Dados do INE mostram que subida dos preços dos combustíveis está a deixar mais caros a eletricidade, gás e bens alimentares em Portugal
O impacto do encarecimento dos combustíveis no aumento dos preços é particularmente notório desde abril, segundo o INE, e os dados de novembro da inflação evidenciam já uma subida nos preços de diversos bens, sobretudo alimentares.
“É evidente o impacto significativo dos combustíveis, em particular desde abril”, refere o Instituto Nacional de Estatística (INE) no destaque relativo ao Índice de Preços no Consumidor (IPC) de novembro.
Além dos combustíveis, da eletricidade e gás e dos bens alimentares, o INE destaca ainda o aumento dos contributos para a evolução recente do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC, semelhante ao IPC, mas que inclui a despesa dos turistas) em Portugal das categorias dos ‘restaurantes e hotéis’ (+0,3 pontos percentuais) e das ‘viagens aéreas’ (+0,1 pontos percentuais).
De acordo com o INE, o aumento do preço dos combustíveis e da eletricidade “tem, por norma, impacto nos preços da generalidade dos restantes bens com o aumento dos custos de produção e de transporte”, mas, “em parte, estes efeitos podem ser diluídos numa redução eventualmente temporária da margem de lucro dos retalhistas”.
“Porém – salienta – em novembro já se evidenciam aumentos nos preços de um grande conjunto de bens, em particular nos bens alimentares, cujo contributo se situa em 0,3 pontos percentuais (aumento do contributo da classe dos ‘produtos alimentares e bebidas não alcoólicas’ em 0,2 pontos percentuais)”.
“Comparando o agregado IPC Total excluindo energia com o índice do agrupamento ‘bens de consumo’ do Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI), é evidente uma tendência de crescimento de preços semelhante nos dois indicadores, com acelerações significativas no terceiro trimestre”, precisa.
Impactos diferentes nos países da UE
No destaque hoje divulgado, o INE nota que o IHPC português tem subido, nos últimos meses, abaixo da média da zona euro, explicando que tal resulta, nomeadamente, de “especificidades relacionadas com os produtos energéticos e o turismo”.
“Nos últimos meses, o IHPC em Portugal tem registado um comportamento ascendente, mas inferior à média da Área do Euro. Esta diferença pode ser explicada por um conjunto de fatores que afetaram em diferentes medidas os diversos países da Área do Euro”, refere.
Segundo explica, “parte das diferenças observadas resulta de efeitos nacionais específicos como, por exemplo, a redução temporária da taxa de IVA na Alemanha durante o segundo semestre de 2020, originando um aumento homólogo pronunciado em 2021 com impacto significativo no IHPC da Área do Euro”.
No caso de Portugal, precisa, “são de salientar algumas especificidades relacionadas com os produtos energéticos e o turismo”.
No caso dos produtos energéticos, o seu contributo para o IHPC de Portugal (1,1 pontos percentuais) é “significativamente inferior” ao estimado para a Área do Euro (2,6 pontos percentuais), sendo também “evidente um aumento na sua dispersão” desde o início de 2021.
“Este impacto desigual, consequência também de um ponderador muito inferior à média da Área do Euro para estes produtos, afeta fortemente o IHPC total: no caso de Portugal, este agregado contribuiu em novembro para cerca de 43% da variação homóloga total verificada, enquanto na Área do Euro o seu contributo explica mais de 52% da variação total estimada”, refere.
Segundo nota o instituto estatístico, “os aumentos nos preços dos combustíveis e da eletricidade verificados nos últimos meses têm tido impactos muito distintos entre os países da União Europeia”.
“Em relação aos combustíveis, o impacto dos aumentos do preço antes de impostos é diluído em função do peso dos impostos em cada país. Assim, um mesmo aumento do preço de base terá menor impacto relativo nos países com maior carga fiscal sobre os combustíveis, e vice-versa”, avança.
Em novembro, os combustíveis contribuíram em cerca de 0,9 pontos percentuais para a taxa de variação homóloga total do IHPC em Portugal (0,8 pontos percentuais em outubro).
Quanto à eletricidade, o INE nota que “a formação de preços no mercado retalhista português é definida, geralmente, em contratos anuais, atualizados em janeiro de cada ano, e por isso menos sensíveis a alterações infra-anuais dos preços da energia nos mercados grossistas”.
Adicionalmente, “os preços finais da energia incluem um conjunto de custos determinados anualmente pela ERSE, tendo por consequência um menor peso do custo da energia no preço final aplicado aos consumidores”.
Em novembro, a eletricidade e o gás registaram um contributo de cerca de 0,1 pontos percentuais para a taxa de variação homóloga total do IHPC em Portugal.
Para justificar o aumento do diferencial do IHPC em Portugal e na Área do Euro, o INE aponta ainda o facto de a estrutura de ponderação do IHPC português ter “características próprias, entre as quais se destaca um peso relativo das categorias relacionadas com o turismo superior ao dos restantes países em 2020”.
“O impacto da pandemia covid-19 no turismo originou uma redução acentuada do ponderador da classe dos ‘restaurantes e hotéis’ no IHPC de 2021, sobretudo nos países com maior nível de turismo, com exceção de Espanha”, refere, acrescentando: “Nos últimos meses, tem-se verificado um aumento significativo das taxas de variação homóloga desta classe que, fruto da redução do seu peso, contribui em menor medida para o aumento do índice total que no passado”.