Foi especialmente dramático o final de época do Hamburgo, que detém um registo incrível nas últimas temporadas. Ficou sempre à porta da Bundesliga. Mas isso não afastou os adeptos que, jogo após jogo, enchem o Volksparsktadion
Some club’s fans would have already left. Some wouldn’t even have turned up at all.
But not 𝑶𝒖𝒓 fans. Sold out and still singing and supporting 30 minutes after full-time.
𝑶𝒖𝒓 fans are special.
𝗜𝗺𝗺𝗲𝗿 𝘄𝗶𝗲𝗱𝗲𝗿 𝗛𝗦𝗩! 💙🤍🖤 #nurderHSV pic.twitter.com/QjJx64ZJx4
— HSV English (@HSV_English) June 6, 2023
Isto aconteceu depois de o Hamburgo ter ficado à porta do regresso ao primeiro escalão pela quinta temporada consecutiva. Não conseguiu subir e por isso este estádio e estes adeptos vão voltar a ver jogos da 2. Bundesliga na próxima época.
Desta vez foi especialmente dramático. Na última jornada, no final da vitória sobre o Sandhausen, os adeptos chegaram a invadir o relvado a festejar a subida. Dizem tudo as expressões de alegria a transformar-se em incredulidade à medida que as pessoas percebem que o Heidenheim, depois de estar a perder por 2-0, marcou um golo e ainda mais outro já nos descontos, deu a volta e garantiu para si a história feliz da época, uma estreia absoluta na Bundesliga.
HSV-fans bestormden het veld nadat ze dachten promotie te hebben binnengesleept. Maar door goals in de 93ste- en 99ste minuut promoveert Heidenheim alsnog direct ten koste van HSV🤯 pic.twitter.com/XSjRlrxA86
— ESPN NL (@ESPNnl) May 29, 2023
O Hamburgo teve de jogar o play-off, o segundo consecutivo. Apesar daquele pesadelo na última jornada e da derrota na primeira mão por 3-0, o Volksparkstadion teve lotação esgotada para assistir à segunda mão. O Hamburgo ainda marcou primeiro, a alimentar a ilusão, mas depois o Estugarda deu a volta. 3-1, ainda não foi desta.
Na baliza do Hamburgo estava Daniel Fernandes. O guarda-redes luso-alemão, que foi internacional sub-21 por Portugal, viveu a quarta temporada no clube. Foi protagonista involuntário na segunda mão, com um erro que resultou no segundo golo do Estugarda. Mas a reação dos companheiros e dos adeptos foi de apoio ao guarda-redes, que foi uma referência de solidez da equipa ao longo da temporada.
«É uma desilusão brutal», disse Daniel Fernandes no fim, visivelmente emocionado. «Mas dá para ver como este clube é grande e poderoso. É isso que nos vai dar força para recuperarmos nos próximos dias.»
Daniel #HeuerFernandes: "The way we performed as a club today will give us strength for the future. And even if disappointment prevails now, of course, we will get up again."#nurderHSV #HSVVfB pic.twitter.com/ySkE2ubN6K
— HSV English (@HSV_English) June 5, 2023
Este foi o quarto play-off de acesso à Bundesliga que o Hamburgo teve de jogar. Todos eles na última década, a pior fase do clube que se orgulhava de ser o único que jogou sempre no primeiro escalão, desde a sua fundação em 1919. Um dos nomes que chamam ao Hamburgo é «Dinossauros», precisamente por causa dessa longevidade. No Volksparkstadion, reconstruído em 2000, havia um relógio gigante a assinalar precisamente a passagem do tempo entre a elite.
O Hamburgo foi seis vezes campeão alemão, três delas na era da Bundesliga, quando viveu a sua época de ouro. Começou com a conquista da Taça das Taças, em 1977. Seguiu com os três campeonatos alemães, mais dois segundos lugares nas cinco temporadas entre 1979 e 1983. E culminou com a vitória na Taça dos Campeões Europeus de 1983, quando venceu a Juventus na final. No banco estava o mítico Ernst Happel, o treinador austríaco que em 1970 já tinha sido campeão europeu com o Feyenoord, em campo nomes como Felix Magath, Horts Hrubesch ou Wolfgang Rolff, campeões da Europa e vice-campeões do mundo com a então RFA, a Alemanha Ocidental.
O relógio do Volksparkstadion que parou ao fim de 54 anos
Passou muito tempo. O Hamburgo ainda voltou à Europa, esteve em duas meias-finais consecutivas da Taça UEFA na primeira década deste século. Mas depois começou a derrapagem. Em 2013 e 2014, depois de terminar em 16º lugar na Bundesliga, sobreviveu a dois play-offs pela manutenção. Mas em 2018 não se salvou. Apesar da vitória na última jornada, frente ao Borussia Moenchengladbach, foi penúltimo classificado e desceu mesmo, pela primeira vez na sua história. O relógio do Volksparkstadion parou, ao fim de 54 anos e 260 dias.
O relógio foi pretexto para muitas piadas e provocações de adeptos rivais nos meses que se seguiram. Ainda seria adaptado, para contar o tempo desde a criação do clube. Mas era uma memória dolorosa. Acabou por ser desmantelado e leiloado, em 2019.
Quanto ao Hamburgo, manteve uma aposta forte para o regresso à Bundesliga. Andou sempre perto. E o simples relato destas cinco épocas é devastador. Em 2018/19 ficou em quarto lugar, a um ponto dos lugares de luta pela subida. O cenário repetiu-se na época seguinte. E na outra, quando voltou a terminar na quarta posição.
Na temporada passada, o Hamburgo garantiu o terceiro lugar, numa última jornada épica, em que deu a volta no último quarto de hora para vencer o Hansa Rostock. Seguiu-se o play-off com o Hertha. Em Berlim, o Hamburgo venceu o primeiro jogo por 1-0. E depois o Hertha deu a volta à decisão, com um triunfo por 2-0 que gelou o Volksparkstadion.
Esta época a história repetiu-se. E confirmou aquela que é uma tendência deste play-off de acesso à Bundesliga. Desde que ele foi instituído no atual formato, em 2009, apenas por três vezes levaram a melhor as equipas do segundo escalão.
Um gigante nas bancadas e um cemitério para os adeptos
Quando começar a época 2023/24 o Hamburgo será o terceiro clube há mais tempo na 2. Bundesliga, como notava a revista Kicker, atrás apenas do Holstein Kiel e do St. Pauli, o velho vizinho e rival da cidade portuária do norte da Alemanha. Mas continua a ser um gigante, alimentado pela força dos adeptos. Muitos deles invadiram o campo em fúria quando a equipa desceu, em 2018, mas mais ainda voltaram a dizer presente a cada época. Tem perto de 90 mil sócios, o que o coloca entre os dez clubes com maior base de apoio do futebol alemão.
Essa força é bem visível nas bancadas. O Volksparkstadion, que quer dizer literalmente Parque do Povo e tem capacidade para 57 mil pessoas, teve uma média de 53.400 espectadores nos seus jogos em casa na temporada da 2. Bundesliga que agora terminou. Foi a quinta melhor assistência de todo o futebol alemão em 2022/23, atrás apenas de Dortmund, Bayern Munique, Schalke e Hertha Berlim. Mais do que isso, está entre as 20 melhores assistências nas grandes Ligas europeias – ocupa o 16º lugar, segundo dados do Transfermarkt.
É uma relação forte, que passa de família em família. E que pode prolongar-se para lá da vida. No cemitério contíguo ao Volksparkstadion há um espaço reservado ao Hamburgo e aos seus adeptos. Existe desde 2008, o Hamburgo foi o primeiro clube na Europa a ter um cemitério dedicado aos adeptos.
É nessa ligação, como dizia Daniel Fernandes, que o Hamburgo volta a procurar forças para nova tentativa de regresso à Bundesliga. Mas o nível de exigência da já de si muito competitiva 2. Bundesliga tenderá a aumentar na próxima temporada, uma vez que passa a contar com outros dois históricos despromovidos esta época, Schalke e Hertha Berlim.