Tem dificuldades em dormir? Experimente ouvir música todos os dias ao deitar

25 set 2022, 18:00
As necessidades médias de sono são variáveis ao longo da vida

A conclusão é de uma investigação que agrega resultados de vários estudos. Os investigadores encontraram evidências de que a música ajuda a melhorar a qualidade do sono, mas não conseguiram definir qual o género de música mais indicado

Já deu por si a dar voltas e voltas na cama sem conseguir adormecer? Já passou noites em branco vários dias seguidos? A solução pode passar por ouvir música ao deitar. Pelo menos, é essa a conclusão de um estudo publicado na Cochrane Library, que sugere que "ouvir música pode ser eficaz para a melhoria da qualidade do sono subjetiva em adultos com sintomas de insónia".

Para tal, os investigadores procederam a uma revisão de 13 ensaios clínicos, com um total de 1.007 participantes, com idades compreendidas entre os 18 e os 83 anos, que avaliaram o efeito de ouvir música todos os dias, durante 25 a 60 minutos durante três a 90 dias. A médica correspondente da CNN Portugal ressalva que este estudo não se trata de um ensaio clínico, mas sim de uma revisão sistemática e meta-análise, isto é, "uma revisão rigorosa e metódica, que inclui e agrega os resultados de vários estudos semelhantes para encontrar um resultado final combinado".

Dos mais de mil participantes, alguns queixavam-se de dificuldades em adormecer, outros apresentavam uma fraca qualidade do sono documentada através de medidas objetivas (como polissonografia, um exame do sono) e outros foram diagnosticados com insónia. Importa referir que os investigadores definem insónia como a queixa subjectiva de sono perturbado na presença de oportunidade e circunstância adequada para dormir. Ora, "para preencher os critérios de diagnóstico de distúrbio de insónia, os indivíduos devem experienciar dificuldades em adormecer pelo menos três vezes por semana por um período mínimo de três meses com dificuldades associadas ao funcionamento diurno ou no bem estar", esclarece o estudo.

Nem todos os participantes puderam escolher a música que ouviam. Na verdade, foram muito poucos os que tiveram essa opção - em sete dos 13 ensaios, foram os investigadores que selecionaram a música que todos os participantes deveriam ouvir. Nos restantes ensaios, os participantes já tiveram alguma hipótese de escolha - em quatro ensaios, os participantes puderam escolher entre quatro ou seis listas de músicas de diferentes géneros, num outro ensaio os indivíduos puderam escolher a sua música preferida numa lista de 169 músicas e num outro os participantes puderam escolher as suas músicas livremente. "No total, 10 participantes ouviram a sua música preferida, e 149 ouviram uma música escolhida pelos investigadores", refere-se no texto.

Os géneros de música utilizados neste estudo foram muito variados: os participantes ouviram desde música clássica a música ambiente, new age e jazz.

Resultados mostram "melhorias subjetivas na qualidade do sono"

De acordo com os investigadores, os resultados são bastante promissores. A evidência sugere que ouvir música "facilita a melhoria da qualidade do sono" quando comparada com os habituais tratamentos para a insónia. Além disso, parece haver algum efeito - "ainda que discreto", como aponta Sofia Baptista - na diminuição do tempo para adormecer e na melhoria da duração do sono.

Os investigadores referem mesmo que, "com base nesta revisão, ouvir música diariamente durante 14 a 90 dias resulta em melhorias subjetivas na qualidade do sono".

Apesar de "algumas limitações" deste estudo - desde logo, o facto de a qualidade do sono ter sido analisada através de 10 ensaios com 708 participantes no total, com base num questionário - a médica Sofia Baptista considera que, "para quem tem insónias, vale a pena integrar o hábito de ouvir música num estilo de vida saudável, incluindo alimentação equilibrada e prática de exercício físico regular".

Os investigadores não conseguiram encontrar evidências relacionadas com o tipo de música que mais beneficia a qualidade do sono. Uma vez que os ensaios incluíram uma grande variedade de estilos musicais, os investigadores admitem que "não é claro se alguns tipos de música podem ser mais eficazes do que outros". Além disso, os autores do estudo não verificaram "qualquer diferença" no efeito na qualidade do sono entre os ensaios cujas músicas foram escolhidas pelos investigadores e os ensaios nos quais os participantes tiveram a hipótese de escolher qual a música que desejam ouvir.

"A literatura de musicoterapia recomenda que a música utilizada para fins sedativos deve ser caracterizada por um ritmo lento e ausência de mudanças abruptas e complexidade rítmica", referem os investigadores. Reconhecendo as limitações desta revisão, os autores dizem ser necessários "mais ensaios clínicos controlados para analisar quais as características de uma música que são mais importantes para obter uma melhoria da qualidade do sono".

Tendo em contas as limitações do estudo, a médica Sofia Baptista lembra que é importante procurar ajuda médica caso sofra de insónias, "particularmente se isso estiver a ter impacto no seu dia-a-dia".

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