Operação começa no Báltico, em portos russos como os de Primorsk e Ust-Luga. Daí, partem petroleiros denominados “aframax”, com capacidade para transportar até 800 mil barris de petróleo. Chegados ao redor das Canárias, estes navios procedem à transferência do crude para petroleiros maiores
Uma boa parte da comercialização de petróleo russo está a passar perto das Ilhas Canárias, escreve o El País, que cita dados da empresa de intelligence Vortexa.
Segundo o jornal espanhol, devido à intenção da Comissão Europeia em proibir as transferências ship-to-ship (navio para navio) nas águas do Mar Mediterrâneo, particularmente ao redor de Ceuta, as operações decorrem agora no Atlântico, muito perto das Ilhas Canárias. O periódico estima que 10% do total das exportações de petróleo russo passem por estas águas.
A operação começa no Báltico, em portos russos como os de Primorsk e Ust-Luga. Daí, partem petroleiros denominados “aframax”, com capacidade para transportar até 800 mil barris de petróleo. Chegados ao redor das Canárias, estes navios procedem à transferência do crude para petroleiros maiores, os VLCC (Very Large Crude Carrier, em inglês).
O diário espanhol dá o exemplo do “aframax” Crius, registado no Panamá, que transferiu, no dia 28 de abril, cerca de 600 mil barris de crude para o petroleiro Eliza II, que se encontra atualmente na costa da Serra Leoa e a caminho da Ásia. As imagens de satélite verificadas pelo El País permitem também confirmar a presença de outro grande petroleiro, o Lauren II, a sul da Isla del Hierro, a mais austral do arquipélago espanhol.
Apesar de Espanha estar aqui ao lado, estas transferências estarão a acontecer longe da costa portuguesa. À CNN Portugal, o comandante João Fonseca Ribeiro refere que é “pouco provável” que estas decorram quer na Zona Económica Exclusiva da Madeira, quer mesmo na ZEE das Ilhas Canárias. Segundo o coordenador do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES, caso estas trocas ocorressem na ZEE de um destes dois países, as marinhas espanhola e portuguesa poderiam apreender os navios envolvidos, dado que as trocas comerciais nas zonas económicas exclusicas estão sujeitas a impostos. “Seria um risco muito grande”, sublinha o comandante, sobre a possibilidade destas operações não declaradas ocorrerem.
Segundo a Bloomberg, a exportação de crude russo por via marítima atingiu um máximo histórico de 3,72 milhões de barris por dia em maio, um dado que acompanha o aumento das importações deste produto por parte de China, Índia e Turquia, responsáveis pela compra de 97% do petróleo russo exportado por via marítima.
Os novos maiores parceiros não chegam, contudo, para compensar a perda de receitas com a interrupção de grande parte do fornecimento à Europa: de acordo com a Agência Internacional de Energia, citada pelo El País, as receitas da venda de petróleo caíram 40% em fevereiro deste ano face ao mesmo mês de 2022.