Preço médio: €55.821. Você consegue comprar um carro elétrico?

31 jan 2023, 19:23
Tesla e carros elétricos (imagem Getty)

A Tesla baixou o preço de alguns dos seus modelos (10 mil euros em alguns casos) e a Ford idem. Mas há isto: na Europa um elétrico é em média 27% mais caro do que um carro a gasolina

Primeiro foi a Tesla, agora a Ford: depois da empresa número um no segmento dos veículos elétricos baixar os preços dos seus veículos um pouco por todo o mundo, chegou agora a vez de a norte-americana Ford percorrer este caminho. No entanto, o custo médio de um veículo elétrico continua fora do alcance da classe média, sendo que este já aumentou pouco mais de 14% desde 2015.

O Ford Mustang Mach-E passa agora a custar 45.995 dólares, uma redução de 900 dólares face ao preço anterior. Na versão GT Extended Range, o preço desce para os 63.995 dólares após uma queda de 5.900 dólares. A redução procura colocar estes modelos elétricos da Ford num patamar onde passam a ser elegíveis para apoios públicos, podendo estes ir até aos 7.500 dólares.

A resposta da Ford surge após a Tesla ter cortado reduzido os valores há mais de duas semanas, quando baixou os preços de vários modelos em até 20%. A redução foi aplicada a nível global e abrange reduções até 10 mil euros, no caso de Portugal. No caso do modelo base e long range do Model 3, os preços passam a ser de 44.990 euros e 52.990 euros, respetivamente (uma queda de 10 mil euros em ambos). Já no long range do Model Y, este passa a custar 53.990 euros (o custo anterior era de 66.990 euros).

Segundo o diretor-financeiro da Ford, John Lawler, a marca deixou de fazer qualquer lucro com o modelo Mach-E devido a um aumento de custos, cita a Bloomberg. Ainda assim, a empresa espera impedir a deterioração nas margens com um aumento de produção na ordem dos 67% em 2023. Contudo, estes cortes surgem numa altura em que o mercado de veículos elétricos começa a desacelerar.

Segundo Tom Narayan, analista na RBC Capital Markets, a redução de custos da Tesla vai ter um efeito dominó no resto da indústria, cita a Bloomberg. Esta decisão surge num momento em que dados apontam para uma subida incessante do preço médio de um veículo elétrico desde 2015.

O preço médio - e a comparação com os carros a gasolina

Segundo dados da consultora Jato Dynamics, o preço médio de um veículo elétrico na Europa no primeiro semestre de 2022 foi de 55.821 euros, um valor que representa uma subida de 14% desde o valor médio registado em 2015, na ordem dos 48.942 euros. O preço médio em questão não fica muito atrás do praticado no mercado norte-americano. O estudo sublinha que um elétrico nos Estados Unidos custava uma média de 53.038 euros em 2015, um número que já ronda os 63.864 na primeira metade de 2022.

Adicionalmente, na Europa um elétrico é em média 27% mais caro do que um carro a gasolina, diferença esta que escala para os 43% no mercado norte-americano.

A Europa tem feito pouco progresso no que toca à redução dos preços dos veículos elétricos, aponta o estudo. Por este motivo, os compradores continuam ainda dependentes em larga medida dos subsídios governamentais. A redução no custo dos elétricos ainda não é expressiva no mercado europeu pois as fabricantes automóveis têm concentrado os seus esforços nos modelos premium ou em segmentos nos quais não existe tanta sensibilidade no que toca ao preço.

Por outro lado, desde 2020 que se regista uma melhoria na oferta de modelos de entrada acessíveis, mas o seu custo continua elevado comparativamente aos modelos a gasolina.

Na China, a evolução tem seguido a direção exatamente oposta. Embora o custo médio de um elétrico seja equivalente a 66.819 euros em 2015, um valor superior ao praticado inicialmente tanto na Europa como nos Estados Unidos, este valor caiu para os 31.829 euros na primeira metade de 2022.

Em comparação com um carro a gasolina, um elétrico na China custa em média menos 33%. Ainda assim, o mercado chinês também registou um aumento do preço médio desde 2020, principalmente no que toca ao aumento das matérias-primas associadas à produção de baterias.

E então a classe média?

Parte do crescimento do sector automóvel na China foi alimentado pelas fabricantes europeias e norte-americanas, que migraram para o país e seguiram uma política de contenção de custos, da mesma forma que procuraram assegurar um lugar naquilo que é um dos maiores mercados do mundo. Ted Cannis, um membro executivo sénior na Ford, defende que o foco desta década irá incidir na cadeia de abastecimento, cita o Financial Times.

O motivo para esta reestruturação prende-se com vários fatores, sendo de destaque o impacto dos confinamentos durante o período de política de “covid zero”, mas também uma crescente tensão política entre a China e Taiwan.

No entanto, sendo que a China se tornou uma das principais fabricantes de componentes do sector automóvel, uma das consequências deste corte pode ser o aumento dos preços, defende Tom Narayan. Segundo o analista, se as marcas migrarem para os mesmos fornecedores a nível europeu ou norte-americano, a oferta reduz e o preço aumenta.

Para Carlos Tavares, CEO da Stellantis, é necessário “resolver o problema da acessibilidade”, de modo a garantir que a classe média tenha capacidade para adquirir veículos elétricos.

Neste sentido, a Mazda avançou estar a transferir a produção de alguns componentes fabricados na China para o Japão, enquanto a Ford e a americana General Motors têm feito o mesmo mas para os Estados Unidos. No entanto, o risco para a cadeia de abastecimento é mais elevado no caso das fabricantes alemãs - como a Mercedes, BMW e Volkswagen.

Segundo o Financial Times, as três fabricantes, ao lado da empresa do sector químico alemão BASF, representaram um terço de todo o investimento direto europeu na China entre 2018 e 2021.

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