O que diferencia este vento de leste, que o torna tão perigoso? Dois especialistas explicam à CNN Portugal como estes ventos estão a afetar o combate às chamas em Portugal
Numa altura em que dezenas de fogos estão a devastar Portugal, com consequências catastróficas em várias localidades do país, procuram-se explicações para a rapidez com que as chamas têm avançado. Para além da situação meteorológica de elevadas temperaturas, o comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, apontou outra causa para o aumento da severidade destes acontecimentos: "o vento do quadrante de leste".
Costuma dizer-se que “De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento” e é o que está a acontecer em Portugal neste momento, explica à CNN Portugal, Pedro Soares, investigador do Instituto D. Luiz. "É uma situação atmosférica de larga escala, que corresponde ao vento que vem predominantemente do leste da Península Ibérica, ou seja, de Espanha. Estes ventos, ao percorrerem a Península Ibérica e estarem em contacto com o solo, tendem a aquecer, fazendo com que fiquem secos e quentes”, detalha o especialista em alterações climáticas.
E o que diferencia este vento de leste, que o torna tão perigoso? “Este vento caracteriza-se por ter temperaturas elevadas e humidade baixa, que vai sendo perdida ao longo da massa continental”, esclarece ainda Pedro Soares, sublinhando que estes ventos representam uma situação atmosférica normal, embora “mais frequente no verão”.
O climatologista Mário Marques acrescenta ainda que os “ventos de leste não trazem nada que preste”. “Não são bons para os incêndios, para a agricultura e, de forma geral, para nada. Por isso se diz que não prestam”, explica também.
O especialista esclarece que os ventos descendentes e divergentes, devido à sua área de alta pressão, influenciam os ventos à superfície terrestre, que por norma são mais fortes durante a madrugada e a manhã. Acrescenta ainda que “este fenómeno ajuda a propagar e a acelerar as chamas, sobretudo em períodos noturnos, quando os meios no terreno são mais reduzidos”.
Mário Marques diz que estes ventos são sempre secos, “embora sejam diferentes dependendo da estação do ano, já que, enquanto no verão são considerados quentes, no inverno tendem a ser mais frios”.