A escassez crítica de profissionais do INEM está a colocar o socorro em risco. Trabalhadores exaustos, horas extra por pagar e meios muito aquém do necessário tornam a resposta de emergência insuficiente, mesmo nos dias de maior afluência.
Na noite mais movimentada do ano em Lisboa, aquela em que a cidade se enche de cor, música e milhares de pessoas a celebrar o Santo António, o socorro quase não deu resposta. O INEM devia ter 20 ambulâncias operacionais na cidade. No entanto, só conseguiu garantir três.
A denúncia é feita à CNN Portugal pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Hospitalar, que alerta para uma situação "limite" na emergência pré-hospitalar. A mesma realidade crítica repetiu-se no Porto: a segunda maior cidade do país teve apenas uma ambulância do INEM disponível na sexta-feira.
"Ontem mesmo a cidade do Porto apenas tinha uma ambulância disponível. E a cidade de Lisboa, se calhar no seu dia de maior concentração de pessoas, tinha três ambulâncias disponíveis”, declarou Rui Cruz, vice-presidente do sindicato, à CNN Portugal.
Num país em festa, o socorro ficou à beira do colapso. Mas a situação não é de agora nem exclusiva às grandes cidades. A falta de profissionais - médicos, enfermeiros e técnicos - está a comprometer o funcionamento do INEM. Segundo o sindicato, Setúbal e Algarve são também zonas críticas onde o número de meios disponíveis é muito inferior ao necessário.
Um dos principais problemas, refere o vice-presidente, prende-se com o limite legal de horas extraordinárias que os trabalhadores já ultrapassaram e com a falta de autorização para o respetivo pagamento.
"A esmagadora maioria dos trabalhadores do INEM já atingiu o seu limite de horas extras há algum tempo. E muitos deles trabalham em horas extras não pagas. Acabam por fazer uma espécie de voluntariado, neste momento, para assegurar o serviço", explica.
Durante semanas, o INEM aguardou pela autorização do Ministério das Finanças para poder pagar essas horas extra e tentar manter as escalas mínimas. A aprovação só chegou esta quinta-feira, já depois de muitos técnicos se terem recusado a continuar a trabalhar sem compensação.
O cenário é agravado pelo facto de apenas 44% do quadro de pessoal do INEM estar preenchido. A entrada de 170 novos técnicos está prevista para agosto, mas não será suficiente para cobrir as falhas em todo o país, considera o Sindicato. Além disso, um novo concurso deverá abrir em julho, mas os profissionais recrutados só deverão entrar ao serviço em 2026.