Previsões da AutoForecast Solutions estimam que as fabricantes automóveis cortem até 2,8 mil milhões de veículos das suas linhas de produção em 2023. A ACAP garante que a crise dos semicondutores ainda se irá sentir em 2023, mas ressalva que em Portugal, ao longo deste ano, a problemática será mínima
A produção de semicondutores começou a dar os primeiros sinais de dificuldades durante a pandemia, e os problemas, ainda que com flutuações, persistem até aos dias de hoje.
De momento, a escassez de semicondutores está a afetar em particular a produção automóvel na América do Norte e na Europa, sendo que estas duas regiões compreendem as áreas mais afetadas a nível mundial, segundo estimativas avançadas pela AutoForecast Solutions. Só nesta última semana, as fabricantes europeias cortaram 15.096 veículos das suas linhas de produção, contra 29.315 na América do Norte.
Apesar destes cortes assentarem maioritariamente nestas duas regiões, a previsão do total de cortes para 2023 é ainda mais negativa. No total, a AutoForecast Solutions estima que as fabricantes automóveis cortem até 2,8 milhões de veículos das suas linhas de produção neste ano. Este número, por sua vez, representa um acréscimo superior a 2 milhões de unidades face ao número de cortes dos primeiros três meses do ano.
Segundo Sam Fiorani, vice-presidente de previsão de veículos da AutoForecast, existe uma luz ao fundo deste túnel. No entanto, a indústria automóvel ainda tem um longo caminho a percorrer, citou a publicação Automotive News.
Os dados da AutoForecast Solutions apontam ainda para um facto em particular: com exceção de um corte de 119 unidades na produção automóvel da região Médio Oriente/África, a Europa e a América do Norte são as únicas regiões afetadas nesta última semana. Isto pode ser explicado, em parte, porque a grande maioria da produção de chips está concentrada no continente asiático.
Em resposta a questões colocadas pela CNN Portugal, Hélder Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), também aponta neste sentido. Para o responsável da entidade setorial, a indústria automóvel portuguesa foi fortemente afetada pela escassez de chips, como consequência direta da pandemia. Esta situação, continua, afetou a indústria logo em 2021, tal como no ano seguinte, sendo um constrangimento que ainda se irá sentir em 2023, garante.
Por outro lado, o secretário-geral também explica que, tendo em conta a forte dependência da União Europeia face a outras regiões, sobretudo a Ásia, a Comissão Europeia está a adotar o chamado “Chips Act”, um pacote financeiro destinado a reduzir a dependência da UE nestes componentes. No entanto, Hélder Pedro defende que esta medida levará o seu tempo até ter efeitos concretos, embora ressalve que a indústria automóvel portuguesa tem sabido readaptar-se e, ao longo deste ano, a situação irá ser minimizada, garante.
Em linha com os planos anunciados pelos Estados Unidos, a Europa planeia avançar com o Chips Act, um pacote de investimento no valor de 43 mil milhões de euros de modo a preparar e antecipar a resposta a futuros constrangimentos na cadeia de abastecimento dos semicondutores. Este plano da Comissão Europeia surge em resposta não só à dependência dos chips asiáticos, mas também porque um inquérito da CE revelou que a indústria espera que a procura de chips duplique até 2030.
Entre as medidas contempladas pelo Chips Act na Europa estão investimentos em tecnologias de última geração, a promoção de capacidades e inovação em microeletrónica, parcerias internacionais, bem como um enquadramento mais favorável ao estabelecimento de fábricas na Europa. O Chips Act europeu surge também em resposta ao pacote homólogo dos Estados Unidos, Chips and Science Act. No entanto, em comparação, o Chips Act americano conta com um fundo de 50 mil milhões de dólares, além de um investimento privado adicional de quase 150 mil milhões.