas o Campañá tem», contou Rafa Seguí.

Fontes consultadas pela EFE, próximas a Horacio, asseguram que o fotógrafo «não tem problema» em reconhecer o autor da fotografia, apesar de, nos últimos 49 anos, Horacio ter atribuído a si mesmo a autoria da imagem que apareceu com o seu nome nos arquivos do Barcelona, nos meios de comunicação, em editoriais e até numa exposição recentemente realizada no Colégio de Jornalistas da Catalunha, sobre a sua obra. «Éramos uma equipa como eram os Pérez de Rozas e os Branguli e era difícil saber quem fez algumas fotografias. Eu recordo que assinava como Seguí. Esta mesma fotografia, quando publicada pela primeira vez, conta como “Irmãos Seguí”», argumentou ainda Horacio, na mesma carta.

«A foto é “dele” [ndr: de sua propriedade] porque nós trabalhámos juntos e era um pacto laboral, mas isto é como com os quadros. Podes ter um de Rembrandt e de Picasso e és proprietário de um de Rembrandt e de Picasso, mas nunca serás nem Rembrandt, nem Picasso. O mesmo acontece com a fotografia», explica agora, por seu turno, Rafa.

«[Horacio] mentiu durante 49 anos, desde 1974 que vou dizendo que esta fotografia é minha. Nunca fez caso», lamentou ainda Rafa, que não descarta ações legais contra o seu irmão, agora com 92 anos.

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