Cinco anos depois: vítimas dos fogos de Pedrógão Grande ainda necessitam de apoios de saúde mental

Agência Lusa
17 jun 2022, 09:11

O incêndio deixou "marcas densas, emocionalmente marcantes para as comunidades, que ainda subsistem de uma forma muito intensa, apesar de todo o trabalho e apoio que se tem desenvolvido”, dizem os especialistas

Cinco anos depois dos incêndios de Pedrógão Grande, muitas das pessoas que viveram direta ou indiretamente a tragédia continuam a ser acompanhadas pela equipa de saúde mental de Leiria/Norte do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A equipa, segundo a coordenadora Ana Araújo, acompanha dezenas de pessoas e ainda continua a receber pacientes que, “eventualmente, não começaram o processo terapêutico e psicofarmacológico de tratamento desde o início desta tragédia”.

Em declarações à agência Lusa, a especialista anunciou a realização de um estudo sobre o trabalho efetuado nestes cinco anos, que será desenvolvido no próximo ano, “do ponto de vista da recolha e análise de dados”.

Salientando que será um “estudo demorado”, Ana Araújo explicou que vão ser selecionados grupos de pessoas que já eram acompanhadas, “mas que foram vítimas diretas ou indiretas da situação”.

“E, obviamente, as que não acompanhávamos e passámos a acompanhar”.

A tragédia de 17 de junho de 2017 causa impactos por altura de mais um aniversário, “que são marcas densas, emocionalmente marcantes para as comunidades, que ainda subsistem de uma forma muito intensa, apesar de todo o trabalho e apoio que se tem desenvolvido”.

Segundo a coordenadora, os efeitos da tragédia são transversais a todas as faixas etárias, “porque as pessoas e as famílias são sempre próximas umas das outras e todos sofreram um impacto, familiares e amigos muito próximos”.

No entanto, as pessoas com mais idade “sentiram mais de uma forma traumática, com perdas de bens ou de pessoas amigas e das suas relações”.

“De facto, foram as que sentiram um impacto mais intenso”, sublinhou.

De acordo com Ana Araújo, “os jovens e as crianças também viveram a tragédia à sua maneira”.

“Mas penso que ultrapassam pela proteção que lhes foi estabelecida e pelas suas dinâmicas psicoemocionais”.

Depois dos incêndios, a equipa de saúde mental de Leiria/Norte do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra tem mantido consultas semanais em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Ansião.

Ana Araújo salientou que a consulta funciona de terça a sexta-feira, com uma média de 10, 12 pessoas por dia.

“No primeiro ano após a tragédia eram mais pessoas, porque também tinha mais colegas a trabalhar comigo, mas, neste momento, tenho ideia de que o número de atendimentos se tem mantido estável”, sustentou.

A pandemia da covid-19, que assolou o país desde março de 2020, agravou o sofrimento, sobretudo das pessoas de idade, devido ao isolamento a que estiveram sujeitos.

“Não poderem visitar pessoas que estavam nos lares e nos centros de dias, que tiveram de encerrar, aumentou obviamente o sofrimento das pessoas”, sublinhou Ana Araújo.

Os incêndios que deflagraram em junho de 2017 em Pedrógão Grande e que alastraram aos concelhos vizinhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos a 253 populares, sete dos quais graves.

Os fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

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