Para a secretária-geral da AHRESP, "a solução para a escassez de trabalhadores no turismo não é uma via de sentido único, mas sim uma responsabilidade partilhada por todos e é preciso agir em várias frentes".
A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) acredita que a "imigração faz parte de uma solução abrangente de medidas" para mitigar a falta de recursos humanos no turismo, diz à Lusa a secretária-geral.
A falta de recursos humanos é transversal a vários setores, nomeadamente no turismo, com a hotelaria e restauração em destaque.
Questionada sobre que medidas propõe a associação para atrair profissionais que estejam fora de Portugal, Ana Jacinto sublinha que a "AHRESP tem vindo a apresentar uma série de medidas, concretamente, na 'Conferência Mercado de Trabalho – Que profissionais teremos amanhã', realizada em abril deste ano, no sentido de propor soluções para um problema que penaliza, e de sobremaneira", os seus associados (ou o setor do turismo e da restauração).
Contudo, "naturalmente que nos congratulamos com os passos dados pelo Governo", acrescenta a secretária-geral da AHRESP, "nomeadamente na agilização dos vistos para os imigrantes oriundos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)".
Isto "porque acreditamos que a imigração faz parte de uma solução abrangente de medidas para mitigar a escassez de recursos humanos para o turismo", remata Ana Jacinto.
"Como a AHRESP tem vindo a alertar, estamos confrontados com a escassez de recursos humanos disponíveis para trabalhar", salienta a responsável, apontando as estatísticas recentemente divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) do emprego relativas ao segundo trimestre deste ano.
Questionada sobre quantos trabalhadores estimam que falte no setor da hotelaria e restauração em Portugal, Ana Jacinto refere que, de acordo com o INE, "as atividades da restauração, similares e do alojamento turístico registaram um total de 258.000 trabalhadores" no entre abril e junho, o que se traduziu "num aumento de 4,7% face ao segundo trimestre" do ano passado.
No entanto, "comparativamente ao segundo trimestre de 2019, regista-se uma perda de 61.200 postos de trabalho".
Ora, "estes números oficiais demonstram, inequivocamente, o grave problema de ausência de recursos humanos disponíveis para trabalhar na restauração, similares e alojamento turístico", alerta a secretária-geral da AHRESP.
"Não se trata de desemprego, mas sim do desvio de milhares de trabalhadores para outras atividades económicas, como consequência da pandemia covid-19", pois durante dois anos "houve inúmeras restrições à atividade, com dois períodos de encerramento obrigatório, criando incertezas quanto à estabilidade do emprego, e das especificidades de trabalho intrínsecas ao setor da restauração e similares", ou seja, os horários de funcionamento repartidos entre almoço e jantar, o trabalho à noite e aos fins de semana, argumenta.
Ana Jacinto cita ainda a análise recente do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC na sigla em inglês), que aponta que "50 mil postos de trabalho podem ficar por preencher no setor de viagens e turismo em Portugal se não forem tomadas medidas urgentes".
Para a secretária-geral da AHRESP, "a solução para a escassez de trabalhadores no turismo não é uma via de sentido único, mas sim uma responsabilidade partilhada por todos e é preciso agir em várias frentes".
Nesse sentido, "é fundamental que as empresas tenham capacidade para gerar riqueza, para poderem oferecer melhores condições aos seus colaboradores, pois apesar da retribuição financeira não ser o único tópico a ter em conta no leque de soluções para o problema, é sem dúvida um ponto incontornável", sublinha a responsável.