Dos tumultos na rua para a FA Cup em cinco anos: o A.C. London

11 ago 2017, 17:52
AC London (Foto aclondon.co.uk)

A história de um clube que nasceu para dar uma «segunda casa» a jovens de bairros problemáticos e está a dar que falar. Também com portugueses em campo

*por Rafael Simões

Agosto de 2011 ficará na memória de Inglaterra como um período negro. Os «London Riots» tumultos que envolveram milhares de pessoas de bairros sociais sob o argumento da vitimização racial. Roubos, incêndios, motins contra a polícia: o caos que resultou na morte de cinco pessoas, feriu gravemente outras 16 e provocou danos materiais para cima de muitos milhões de euros. Mas de cada história, boa ou má, nasce sempre uma lição. E Prince Choudary tem-se empenhado em fazer desta um exemplo. Fundou o A.C. London em 2012, com apenas 16 primaveras realizadas (!), pouco depois dos tumultos. O objetivo? Dar uma «segunda casa» a alguns jovens de bairros problemáticos.

Em apenas cinco anos e num balneário com 16 nacionalidades, o emblema da capital inglesa, com Choudary ao leme do clube, alcançou pela primeira vez a Taça de Inglaterra (FA Cup), competição mais antiga do mundo.

Em conversa com o Maisfutebol, Choudary, o presidente mais novo de sempre da tradicional prova britânica, não esconde as ambições e fala-nos um pouco sobre a história que está a emocionar a Inglaterra e que tem merecido muita atenção da imprensa.

«Os tumultos de Londres foram dias negros e certamente ficarão para a história. Conhecia muita gente em Croydon [bairro de Prince] que esteve envolvida na confusão», começa por dizer.

«Atualmente a equipa tem 16 nacionalidades diferentes. Durante o nosso primeiro ano fomos objeto de discriminação racial em inúmeras ocasiões. Algumas relatadas, outras não. Numa dessas ocasiões em particular fomos vítimas de um abuso racial tão grande que não voltámos para jogar a segunda parte do jogo. Estes problemas precisam de ser fortemente abordados», atira.

O dirigente fala ao nosso jornal do alto dos seus 21 anos. Decidido, ambicioso e sem rodeios no que toca à luta contra o racismo: «O futebol não tem cores, crença, raça ou língua. Eu não acredito que a raça identifique o talento. Por isso, tentar deitar alguém abaixo com base na raça ou na religião é apenas um sinal de fraqueza humana.»

«O que consegui alcançar não foi um erro ou um acidente. Ser o presidente mais novo da FA Cup não é uma coisa que aconteça por acaso, foram anos de sacrifício e trabalho duro. Sou determinado, jovem, ambicioso e uma pessoa forte. Não vou parar de lutar para abrir caminho a mais jovens», afirma.

O conto de fadas continua e o emblema londrino ganhou mesmo o jogo de estreia na competição, com uma vitória por 3-2 ante o Crawley Down Gatwick. O presidente do emblema inglês não esconde a importância que a vitória tem para o A.C. London.

«Atendendo à origem do clube, é uma grande conquista, a FA Cup tem uma grande história e é a competição mais antiga do mundo. É bom para uma das equipas mais recentes estar envolvida na rota para Wembley», remata.

Raúl, um português impressionado com a «atenção» do momento

Raúl é um dos três portugueses que fazem parte do plantel. O jogador de 21 anos não faz parte da equipa desde a sua fundação – chegou apenas há dois anos – mas mostra-se integrado num balneário que conta com tanta diversidade cultural.

«O ambiente no balneário é bom, é engraçado. Há sempre muita animação», começa por relatar, acrescentando depois: «Agora que ganhámos o primeiro jogo da FA Cup, estamos alegres e confiantes que vamos passar à próxima fase.»

O jovem reconhece a importância de Prince Choudary na vida do emblema de Londres e realça as suas motivações: «Nós vemos o presidente com bons olhos, é um bom homem, está sempre presente e honra sempre as promessas. É muito importante o motivo pelo qual fundou o clube, permite que muitos jovens fujam a uma vida problemática.»

Por esta altura, muitos dos olhos dos media ingleses estão postos na jovem equipa, mas Raúl garante que o plantel lida normalmente com a situação: «Sim, agora temos muita atenção no país, tivemos muitos jornalistas no treino, até passou na televisão, mas lidamos com isso de uma maneira normal.»

«É claro que é importante para os jogadores e para o clube, mas faz parte», conclui o português.

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