Lua, 50 anos: e no meio o Independiente de Avellaneda e uma bandeirola

20 jul 2019, 12:02
A chegada do homem à Lua

A história que ligou para sempre o clube argentino ao salto gigante de Buzz Aldrin, Neil Armstrong e Michael Collins. Os sócios 80.399, 80.400 e 80.401 do Independiente

Foi há 50 anos que o homem chegou à Lua. Nos meses que antecederam esse 20 de julho de 1969, o entusiasmo à volta da viagem da Apollo 11 tinha contagiado o mundo. Em Avellaneda, na Argentina, um homem transformou essa ilusão numa ideia luminosa que ligou para sempre o Independiente ao salto gigante de Buzz Aldrin, Neil Armstrong e Michael Collins. Os sócios 80.399, 80.400 e 80.401 do Independiente. E a bandeirola, viajou ou não com eles? Entre a realidade e o mito, venha a história.

O Independiente na Lua. Foi Héctor Rodríguez, então secretário do clube, quem teve a ideia: «Se eles vão ser os grandes heróis deste século, têm de ser sócios do Independiente.» E o plano pôs-se em marcha.

Os dirigentes do clube emitiram mesmo cartões de sócios honorários para os tripulantes da Apollo 11, com fotos dos três nos seus fatos de astronautas, cedidas pela embaixada dos Estados Unidos, que ajudou também a chegar à NASA os cartões e outros presentes do Independiente: equipamento e galhardetes do clube.

Foto: Infiernorojo.com

Para dar mais corpo à narrativa, há registo de uma resposta de Neil Armstrong, o homem que deu os primeiros passos na Lua, a agradecer a oferta e a dizer que gostaria de ir à Argentina e arranjar tempo para uma visita ao clube.

No final de 1969, poucos meses depois de o mundo o ter visto em direto caminhar sobre a Lua, Neil Armstrong foi mesmo à Argentina, para uma receção na embaixada dos Estados Unidos. E aqui a trama adensa-se.

Héctor Rodríguez estava entre os convidados. Depois, contou que se encontrou com Armstrong nesse evento. E disse que nessa conversa, intermediada por uma tradutora, o norte-americano lhe revelou que tinha levado consigo o galhardete, como uma espécie de amuleto. O que faria do Independiente o único clube do planeta a ter chegado à Lua.

Boris Lisnovsky era então o tesoureiro do Independiente. Foi ele quem assinou os cartões de sócio e ajudou Hector Rodríguez a pôr o plano em prática. Há 10 anos, contava a história ao jornal La Nacion.

Na sede do Independiente há uma vitrina com um recorte de jornal da época que conta a história e mostra a reprodução dos cartões de sócio, essa imagem está também no vídeo acima. Em agosto de 2012, quando Neil Armstrong morreu, o clube cumpriu um minuto de silêncio pelo seu sócio nº 80.400, antes de um jogo com o Arsenal de Sarandi.

Nos corações dos adeptos do Independiente há essa ilusão de uma paixão que vai até à Lua. Mesmo que não tenha sido bem assim.

Em busca da bandeirola

Claudio Gómez é jornalista e adepto do Independiente. Há dez anos, escreveu na já extinta revista El Gráfico um artigo «delirante» - é ele quem o diz - em que vestia a pele de um adepto à procura de respostas. Partia das teorias da conspiração que questionam a chegada do homem à Lua para chegar à questão que realmente o inquietava: a bandeirola do Independiente.

Nessa reportagem acabava a falar com Hector Rodríguez, que repetiu o que sempre disse: «Armstrong comentou comigo que o Independiente tinha sido o único clube do mundo que tinha tido esse gesto, que o tinha surpreendido muito, e decidiu então levar a bandeirola à Lua como amuleto.»

Agora, Claudio Gómez sorri quando o Maisfutebol lhe pede a opinião sobre tudo isto. Nesta história, o que é verdade e o que é mito? «O clube enviou aos três tripulantes da Apollo 11 os cartões de sócio, equipamento e galhardetes, antes de eles viajarem para a Lua. Mandaram para a NASA. Isto é certo», diz: «Também é certo que Neil Armstrong veio a Buenos Aires depois da chegada à Lua, esteve na embaixada dos Estados Unidos. Nessa visita esteve um dirigente do Independiente. Isto é tudo certo.»

«Esse dirigente, Héctor Rodriguez, contou que o Neil Armstrong lhe disse que tinha levado o galhardete na viagem à Lua», continua Claudio Gómez. «Ele disse-me que o Neil Armstrong lhe disse isso.» E então, que lhe parece? Uma pausa e mais um sorriso: «É pouco provável.»

Ao longo deste meio século, a história foi revisitada muitas vezes na Argentina. Ainda agora o site Infobae voltou a falar com Boris Lisnovsky, que mantém a história, mas admite que ela nunca foi confirmada: «Quando estiveram num evento na Argentina eles disseram-nos que a levaram na cápsula, obviamente nunca o pudemos verificar. Os tipos estavam encantados com o Independiente porque realmente tinha sido o único clube do mundo que teve esse gesto.»

Nessa reportagem, o Infobae falou também com o historiador argentino Diego Córdova, que investigou as missões Apollo e escreveu o livro «Pegadas na Lua». Questionado sobre a bandeirola e o que lhe teria acontecido, admite todas as dúvidas: «Estive atrás desse dado. Tenho as minhas dúvidas porque o módulo lunar tinha uma carga limitada para levar e voltar a trazer. Já levava coisas de âmbito social como bandeiras de muitos países, entre as quais a da Argentina. Não posso dizer se a levaram ou não.»

Rei de Copas e Rei do Cosmos, história «tão linda»

Seja como for, será sempre uma bela história. Como diz Claudio Gómez: «É tão linda, esta história da bandeirola na Lua. Parece fantasia, parece um conto. Por mais que seja um mito, é muito divertida.»

A bandeirola do Independiente na Lua já faz parte do imaginário dos adeptos do Independiente. E dos rivais. «Os hinchas do Independiente estão convencidos da história. Os outros não…», ri-se o jornalista.

Ela dá ao clube uma dimensão para lá deste mundo, é demasiado bom para não explorar. Independiente, Rei de Copas e Rei do Cosmos. «É o clube recordista de vitórias na Copas Libertadores na história, ganhou sete. Por isso chamam-lhe o Rei de Copas. Assim seria também o Rei do Cosmos», nota Claudio Gómez.

Portanto, se questionarmos um adepto do Independiente sobre tudo isto, ele responderá provavelmente como respondeu Hector Rodríguez a Gómez, quando ele lhe disse que há quem negue a própria ida do homem à Lua: «Devem ser hinchas do Racing!»

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