Bombeiros portugueses partiram para o Chile sem equipamento complementar de proteção. Liga de Bombeiros e Associação de Proteção Civil criticam opção

16 fev 2023, 14:22
Incêndio em Viña del Mar (EPA)

Em causa, está a ausência de Fire Shelters, que agem como "carapaças" para proteger os bombeiros em situações em que enfrentam um incêndio complicado e não há possível escapatória. De acordo com fonte do ICNF, o material "encontra-se a ser transportado para junto da força operacional no Chile"

Uma equipa de cerca de 30 bombeiros sapadores florestais recentemente formados partiu em missão para combater os incêndios no Chile sem equipamentos de proteção de última linha, gerando críticas da Liga dos Bombeiros Portugueses que sublinha que a sua capacidade de intervir foi colocada em causa.

Esta equipa, tutelada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), partiu no sábado à noite incluída no contingente de 144 operacionais portugueses que está neste momento a ajudar a combater os incêndios que assolam o Chile há vários dias e já consumiram 309 mil hectares. 

Os bombeiros chegaram ao país sul-americano no domingo e, nessa altura, ainda não tinham recebido Fire Shelters, abrigos contra as chamas que os bombeiros usam em último recurso quando ficam presos pelos incêndios, confirmou a CNN junto de fonte do ICNF.

Bombeiros portugueses em ação no Chile/ D.R

 

A mesma fonte salienta que os abrigos de proteção para o fogo são um “equipamento complementar” que foi adquirido pelo ICNF “e se encontra a ser transportado para junto da força operacional no Chile”. “Esta circunstância foi previamente articulada com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC)”, sublinha a mesma fonte.

No entanto, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses refere que a ANEPC e o ICNF, ao enviarem os seus bombeiros sem este equipamento, “arriscaram a sua inoperacionalização”. “O problema que se levanta é que sem esse equipamento não conseguem intervenção”. 

Se porventura os operacionais estiverem perante um incêndio complicado e não houver possibilidade escapatória, explica o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, estes abrigos "funcionam como uma espécie de carapaça" para os proteger. 

Por isso, António Nunes aponta à autoridade falhas na designação dos elementos que compõem esta missão e que entrou em ação na terça-feira na zona de Concepción. “Quer a GNR, quer as unidades de Proteção Civil, quer os bombeiros estavam prontos para intervir, só por vaidade é que se envia este corpo sem preparação”, afirma. 

Esta equipa de Bombeiros Sapadores Florestais do ICNF é relativamente recente e a conclusão da sua formação aconteceu em abril do ano passado. António Nunes sublinha que “não faz sentido” colocar esta equipa no terreno numa altura em que não têm todo o equipamento e salienta que, se as autoridades requisitassem um elemento de cada corpo de bombeiros do país conseguia ativar “434 operacionais com dezenas de anos de experiência”. O facto de não o fazer, critica, “só tem uma explicação, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil não gosta dos bombeiros”.

Quem acompanha o coro de críticas à ANEPC é João Paulo Saraiva, presidente da APROSOC - Associação de Proteção Civil, que alerta para a perigosidade desta missão e ataca a “politização partidária” à volta dela. Isto “possibilita por exemplo que elementos que nunca tenham antes estado no combate a incêndios daquela complexidade, sejam enviados para a morte, devido à sua inexperiência e ausência de equipamento de proteção individual”, afirmou.

Já o ICNF ouvido pela CNN Portugal argumenta que todos os seus elementos que integram a força conjunta no Chile “possuem a formação e a experiência adequadas ao cumprimento da missão em que participam, designadamente experiência real em ocorrências de incêndios rurais”.

Por seu lado, contactada esta quarta-feira a ANEPC remeteu explicações para o ICNF, mas na manhã desta quinta-feira, em nota à comunicação social, garantiu que os operacionais estão “equipados para as funções que se encontram a desempenhar” e encontram-se a cumprir “as missões atribuídas de forma exemplar e altamente competente”.

Referindo que o trabalho da missão conjunta tem sido alvo de “inúmeros elogios sobre a sua atuação e organização”, fonte da ANEPC reforça que “todos os elementos que integram a Força Operacional possuem a formação e a experiência adequadas ao cumprimento da missão em que participam, designadamente experiência em ocorrências de incêndios rurais”.

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