A vida de Antony na favela: «Ia para a escola e saltei por cima do cadáver»

16 nov 2022, 17:53
Manchester United-Newcastle

Jogador do Manchester United explica como foi descoberto por olheiro no 'Inferninho': «Viu-me a fazer fintas aos traficantes e levou-me a jogar futsal»

Antony é uma das principiais figuras do Manchester United desta temporada e vai representar a seleção brasileira no Campeonato do Mundo, no Qatar. Mas desengane-se quem pensa que o atacante de 22 anos teve um percurso fácil até à ascensão no futebol mundial.

Em entrevista à plataforma The Players' Tribune, o ex-Ajax revelou como foi viver a juventude numa favela em São Paulo com armas e traficantes à mistura.

«Nasci no inferno. Os meus amigos europeus não sabem, mas eu cresci numa favela chamada 'Inferninho'. Se me queres compreender como pessoa, terás de perceber como sou. A minha história. As minhas raizes», começou por dizer.

«É um lugar infame. A uns 15 passos da minha casa havia traficantes de droga a fazer os seus negócios. Estávamos tão habituados às armas que já nem nos assustava, faziam parte do nosso dia a dia. Uma manhã quando ia para a escola, deparei-me com um homem deitado num beco. Ele não se mexia, quando me aproximei percebi que estava morto. Na favela ficamos um pouco insensíveis a estas coisas, não havia outra maneira de prosseguir. Então fechei os olhos e saltei por cima do cadáver. Não estou a contar isto para parecer duro. Era apenas a minha realidade» descreveu.

Apesar de uma infância difícil, Antony confidenciou que a bola foi a sua salvação porque todos os dias o irmão o levava para uma praça onde fintava toda a gente, desde pedreiros, motoristas de autocarro ou até mesmo criminosos, até que apareceu o diretor do Gremio Barueri.

«Viu-me a fazer fintas aos traficantes e levou-me a jogar futsal. Aos 14 anos tive a minha primeira oportunidade no São Paulo. Todos os dias, depois da escola, ia treinar de estômago vazio. Às vezes, num bom dia, eu os meus companheiros de equipa juntávamos dinheiro e comprávamos uma bolacha para a viagem de autocarro de regresso a casa. Nunca tive de fingir estar com com fome de motivação. Porque a fome era real», referiu.

Depois de se estrear pelo São Paulo, seguiu-se o Ajax durante duas temporadas na Liga dos Campeões e esta época a transferência para o Manchester United, que culminou com a chamada à seleção do Brasil para o Campeonato do Mundo.

 

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