«Acusaram-me de que não diziam macaco, mas sim tonto. Isso pode ser dito?»

23 mai 2023, 14:35
Carlo Ancelotti (Manu Fernandez/AP)

Ancelotti assume que Vinícius está «muito triste», vincou que o brasileiro é a vítima e pediu medidas

O Real Madrid recebe esta quarta-feira o Rayo Vallecano, mas a conferência de imprensa de antevisão ao encontro foi totalmente dominada pelos incidentes do último fim de semana em Valência, onde Vinícius Júnior foi vítima de atos racistas.

O treinador dos merengues, Carlo Ancelotti, assumiu que o internacional brasileiro está «muito triste» e salientou a importância de abordar o tema, assim como apelou a que sejam tomadas medidas com rapidez.

«Estamos todos preocupados. E acho justo que este tema seja tão falado. É uma grande oportunidade para melhorar as coisas. O Vinícius está triste e não treinou hoje [terça-feira] porque sentiu um pouco de desconforto no joelho. Está sancionado para amanhã, o que abriria outro debate», começou por dizer o técnico italiano.

Ancelotti destacou também que o extremo brasileiro é a vítima.

«Às vezes culpam-no: "Ele provoca, a atitude"... Não. Sejamos claros: ele é a vítima de tudo isto. Quando me refiro ao Mestalla, não são 46 mil pessoas, mas um grupo que esteve muito mal. Como em Maiorca, Valladolid... é um hábito», vincou.

«Além do racismo, parece costume insultar. O que Xavi disse parece-me exemplar: porque é que normalizamos os insultos no futebol? Acusaram-me de que não diziam "macaco", mas sim "tonto". E então? Isso pode ser dito? Também é intolerável. Tem de parar. Atrás das bancadas, em qualquer jogo, chamam-te de "filho da p***, maricas, a tua mãe devia morrer". Porquê? É uma grande oportunidade para parar tudo isto. E quero dizer que Espanha não é racista, mas há racismo em Espanha. E tem de mudar», acrescentou.

«Repito, para mim Espanha não é um país racista. Mas há racismo. Nos últimos anos, o Vini ganhou destaque e isso tornou-o um "inimigo do desporto". É algo que pode acontecer. Mas que tudo isso deriva do racismo...», completou.

Ancelotti considerou que o protocolo que se deve seguir em episódios de racismo está ultrapassado e deveria ter sido aplicado assim que o Real Madrid chegou ao Mestalla.

«Foi aí que começaram os insultos e caem por terra os argumentos de que "Vinícius provocou". Não são casos isolados, como há muito se diz. Disse um de Valência, "caso isolado". Peço desculpas; não foram 46 mil, mas também não foram um ou dois. Duas horas antes eles já estavam a insultar», sublinhou.

O treinador dos madrilenos frisou que está «preocupado» e «à espera para ver o que acontece». «É fundamental que tomem medidas e eu olho para a Federação e para a La Liga.»

Apesar do desgaste provocado por estas situações, Ancelotti não acredita que Vinícius queira deixar o futebol espanhol.

«Não, acho que não. O Vinícius ama futebol e o Real Madrid. O seu amor por este clube é grande e ele quer fazer carreira aqui», apontou.

Refira-se que a Polícia Nacional de Espanha informou esta terça-feira que deteve três jovens suspeitos de «condutas racistas» no jogo entre o Valência e o Real Madrid. Também esta amanhã, as autoridades anunciaram a detenção de quatro suspeitos de, há quatro meses, terem colocado um manequim negro com a camisola de Vinícius Junior junto à Cidade Desportiva do Real Madrid.

Relacionados

Patrocinados