CAN 2019: maior, mais quente e com muitas promessas no ar

20 jun 2019, 23:42
CAN 2019

Campeonato Africano das Nações aumentou para 24 equipas, mudou-se para o verão e teve um percurso atribulado até chegar ao momento de pontapé de saída, nesta sexta-feira, no Cairo. O que aí vem em quase um mês de uma competição que também fala português

O Campeonato Africano das Nações mudou-se para o verão, cresceu e para 2019 trocou de país anfitrião a meio caminho. Um percurso atribulado até chegar à hora de rolar a bola. Cá está ela, quase um mês de competição, a partir desta sexta-feira e até 19 de julho, para a grande competição africana de seleções, sempre promessa de talento e imprevisibilidade. Com o Egito a jogar em casa, entre muitos candidatos. E a falar português. Tem Angola e Guiné Bissau, duas seleções lusófonas, a encabeçar um largo contingente de jogadores a atuar no futebol nacional.

É o maior CAN de sempre, alargado a 24 seleções, a secundar o que a UEFA fez em 2016 com o Europeu. Um aumento muito significativo em relação às 16 tradicionais e que leva à fase final pouco menos de metade das 56 seleções que integram a maior Confederação do mundo. Há aliás três estreias absolutas: Burundi, Madagascar e Mauritânia.

Esta edição marca outra mudança profunda: o CAN deixou de jogar-se no início do ano e mudou-se para o verão, mais de acordo com o calendário internacional. A alteração da data aliviou muitos dos problemas crónicos com os clubes europeus na convocação de jogadores para uma prova que ocorria em janeiro e fevereiro, em plena época, mas resta ver qual o preço a pagar por jogar com o calor elevado que se espera no Egito no próximo mês.  

Para lá das mudanças estruturais, o caminho até à 32ª edição do CAN foi acidentado. Os Camarões, atuais detentores do título, tinham ganho a organização mas perderam-na no final de 2018. A Confederação africana (CAF), ela própria envolta em problemas e suspeitas de corrupção, justificou a decisão com atrasos nas infraestruturas e com problemas de segurança, com o país no meio de um conflito separatista, a chamada «Crise anglófona». Depois de um impasse surgiu como alternativa o Egito.

Calendário e resultados do CAN 2019

Os 52 jogos do CAN 2019 vão jogar-se em seis estádios, três deles no Cairo - incluindo o jogo de abertura e a final, ambos no Estádio Internacional do Cairo, com capacidade para 75 mil espectadores. Alexandria, Suez e Ismailia são as outras cidades que receberão a competição.

Estrelas, candidatos e expectativas

O Egito promete um ambiente entusiasta, e enorme expectativa em torno da seleção anfitriã. O país que mais vezes venceu o CAN, sete no total, ganhou a competição nas últimas duas vezes em que foi anfitrião. Mas já não é campeão desde 2010 e a pressão sobre os ombros da estrela Mo Salah e companhia é enorme, depois de uma presença dececionante no Mundial 2018. Agora com Javier Aguirre ao comando, o Egito parte como candidato forte, num Grupo A onde defronta o Zimbabue no jogo de abertura, na noite desta sexta-feira, e tem ainda como adversários a RD Congo e o Uganda.

No Grupo B está um dos gigantes do continente, a Nigéria. Que chega aqui depois de ter falhado a qualificação para as últimas duas edições do CAN, com uma equipa renovada e num grupo teoricamente bem acessível, com Guiné-Conacry mais Madagascar e Burundi, dois dos estreantes.

O Grupo C tem outro candidato, o Senegal, liderado em campo por outro campeão europeu de clubes, Sadio Mane, e a tentar confirmar a boa impressão deixada no Mundial 2018, mesmo que sem ter conseguido passar a fase de grupos. É a seleção africana mais bem cotada no ranking da FIFA, está no 22º lugar, e tem como principal adversário a Argélia de Mahrez, Brahimi ou Slimani, uma equipa com muito talento, num grupo que integra ainda Quénia e Tanzânia.

No Grupo D estão três pesos pesados: Marrocos, Costa do Marfim e África do Sul, com a Namíbia a completar a lista. Marrocos parece a mais forte nesta altura. Uma equipa que tem na frente Hakim Ziyech, avançado do Ajax, e no banco a experiência do francês Hervé Renard, um especialista que já venceu o CAN com duas seleções diferentes, a Zâmbia e a Costa do Marfim.

Angola, Guiné Bissau e duas dezenas de «portugueses»

O Grupo E tem forte sotaque português. Com a Tunísia como seleção mais cotada, integra ainda o Mali do portista Marega, do sportinguista Abdoulaye Diaby e do vimaranense Falaye Sacko, a estreante Mauritânia e Angola, que volta à fase final depois de ter falhado as duas últimas edições e integra nos convocados seis jogadores que atuaram em Portugal esta época: o sportinguista Bruno Gaspar, o bracarense Wilson Eduardo, e ainda Buatu e Gelson Dala, que jogou no Rio Ave cedido pelo Sporting, Mateus (Boavista) e Evandro Brandão (Leixões).

Por fim, no Grupo F estão os Camarões, a segunda seleção com mais triunfos na CAN – cinco, incluindo na última edição do CAN -, mas que atravessa um momento atribulado. Além da perda da organização da prova, o ambiente entre a seleção liderada por Clarence Seedorf e a Federação está aparentemente muito deteriorado. Depois há o Gana, outro dos crónicos candidatos, com quatro triunfos no palmarés mas sem vencer há mais de 30 anos, o Benim e a Guiné Bissau, na segunda presença consecutiva depois de se ter estreado em 2017.

A Guiné Bissau tem a equipa mais «portuguesa» deste CAN, com mais de metade dos convocados vindos do futebol português: Jonas Mendes (Ac. Viseu), Rui Dabó (Fabril), Mamadú Candé (Santa Clara), Nanú (Marítimo), Nadjack (Rio Ave), Juary Soares (Mafra), Jaquité (Tondela), Bura (Desp. Aves), Mama Baldé (Desp. Aves), Sori Mané (Cova da Piedade), Romário Baldé (Académica) e Frédéric Mendy (V. Setúbal).

Estão no Egito mais de duas dezenas de jogadores que chegam do futebol português, sendo FC Porto e Sporting os clubes com mais jogadores dos seus quadros na competição. Além de Marega e Brahimi, que termina contrato mas chega ao CAN com a Argélia ainda como jogador dos «dragões», o FC Porto tem Chancel Mbemba na RD Congo, outra das seleções com ambições. E há ainda Chidozie, que pertence aos quadros portistas e jogou a última metade da época no Rizespor, convocado pela Nigéria. O Sporting tem Bruno Gaspar e Diaby, além de Gelson Dala e Mama Baldé, também ligados contratualmente aos «leões» mas que jogaram cedidos na última época, bem como Lumor, no Gana.

O portista Aboubakar, que falhou grande parte da época por lesão, não integrou a convocatória dos Camarões, que têm em contrapartida o avançado Joel Tagueu, do Marítimo. Depois, o anfitrião Egito tem Aly Ghazal, do Feirense, e Ahmed Hassan, jogador do Sp. Braga cedido ao Olympiakos.

(Artigo atualizado)

Patrocinados