"Deus não é homem nem mulher". Igreja Anglicana quer deixar de se referir a Deus no masculino

10 fev 2023, 13:36
Protesto da Igreja Anglicana em Londres (Getty Images)

 

 

Debate "não é novo", mas o porta-voz da Igreja de Inglaterra diz que alterações não podem ser feitas "sem uma legislação extensa"

A Igreja Anglicana quer deixar de se referir a Deus no masculino e, para isso, criou uma comissão onde se vai debater o tema que, dizem, "não é novo" no seio da igreja.

"Isto não é novidade. Os cristãos têm reconhecido desde os tempos antigos que Deus não é nem homem nem mulher, no entanto, a variedade de formas de abordar e descrever Deus encontrada nas escrituras nem sempre se refletiu no nosso culto. Tem havido um maior interesse em explorar novas línguas desde a introdução das formas atuais de liturgia na língua contemporânea, há mais de 20 anos. Não existem planos para abolir ou rever substancialmente as liturgias atualmente autorizadas e não poderiam ser feitas tais alterações sem uma legislação extensa", afirmou um porta-voz da Igreja de Inglaterra, citado pelo The Guardian.

O Sínodo Geral da Igreja Inglesa, que se reuniu esta semana, debateu a ideia mas, de acordo com o The Guardian, não se vislumbram quaisquer mudanças nos próximos tempos. No entanto, o assunto voltará a ser debatido na primavera, na nova reunião do Sínodo. 

Caso venha a ser aprovada esta alteração pelo Sínodo, isso marcará uma mudança com mais de mil anos. Em declarações ao jornal britânico, o bispo de Lichfield e vice-presidente da comissão litúrgica responsável pelo assunto, o reverendo Michael Ipgrave, confirmou que a igreja tem estado "a explorar o uso da linguagem de género em relação a Deus ao longo de vários anos".

"Após algum diálogo entre as duas comissões nesta área, um novo projecto conjunto sobre linguagem de género terá início esta primavera. Em comum com outras potenciais alterações à disposição litúrgica autorizada, a alteração da redação e do número de formas de absolvição autorizadas exigiria um processo sinodal completo para aprovação", afirmou o bispo.

Desconhecem-se, no entanto, quais os contornos deste projeto e como é que os termos "Pai Nosso", figura central da Igreja, seriam alterados para as gerações posteriores.

A ala mais conservadora da Igreja já criticou a possibilidade da mudança, com o reverendo Ian Paul a afirmar ao Telegraph que as alterações significariam um abandono da própria doutrina da Igreja.

"O facto de Deus ser chamado 'Pai' não pode ser substituído por 'Mãe' sem mudar de significado, nem pode ser neutralizado em termos de género para 'Pai' sem perda de significado. Pais e mães não são substituíveis, mas relacionam-se com os seus descendentes de maneiras diferentes".

Casamento entre pessoas do mesmo sexo passa a ser abençoado pela igreja

O debate sobre a linguagem inclusiva surge na mesma altura em que o Sínodo Geral aprovou que casamentos entre pessoas do mesmo sexo sejam abençoados pela Igreja de Inglaterra. 

Em comunicado divulgado online, a Igreja Anglicana explica que "o Sínodo Geral da Igreja de Inglaterra acolheu propostas que permitiriam aos casais do mesmo sexo vir à igreja após um casamento civil ou parceria civil para dar graças, dedicar o seu relacionamento a Deus e receber a bênção de Deus".

Ou seja, a decisão significa que os casais do mesmo sexo que se tenham casado civilmente poderão agora participar nos serviços da igreja anglicana.

"Tem sido um longo caminho para chegar até aqui. Pela primeira vez, a Igreja de Inglaterra acolherá publicamente, com alegria e sem reservas, casais do mesmo sexo. A Igreja continua a ter diferenças profundas sobre esta questão, diferenças que tocam o próprio coração da identidade humana. Como arcebispos, comprometemo-nos a respeitar as consciências de todos aqueles para quem acreditamos ter ido longe demais [com a decisão], e a assegurar que recebam o conforto e a afirmação necessários para manter a unidade da Igreja à medida que avançamos nestas conversas", afirmou o arcebispo da Cantuária, Justin Welby.

Os bispos têm agora até julho para elaborar um projeto final da bênção para os casais do mesmo sexo, sendo que a resolução dá liberdade a cada paróquia para decidir se dá ou não a benção, embora vários bispos tenham pedido que, se não o fizerem, o divulguem de forma pública a fim de evitar situações constrangedoras para casais do mesmo sexo que queiram participar nos serviços religiosos.

Europa

Mais Europa

Patrocinados