O primeiro desafio de Ten Hag em Old Trafford é superar Mourinho

22 abr 2022, 22:41
Manchester Utd-Swansea: despedida de Ferguson

Ten Hag é o sexto treinador desde a despedida de Alex Ferguson, em nove anos que tornaram o banco do Manchester United um lugar inóspito. O melhor mesmo até agora foi o português

Em maio de 2013 Alex Ferguson deixava o Manchester United ao fim de 26 anos e David Moyes era anunciado como novo treinador. Assinou por seis anos e nem uma época durou. Desde essa primeira aposta falhada de sucessão do treinador mais vencedor da história, o banco dos «red devils» tornou-se um lugar inóspito. Erik ten Hag, o treinador que nas últimas cinco épocas liderou o sedutor projeto do Ajax, é o sexto da lista. Em menos de nove anos e sem contar com dois interinos pelo meio.

Nenhum deles conseguiu voltar a fazer do Manchester United campeão inglês e neste período o clube que voltou a ser de Cristiano Ronaldo, que é hoje também de Bruno Fernandes e tem Diogo Dalot a completar um trio português, venceu uma única competição internacional, a Liga Europa. Que foi aliás o último troféu ganho até hoje, já lá vão quase cinco anos. Ganhou-a com José Mourinho, o treinador português que, apesar de toda a turbulência do seu consulado e da saída a meio da segunda temporada, tem ainda o melhor registo no banco do United pós-Ferguson.

De novembro de 1986 a maio de 2013, o Manchester United venceu 38 troféus com Alex Ferguson no banco. O escocês não começou a ganhar logo, precisou de tempo e o seu lugar chegou a ser fortemente questionado pelos adeptos apenas meses antes de festejar o primeiro título: a Taça de Inglaterra de 1990, ao fim de três anos e meio no cargo. Nenhum dos sucessores teve esse tempo, num mundo que é hoje bem diferente.

Alex Ferguson fez exatamente 1500 jogos como treinador do Manchester United. Venceu 895, uma percentagem de 60 por cento de vitórias. Conquistou 13 campeonatos de Inglaterra, duas Ligas dos Campeões, uma Taça das Taças, uma Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental, um Mundial de clubes, cinco Taças de Inglaterra, quatro Taças da Liga e 10 Supertaças de Inglaterra. Veja a comparação com os senhores que se seguiram.

David Moyes

Maio de 2013 a abril de 2014

51 Jogos (27 V/9 E/15 D); 53 por cento de vitórias

Títulos: 1 Supertaça de Inglaterra

O treinador que tinha construído uma reputação sólida ao longo de mais de uma década no Everton foi o sucessor designado pelo próprio Alex Ferguson. Anunciado como uma solução de longo prazo, não chegou ao fim da primeira época. Começou por vencer a Supertaça e fez uma campanha razoável na fase inicial da Liga dos Campeões, onde o United caiu nos quartos de final, frente ao Bayern Munique. Mas a frente doméstica evidenciou as fragilidades da liderança de Moyes, que saiu em abril, com o Manchester United em sétimo lugar na Premier League. Ryan Giggs, que fazia parte da sua equipa técnica, assumiu a equipa nas últimas quatro jornadas e o United terminou mesmo em sétimo lugar, a pior classificação do clube em quase um quarto de século.

Louis Van Gaal

Junho 2014 a maio de 2016

103 Jogos (54 V/24 E/25 D); 52 por cento de vitórias

Títulos: 1 Taça de Inglaterra

Campeão europeu com o Ajax em 1995, o neerlandês que tinha sido campeão em Espanha com o Barcelona e na Alemanha com o Bayern Munique acabara de levar a seleção dos Países Baixos ao terceiro lugar no Campeonato do Mundo quando chegou a Old Trafford, no verão de 2014. Essa primeira época terminou sem qualquer troféu e com o United quarto na Premier League. Foi o único dos treinadores pós-Ferguson que não foi afastado no decorrer da época, mas depois de cair na fase de grupos da Liga dos Campeões e terminar a Premier League na quinta posição em 2015/16 também ele saiu pela porta pequena, mesmo depois de ter vencido a Taça de Inglaterra na reta final.

José Mourinho

Maio 2016 a dezembro 2018

144 Jogos (84 V/32 E/28 D); 58 por cento de vitórias

Títulos: 3 (1 Liga Europa; 1 Taça da Liga; 1 Supertaça de Inglaterra)

O treinador bicampeão europeu com FC Porto e Inter voltava a Inglaterra seis meses depois da sua segunda passagem pelo Chelsea. Com uma aposta forte no mercado, começou por vencer a Supertaça, também a Taça da Liga e, sem Liga dos Campeões, assumiu desde cedo a Liga Europa como objetivo. Que alcançou mesmo, batendo na final o Ajax. Mas o sexto lugar na Premier League era demasiado curto, como era cada vez mais acentuado o desgaste de Mourinho em polémicas sucessivas, em campo e na sala de imprensa. Na segunda temporada, segurou o segundo lugar na Premier League, ainda que a enorme distância do incrível Manchester City de Pep Guardiola, campeão com 100 pontos, perdeu a final da Taça de Inglaterra frente ao Chelsea e a época terminou sem troféus ganhos. Começou a terceira época no banco, mas saiu em dezembro, quando o líder Liverpool já estava a 19 pontos de distância na Premier League, mas com o apuramento na Liga dos Campeões assegurado.

Ole Gunnar Solskjaer

Dezembro 2018 a novembro 2021

138 Jogos (91V/37 E/ 40 D); 54 por cento de vitórias

Títulos: -

Tinha um discreto percurso nos bancos do Molde e do Cardiff quando foi designado para assumir como treinador de transição depois da saída de Mourinho. Mas a reviravolta frente ao PSG nos oitavos de final da Champions logo nessa primeira época reforçou o capital de simpatia em torno do antigo avançado que foi o herói do ManUtd na conquista da Liga dos Campeões em 1999 e Solskjaer foi mesmo confirmado como treinador principal. Ao longo de quase dois anos e muitos milhões gastos em contratações, o treinador que viu chegar os portugueses Bruno Fernandes e Diogo Dalot e acolheu o regresso de Cristiano Ronaldo chegou a uma meia-final e uma final da Liga Europa, obteve um segundo lugar na Premier League e conseguiu zero troféus. Acabou por sair em novembro, depois de uma derrota com o Watford que deixava o United na oitava posição da Premier League, a 12 pontos da liderança ao fim de outros tantos jogos.

Ralf Rangnick

(dezembro 2021 até ao presente)

24 Jogos (10 V/9 E/5 D); 42 por cento de vitórias

Títulos: -

O antigo médio Michael Carrick fez a transição depois de Solskjaer ao longo de três jogos, entre eles a vitória sobre o Villarreal que selou o apuramento na Liga dos Campeões. Depois chegou Ralf Rangnick. O alemão que nos últimos anos se tinha destacado mais pelo trabalho de bastidores, como diretor desportivo, nunca foi uma aposta de futuro, anunciado desde início apenas até ao final da temporada. No banco, Rangnick nunca conseguiu inverter a espiral negativa em que o Manchester United entrou. A equipa saiu da Liga dos Campeões logo nos oitavos de final, frente ao Atlético Madrid, disse adeus à Taça de Inglaterra também nos oitavos e até agora ganhou nove de 19 jogos para o campeonato com o alemão ao comando. O anúncio da contratação de Ten Hag para a próxima época chega com o Manchester United em sexto lugar, a três pontos da zona Champions, na reta final de mais uma época sem qualquer título.

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