Subida de preços continua a acelerar e deixa previsões do Governo para a inflação em risco

28 out 2022, 18:00
Fernando Medina (Lusa/António Pedro Santos)

Governo previa uma taxa de inflação média de 7,4%, mas só um comportamento completamente atípico nos dois últimos meses do ano permitiriam alcançar esse objetivo

Ainda não passaram três semanas desde que o Governo apresentou a proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), mas a previsão de que em 2022 a inflação atingiria um crescimento médio de 7,4% já parece irremediavelmente ultrapassada.

Os dados de inflação divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dão conta de que a taxa de inflação, medida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), registou em outubro uma variação de 10,2% face ao mesmo mês do ano passado, uma aceleração face aos 9,3% registados em setembro. Em termos mensais, os dados do INE mostram que os preços cresceram 1,3% e que a média dos últimos 12 meses terminados em outubro se fixou nos 6,7%.

O instituto de estatística divulgou ainda os dados da inflação medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), o indicador que permite comparar a evolução dos preços nos vários países da zona euro. E também aqui os resultados de outubro mostraram que, aparentemente, o crescimento dos preços ainda não atingiu o seu valor máximo. A taxa mensal foi de 1,2%, mas a variação homóloga atingiu 10,7% e o crescimento médio dos preços foi de 6,9%.

A evolução dos preços medida pelo IHPC é importante, não só porque permite comparar com os restantes países da zona euro, mas também porque, ao contrário do que é habitual, na proposta de Orçamento o Governo decidiu colocar uma previsão para o crescimento dos preços medido pelo IHPC e não pelo IPC, como tem sido habitual.

Mas independentemente do índice que se utilize, apenas um comportamento completamente atípico dos preços nos dois últimos meses do ano permitirá atingir a meta do Governo.

As simulações feitas pela CNN Portugal mostram que se o IHPC mensal for zero em novembro e em dezembro, ou seja, se não houver crescimento dos preços entre outubro e novembro e entre novembro e dezembro, então a taxa de inflação média no final do ano será de 8,2%, oito décimas acima da meta apresentada pelo Ministério das Finanças.

De igual modo, se o crescimento dos preços em novembro, face ao mesmo mês do ano passado, e se o crescimento dos preços em dezembro, também face a igual mês do ano passado, for de 10,7%, tal como aconteceu em outubro, a inflação média no final do ano será de 8,2%.

Assim, só uma desaceleração de preços em termos homólogos e uma descida de preços em termos mensais permitiria alcançar a meta apresentada pelo Governo, algo que não parece plausível.

A meta do Governo para a inflação prevista na proposta de Orçamento aprovada na generalidade esta quinta-feira no Parlamento já contrastava, aliás, com as previsões do Banco de Portugal ou do Conselho de Finanças Públicas, que apresentavam respetivamente previsões de 7,8% e de 7,7%.

E se se analisar a inflação medida pelo IPC também se verifica que só muito dificilmente se alcançará uma variação média anual no final do ano abaixo dos 8%. Se os preços medidos pelo IPC não aumentarem entre outubro e novembro e entre novembro e dezembro, então a taxa de inflação média no final do ano será de 7,8%. Já se o crescimento homólogo dos preços em novembro e dezembro for igual ao verificado em outubro (10,2%), então a inflação média medida pelo IPC será de 7,9%.

Recorde-se que quando o Governo apresentou a proposta de Orçamento do Estado para 2022, a previsão de inflação medida pelo IPC era de 3,7% e a medida pelo IHPC era de 4%.

Os dados divulgados esta sexta-feira pelo INE são ainda uma estimativa rápida e têm de ser confirmados quando o instituto divulgar novos dados no próximo dia 11 de novembro.

A estimativa apresentada pelo INE dá ainda conta de que o indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos) “terá registado uma variação de 7,1% (6,9% no mês anterior)” em outubro. Esta valor representa a “taxa mais elevada desde janeiro de 1994”.

Ainda segundo o INE, em outubro “a taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos terá aumentado para 27,6%”, um valor superior em 5,4 pontos percentuais ao verificado em setembro, “enquanto o índice referente aos produtos alimentares não transformados terá apresentado uma variação de 18,9% (16,9% em setembro)”, sendo esta a “taxa mais elevada desde junho de 1990”.

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