Especialistas e responsáveis políticos juntaram-se esta quarta-feira numa reunião na sede do Infarmed, em Lisboa. É a partir deste encontro que o Governo vai determinar o alívio das restrições no país
1. O pior já passou - para já
O pico da quinta vaga da pandemia de covid-19 foi atingido no final de janeiro e Portugal já está numa fase decrescente da onda pandémica relacionada com a Ómicron, avançou o perito da Direção-Geral da Saúde Pedro Pinto Leite: "O pico da incidência terá ocorrido no dia 28 de janeiro, com 2.789 casos a sete dias por 100 mil habitantes".
Segundo dados apresentados por Pedro Pinto Leite, a incidência cumulativa a sete dias por 100 mil habitantes entre 7 e 13 de fevereiro é de 1.562 casos, o que representa menos 45% relativamente ao período homólogo. Estes números evidenciam que Portugal se encontra “numa tendência decrescente” da pandemia.
Portugal vem registando uma queda no índice de transmissibilidade (Rt), que chegou a ser de 1,53 no Natal, encontrando-se atualmente nos 0,76. De acordo com Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), também a incidência se encontra a descer, podendo mesmo vir a ser de 60 casos por 100 mil habitantes ao fim de dois meses.
Baltazar Nunes frisa também que, de uma forma global, a atividade epidémica é mais intensa no período de outono/inverno e a covid-19 pode não ser exceção. "Há um potencial de sazonalidade que se possa vir a formar", disse. Assim, o perito do INSA apontou que, sem ter em conta eventuais medidas de mitigação, pode surgir um pico epidémico no final de 2022, nomeadamente entre os meses de setembro e novembro - é uma das três más notícias entre as boas.
2. Mortalidade desceu para níveis normais este inverno
Todos os grupos etários apresentam atualmente “uma incidência com tendência decrescente” e , segundo realçou Pinto Leite, ao longo desta onda pandémica foi possível manter “incidências relativamente mais baixas” nos mais velhos, que estão associados depois a uma maior gravidade e mortalidade em comparação com outros grupos etários.
Também de acordo com Baltazar Nunes, o impacto da variante Ómicron verificou-se nos internamentos, mas a vacinação continuou a ser eficaz contra as formas mais graves da doença. Isto "traduz-se num impacto bastante menor nos cuidados de saúde".
O responsável do INSA indicou que se verificou uma mortalidade muito superior no início de 2021 relativamente a 2022 e que "a combinação de várias medidas, incluindo a vacinação e o surgimento de uma variante que produz uma doença bastante menos grave", permitiu melhorar a situação este ano face ao ano passado.
3. As vacinas estão (mesmo) a resultar
O risco de internamento foi sete vezes inferior nas pessoas com a vacinação completa relativamente às que não a tinham. Dando como exemplo o grupo etário dos 80 e mais anos, Pinto Leite referiu que por cada 100 pessoas infetadas 23 acabavam por ser internadas quando não tinham o esquema vacinal completou, o que desce para três quando têm a dose de reforço.
“Isto é uma redução substancial do risco e reforça a proteção conferida pela vacinação e a confiança que temos na vacinação para a diminuição da gravidade da doença”, vincou Pedro Pinto Leite.
Sobre o impacto da pandemia nos serviços de saúde, disse que há “uma estabilização” do número de internamentos e uma tendência decrescente nas unidades de cuidados intensivos (UCI). Na semana de 7 a 13 de fevereiro corresponderia a 148 internamentos, menos 17% face ao período homólogo, e a 58% do nível de alerta da linha vermelha definida em 255 camas em UCI.
4. Estamos no "caminho para a normalidade" e esta tem um nome: endemia
Portugal aproxima-se de uma fase de endemia em relação à covid-19, altura em que se pode "iniciar um novo ciclo de infeção e de doença". Isso mesmo disse Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que falou na necessidade de se "pensar num caminho de saída".
Henrique Barros admitiu que se deve continuar a avaliar a gravidade da situação de covid-19, mas afirma: "Objetivamente, o vírus está endémico. Isto não quer dizer que não haja gravidade", disse, lembrando que malária ou tuberculose também são doenças endémicas.
"Inequivocamente vivemos uma infeção sazonal", acrescentou, comparando a situação à verificada com outros coronavírus.
O especialista indicou que "há muito que o vírus se estava a endemizar", sendo que a primeira mudança foi no comportamento da sociedade, que adotou as medidas aplicadas pelas autoridades. "Há um ano Portugal era dos países com medidas mais intensas."
5. Alívio de restrições
Este foi um tema unânime: todos os especialistas ouvidos na reunião apontaram que Portugal encontra-se numa situação favorável à revisão das medidas de controlo que estão implementadas.
Pedro Pinto Leite elencou quatro aspetos positivos que permitem que Portugal avance com o alívio das restrições para combater a covid-19.
- 1. A incidência da infeção reduziu, com tendência decrescente em todo o país.
- 2. Portugal tem uma elevada cobertura vacinal contra a covid-19, inclusive de reforço acima dos 50 anos. Esta vacinação manteve-se efetiva na redução de internamentos e de morte.
- 3. Os internamentos com covid-19 estabilizaram e a ocupação em UCI apresentou uma tendência decrescente, encontrando-se a 58% do nível de alerta.
- 4. A mortalidade por covid-19 encontra-se elevada (superior ao limiar definido pelo ECDC), no entanto com tendência estável. Atendendo à diminuição da incidência dos grupos etários mais velhos, espera-se uma redução da mortalidade na próxima semana.
Paralelamente, a médica pneumologista Raquel Duarte comparou as medidas atuais com os níveis de restrições na União Europeia e no Reino Unido e concluiu: "Portugal é um dos países que têm menos medidas restritivas, tendo apostado em medidas como o uso de máscaras". A especialista da ARS Norte apresentou dois níveis de alívio de restrições, com destaque para o fim da limitação no acesso a lojas, bares e discotecas e com a máscara a ser apenas obrigatória em espaços interiores públicos, serviços de saúde e transportes.
Mas calma...
No final da reunião de peritos no Infarmed, a ministra da Saúde sublinhou que, apesar das boas perspetivas, esta fase da pandemia é ainda de grande incerteza. Marta Temido lembrou que o número de novos casos de covid-19 segue elevado, tal como a mortalidade, e que é preciso manter a vigilância.