Só um em cada 10 portugueses paga por notícias online

Agência Lusa , AM
17 jun, 06:43
Digital. Pictures Ltd./Corbis via Getty Images

Trabalho de campo a cargo da YouGov inquiriu a nível global em 2025 cerca de 97 mil indivíduos utilizadores de Internet, em 48 países. Em Portugal foram inquiridos 2.012 indivíduos

Apenas 10% dos portugueses afirma ter pagado por notícias 'online', com Portugal a apresentar uma das taxas mais baixas entre 48 países analisados pelo Digital News Report (DNR), o que confirma um cenário de estagnação.

"Portugal continua a apresentar uma das taxas mais baixas de pagamento por notícias em formato digital entre os 48 países analisados pelo Digital News Report, com apenas 10% dos portugueses a afirmar ter pagado por notícias 'online' no ano anterior — uma quebra de 2 pontos percentuais face a 2024", segundo o Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25) hoje divulgado.

Esta tendência "confirma o cenário de estagnação observado nos últimos anos, em linha com o que se verifica também em vários mercados europeus, incluindo países tradicionalmente mais fortes em subscrição digital, como a Suécia ou a Noruega", lê-se no relatório.

O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Em termos globais, "o pagamento por notícias digitais situa-se nos 18%, ligeiramente acima de 2024 (+1 pp.), com a Suíça a destacar-se como uma das poucas exceções a esta tendência de estabilidade, ao registar um crescimento expressivo (+5 pp.)".

Em Portugal, um terço opta pela opção de subscrição contínua de notícias digitais, "embora tenha aumentado a proporção daqueles que acedem a notícias através de serviços que incluem este conteúdo de forma indireta (33%)".

O pagamento por pacotes combinados de impresso e digital também cresceu (23%), assim como o pagamento isolado por artigo ou edição (20%).

"A doação para apoiar marcas ou serviços jornalísticos mantém expressão residual (10%), embora tenha aumentado ligeiramente", refere o relatório.

Mais de dois terços (70%) dos que pagam por notícias digitais "mantêm esse compromisso de forma contínua, o que sugere fidelização entre a base de subscritores existentes".

Contudo, o potencial de expansão continua limitado: "66% dos não pagantes afirmam não ter interesse em qualquer das condições propostas para virem a pagar por notícias 'online', o que reforça a persistência de barreiras culturais e económicas à monetização digital de notícias em Portugal".

O Expresso e Público "destacam-se como as marcas que os portugueses mais subscrevem de forma regular (Expresso de forma acentuada, com 39% face aos 26% do Público), seguindo-se o Observador (19%) e Correio da Manhã (18%)", refere o DNRPT25, sendo que este indicador não pretende ser uma fonte fiável sobre o desempenho na circulação digital paga.

A televisão continua no relatório deste ano a ser a "principal fonte de acesso a notícias em Portugal, sendo utilizada por 67% dos portugueses e assumindo-se como a principal via de acesso para 53% da população".

E apesar da Internet igualar a televisão em termos de utilização geral (67%), "apenas 19% a apontam como fonte principal, confirmando a persistência da hegemonia da televisão, sobretudo entre os mais velhos".

Já nos jovens entre os 18 e 24 anos regista-se uma propensão para o digital: mais de quarto (26%) privilegia a Internet (sem redes sociais) e 24% as redes sociais como vias principais de acesso a notícias.

A rádio e a imprensa "mantêm papéis mais marginais (7% e 4%, respetivamente), enquanto os 'podcasts' e os 'chatbots' de IA [inteligência artificial), introduzidos pela primeira vez na medição em 2025, revelam uma utilização residual como fonte principal (1% cada), apesar de 6% e 4% dizerem ter usado estas opções na semana anterior, respetivamente".

Os motores de busca (28%) lideram como porta de entrada para as notícias, seguidos pelo acesso direto a 'sites' (19%) e pelas redes sociais (20%), "um padrão que contrasta com o cenário global, onde as redes sociais lideram".

Tendência para evitar notícias mantém-se em Portugal

A tendência para evitar notícias de forma frequente ou ocasional manteve-se em Portugal, embora com um ligeiro decréscimo face a 2024, com as mulheres a liderarem, segundo o Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25) hoje divulgado.

Mais de um terço (35%) dos portugueses "afirmam evitar notícias de forma frequente ou ocasional, um ligeiro decréscimo face a 2024 (37%), mas confirmando a tendência crescente de evitar notícias observada na última década (70% evitam independentemente da frequência)", refere o relatório.

O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

A tendência de evitar notícias "é mais comum entre as mulheres, pessoas com escolaridade baixa ou média e quem aufere baixos rendimentos", lê-se no documento.

O cansaço com a quantidade de notícias (39%), a saturação com temas de guerra e conflitos (38%) e o impacto negativo no humor (32%) estão entre as razões apontadas para o evitar ativo de notícias.

"Estas razões variam consoante género e idade: as mulheres e os mais velhos referem mais frequentemente o cansaço e o impacto emocional, enquanto os mais jovens destacam a falta de relevância das notícias, a perceção de polarização, a sensação de impotência e a dificuldade em acompanhar os conteúdos", aponta.

O tema da guerra, nomeadamente o conflito na Ucrânia, "continua a ser uma das principais fontes de saturação informativa", segundo do DNRPT25.

"A fadiga perante este tema é mais acentuada na Europa (com Portugal a situar-se acima da média europeia e global), o que reflete o efeito da proximidade geográfica na perceção e no consumo noticioso", destaca o documento.

Com trabalho de campo a cargo da YouGov, o projeto inquiriu a nível global em 2025 cerca de 97 mil indivíduos utilizadores de Internet, em 48 países. Este ano, a Sérvia junta-se ao conjunto de mercados globais em estudo, depois da inclusão de Marrocos em 2024.

Em termos globais, quatro em cada 10 (40%) pessoas afirmam que "às vezes ou muitas vezes evitam as notícias - acima dos 29% em 2017 –, este é o valor mais elevado que alguma foi registado no âmbito do DNR".

Muitos dos que evitam (39%) "dizem que as notícias têm um efeito negativo no seu humor, enquanto outros (31%) dizem que se sentem esgotados pela quantidade de notícias ou pensam que há demasiada cobertura de guerras e conflitos (30%) ou política nacional (29%)".

Globalmente, a confiança global nas notícias (40%) manteve-se pelo terceiro ano consecutivo, apesar de ainda ser quatro pontos mais baixa do que no auge da pandemia.

"A Finlândia e a Nigéria registam os níveis mais elevados de confiança global (67% e 68%, respetivamente), enquanto a Grécia (22%) e a Hungria (22%) registam os níveis mais baixos", segundo o estudo.

"Os inquiridos são claros quanto ao facto de a melhor forma das organizações noticiosas aumentarem a confiança seria aumentar a exatidão, a transparência e o jornalismo original, reduzindo simultaneamente o que muitos consideram ser uma cobertura tendenciosa", refere o relatório.

Portugal continua entre os países mais preocupados com desinformação na Internet

Portugal continua entre os países mais preocupados com a desinformação na Internet, com 71% dos portugueses a manifestarem preocupação com o fenómeno, nomeadamente com 'influencers' e políticos, segundo o Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25) hoje divulgado.

O DNRPT25 é produzido anualmente pelo OberCom - Observatório da Comunicação desde 2015, publicado a par do relatório global do RISJ - Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Com trabalho de campo a cargo da YouGov, o projeto inquiriu a nível global em 2025 cerca de 97 mil indivíduos utilizadores de Internet, em 48 países. Este ano, a Sérvia junta-se ao conjunto de mercados globais em estudo, depois da inclusão de Marrocos em 2024.

"Em 2025, 71% dos portugueses afirmam estar preocupados com a desinformação e com o que é real ou falso na Internet, um nível de preocupação superior à média global (58%) e que coloca Portugal entre os países mais preocupados com este fenómeno", destaca o relatório.

O nível de preocupação com a desinformação "mantém-se praticamente inalterado face a anos anteriores" e é "particularmente elevado entre os mais velhos, os mais escolarizados, os que têm rendimentos mais altos e os que possuem uma orientação política definida".

A relação entre confiança em notícias e preocupação com desinformação "também se mantém consistente: quem confia em notícias tende a demonstrar níveis mais elevados de preocupação (79%) face a quem não confia (74%)", lê-se no documento.

No que respeita às principais ameaças em termos de desinformação, "os portugueses apontam sobretudo os 'influencers' e personalidades 'online' (51%) e os políticos nacionais (44%), seguidos de governos ou atores estrangeiros e ativistas (ambos com 39%)".

Em termos de preocupação com as redes sociais como veículo de desinformação, esta "mantém-se elevada, destacando-se o Facebook (56%) e o TikTok (55%) como as plataformas mais associadas a esse risco".

As perceções variam consoante idade, género e perfil socioeconómico.

De acordo com o estudo, "os mais jovens tendem a ver o TikTok, X (antigo Twitter) e Instagram como maiores fontes de preocupação, enquanto os mais velhos atribuem maior peso ao papel dos políticos e 'influencers'".

Os motores de busca, 'sites' de notícias e conversas entre conhecidos "são consistentemente vistos como menos problemáticos em termos de propagação de desinformação, independentemente do perfil demográfico", segundo o relatório.

O trabalho de campo decorreu entre 13 de janeiro e 24 de fevereiro deste ano.

Em Portugal foram inquiridos 2.012 indivíduos.

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