Factos Primeiro: incendiários são uma pequena parte das causas do fogo? E a maioria dos causadores são idosos?

13 jul 2022, 22:00
Incêndio em Andrinos, Leiria (Nuno André Ferreira, Lusa)

Já há 50 detidos por causar incêndios este ano: são na sua maioria homens, com mais de 60 anos. Os números da GNR não deixam margem para dúvidas: mais de 80% das detenções referem-se a ocorrências de incêndio fruto de negligência

Este ano, já foram detidas pela GNR 50 pessoas por suspeita de terem provocado um incêndio em Portugal: 43 das quais são homens e a maioria tem idade acima dos 60 anos. Dos 50 detidos, apenas sete são suspeitos de terem praticado um ato doloso (ou seja, com intenção de iniciar um incêndio), os restantes foram negligentes. Isto é, mais de 80% das detenções referem-se a ocorrências de incêndio fruto de negligência.

De acordo com dados cedidos à CNN Portugal pela GNR, dos 43 detidos por negligência até 12 de julho (terça-feira), 9 têm menos de 50 anos, 11 têm entre 51 e 60 anos, 11 estão na faixa etária 61-70 anos, 11 têm entre 71 e 80 anos e há ainda um que tem mais de 81 anos.

Ou seja, tal como o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, tinha dito à TVI, cerca de "50% daqueles que estão identificados como causadores de incêncios são pessoas de idade [com idade acima dos 61 anos] e fizeram-no sem dolo, julgando que não poderiam causar efeito nocivo".

Os dados da GNR confirmam também aquilo que o primeiro-ministro António Costa disse no início da semana: “os incendiários são uma parte pequena” das causas de incêndio. "Há esse fenómeno do incendiarismo e de pessoas que, por razões diversas, provocam incêndios", admitiu Costa, destacando "o trabalho da Polícia Judiciária de altíssima qualidade" no sentido de combater este crime. No entanto, ressalvou, "o grosso dos incêndios decorre não desses incendiários, mas de pessoas como nós que, por descuido (...) inadvertidamente, irresponsavelmente, provocam os incêndios". "Trata-se de negligência - por uso de máquinas, devido a uma beata deitada no chão ou consequência de um churrasco", exemplificou.

Os atos negligentes não estão especificados nesta estatística provisória da GNR, mas o Relatório Provisório de Incêndios Rurais, do Instituto de Conservação da Natureza, dava conta que as causas mais frequentes dos incêndios em 2021 foram: uso negligente do fogo (47%) e o incendiarismo - imputáveis (23%). No caso de negligência, com relevância para as queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas (20%), queimadas de amontoados de sobrantes florestais ou agrícolas (10%) e queimadas para gestão de pasto para gado (14%). Outras causas acidentais estão relacionadas com transportes e comunicação e com o uso de maquinaria.

Os distritos onde foram feitas mais detenções este ano foram Viseu (11) e Vila Real (10), seguidos de Guarda (7), Leiria e Santarém (4 cada).

Até agora, foram detidos quase tantos suspeitos quanto em todo o ano passado, quando foram feitas 52 detenções no total.

Incêndios são na sua maioria causados por "mão humana"

Em 2021, a GNR elaborou 4740 autos de contraordenação relacionados com a proteção florestal (por violação das normas vigentes, nomeadamente proteção do edificado ou aglomerados populacionais, queimadas e queimadas e utilização de maquinaria), foram registados 4860 crimes de incêndio florestal e identificados 857 cidadãos considerados suspeitos.

Destes incidentes, uma parte acabou por chegar ao Ministério Público. De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna, em 2021, tiveram início 1.410 inquéritos por incêndio florestal. Foram constituídas arguidas 124 pessoas, tendo sido detidos 52 indivíduos e ficado 23 em prisão preventiva. Os detidos eram, na sua maioria, do sexo masculino (46). E também no ano passado a maior parte dos detidos (38) foi por atos de negligência.

Nem todos os incêndios são investigados, mas daqueles que foram investigados conclui-se que, tal como afirmou António Costa, a maioria tem "uma mão humana", que "voluntariamente ou por distração" os provocou, o que dá ainda mais importância a todos os avisos que têm sido feitos para, durante este período de alerta, evitar qualquer tipo de atividade, mesmo que aparentemente inofensiva, em zonas florestais: "Somos nós cidadãos comuns e somos nós que temos que fazer este trabalho fundamental para evitar incêndios e evitar que estes homens e mulheres tenham que atuar”, vincou Costa.

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