Abandonada e vítima de abusos sexuais, Debinha foi salva pelo futebol

18 mar, 12:40
Debinha (Foto: Instagram)

Débora Costa revelou episódios de violência sexual por parte do padrasto

Débora Souza Costa, jogadora de futebol do Atlético Mineiro, tem apenas 22 anos mas teve uma vida sofrida. Em entrevista à ESPN Brasil, a jovem futebolista contou que foi abandonada com um ano de idade pelo pai biológico, seguindo-se uma infância difícil ao encargo do padrasto, que envolveu episódios de abuso sexual.

«Com a minha mãe, era muito bom. Mas depois entra a parte do homem que deveria ser o meu protetor. No caso, o marido dela... Foi uma época conturbada, eu sofri. Fui violada, para ser bem clara. Eu tinha oito anos e durou até os 12, foi bastante tempo», desabafou, revelando o motivo pelo qual se manteve em silêncio. «Na época, não contei a ninguém, porque, quando és criança, não entendes aquilo, não entendia o ato. E também tinha medo de não ter para onde ir», conta.

Os atos de violência sexual aconteciam quando a mãe adotiva «saía com as filhas para fazer compras ou para ir, por exemplo, a um baile de Carnaval», não se apercebendo dos crimes cometidos pelo marido.

Depois de anos a sofrer em silêncio, Debinha refugiou-se no futebol que aos poucos ajudou a curar a dor e a culpa que tinha.

«Quando saí de casa pela primeira vez, com 14 anos, para ir a um projeto em Goiânia, conheci duas mulheres que ficaram muito comovidas com a minha história e ajudaram-me, pediram-me para ir morar com elas. Quando fui para a cidade, saída do interior, comecei a repensar no que tinha acontecido no passado e na minha infância e entendi que não era culpa minha», contou a jovem, que prontamente denunciou o padrasto após suspeitas de abusos com outras mulheres que o rodeavam.

«Um dia, voltei à minha cidade natal, para visitar a família que me criou, e a minha mãe de sangue também lá estava. Contei-lhe o que aconteceu comigo e ela relatou que tinha passado pelo mesmo, com o mesmo homem, porque ele criou a minha mãe e depois a mim», continuou.

Indignada com a situação, Debinha não desistiu de lutar por justiça e publicou um vídeo nas redes sociais a relatar a infância traumática que teve. «Eu não sabia como pedir ajuda, não tinha orientação, nem nada. Postei o vídeo no Instagram porque já estava no meu limite. Ninguém me deu apoio, foi do tipo: ‘Vamos lá, vamos denunciar isto’. Fiquei muito triste quando soube que ele não se contentou em estragar a vida da minha mãe, a minha...», lamentou.

«Esse vídeo explodiu, tanto para coisas boas, quanto para más, porque recebi muitas mensagens horríveis, de pessoas a dizer que conheciam o homem da minha cidade, a dizerem que eu estava a estragar a família dele. Diziam que homem nem tinha obrigação de me criar e criou, e que ia acabar com a família dele. Como se ele podesse ter feito isso comigo», acrescentou.

Apesar de a ter abandonado, o pai biológico Evaldo, informado sobre os abusos que a filha sofreu nas mãos do padrasto, ajudou-a a conseguir justiça e apresentou o vídeo em tribunal. Desta forma, a denuncia terminou com uma pena de prisão de oito anos para o violador.

«O meu pai biológico nunca fez nada por mim. Abandonou a minha mãe, a mim e ao meu irmão e nunca cuidou de nós. Mas ele foi corajoso em ter levado esta história para a frente. Eu não tinha com quem contar. Nessas horas, a vítima torna-se a culpada, não é? E ele foi fundamental para que a justiça fosse feita», elogiou.

«Eu só consegui expôr a minha história porque acredito que, daqui para frente, terei uma missão. Uma missão de alertar os pais, as crianças e os jovens para que fiquem atentos a qualquer atitude suspeita. Para que não deixem tocar nas partes íntimas. Para que entendam que o abuso sexual é recorrente nas nossas casas, nas nossas próprias famílias», finalizou.

Hoje, Debinha vive uma nova página no Atlético Mineiro, o «seu porto seguro», onde confessou estar «muito feliz e realizada». Nos próximos capítulos espera brilhar no futebol brasileiro e ainda ser uma voz ativa das mulheres contra a violência sexual.

 

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